O Grito dos
Excluídos e Excluídas, fruto de um processo da Primeira Semana Social
Brasileira e de articulação das Pastorais Sociais, um grito por cidadania, está
completando 30 anos. Em 2024, o tema é “Vida em Primeiro Lugar! Todas as formas
de vida importam, mas quem se importa?”
A arquidiocese
de Manaus, que nesta quinta-feira 29 de agosto fez o lançamento, irá realizar o
Grito na tarde do dia 5 de setembro, Dia da Amazônia, com concentração na Praça
da Saudade às 15 horas, e posterior caminhada até a Praça da Matriz, tendo como
foco principal as melhorias urgentes na saúde pública do Amazonas. Um trajeto
escolhido devido ao grande fluxo de pessoas que se espera naquele momento na
região central de Manaus.
Segundo o
bispo auxiliar de Manaus, dom Zenildo Lima, “a gente não compreende o Grito dos
Excluídos somente como um manifesto, senão como uma argumentação bastante
sedimentada, fruto de reflexão, fruto de participação popular, fruto de escuta”.
Ele insistiu em que “o Grito dos Excluídos acaba se tornando uma grande
expressão da caminhada processual”, não só da Igreja católica, dos movimentos
sociais e dos povos tradicionais em vista do bem viver, algo que levou o bispo
auxiliar a definir o Grito dos Excluídos como “capacidade de resistência das
forças organizadas”, diante do comprometimento dos processos democráticos e de
uma situação comprometedora, inclusive assustadora e avassaladora, o que
demanda reação das forças sociais.
O Grito tem
caráter ecuménico e interreligioso, em vista de demandas de cidadania, do bem
comum e do bem viver, ressaltou o bispo. Ele relacionou o Grito com a Campanha
da Fraternidade deste ano, “Fraternidade e Amizade Social”, respeito da “fragilidade
das diversas formas de existência humana”, levando a refletir sobre a cultura
do descarte que ameaça a amizade social. “Não há uma preocupação, um interesse
real pela vida das pessoas, existem categorias humanas, que, dentro de uma
lógica de mercado e de consumo, são consideradas descartáveis, a vida dessas
pessoas não importa”, disse comentando o tema do Grito dos Excluídos. Ele
questionou quem está se importando realmente com migrantes, com populações em situação
de rua, com pessoas LGBT, com populações indígenas, com a vida da nossa casa
comum.
Na arquidiocese
de Manaus, o Grito dos Excluídos é coordenado pela Caritas, e seu vice-presidente,
o padre José Alcimar Araújo, destacou que “o Grito dos Excluídos nunca saiu das
ruas e das praças”, denunciando que “nos últimos anos, vimos um retrocesso
muito grande nos nossos direitos”, com o desmantelamento dos órgãos de
fiscalização. Isso demanda gritar e dizer “como cidadãos, como homens e
mulheres de direitos, que muita coisa precisa ser mudada”, relatando situações
concreta que mostram isso em Manaus, e que “complica a vida do nosso povo”,
naquilo que tem a ver com saúde, educação e segurança, denunciando o controle
que exerce o crime organizado nas periferias.
O
vice-presidente da Caritas Manaus sublinhou que “em vez de avançar, parece que
a gente está retrocedendo, o mal está mais organizado, o mal tem mais dinheiro
e o mal se expande com mais facilidade”, fazendo um chamado a refletir sobre a
dispersão das forças do bem. Um grito profundo que “nasce do sofrimento, que
nasce da dor, que nasce da exclusão, que nasce inclusive dos descartáveis”, que
“não terão lugar nunca se não mudar o nosso modo de construir a sociedade e
organizar a sociedade”, algo que tem a ver com a economia, distribuição dos recursos
e o acesso aos direitos básicos.
Falando
sobre a saúde do Estado do Amazonas, o padre José Alcimar Araújo denunciou a
negligência do governo estadual, citando exemplos disso que mostram a má
administração e provocou a morte de muitas pessoas, especialmente no tempo da
pandemia, quando muitos morreram pela negligência do poder público. Diante
disso, afirmou que “como cidadãos temos o direito e o dever de cobrar àqueles
que nós colocamos no poder”.
A
pouca participação no Grito dos Excluídos, levou o padre Alcimar a dizer que, mesmo todos sendo
convocados, “infelizmente, a nossa concepção de fé, ela é muito religiosa, nós
temos que ultrapassar os muros da religião, entender que a fé é uma postura de
vida, é uma maneira de ser, e o nosso modelo de fé é Jesus”, que estava e se
importava com os pobres e os pequenos, os considerados impuros e pecadores.
A
representante da Igreja católica no Conselho Estadual de Saúde e coordenadora
das Pastorais Sociais da arquidiocese de Manaus, Guadalupe Peres, que se disse
defensora ferrenha do SUS, denunciou a falta de medicação essencial, a carência
de especialidades médicas, as longas filas de espera para as consultas e
procedimentos. Ela pediu melhores gestores no SUS e as tentativas
de acabar com o SUS com o impulso de planos de saúde particulares, que também
não funcionam. Para resolver essa situação foi lançado um abaixo assinado que
será entregue às autoridades e aos poderes de fiscalização. Igualmente falou
sobre a fumaça em Manaus, consequência de incêndios criminosos, e como isso
atinge a saúde, especialmente das crianças e dos idosos, algo que ninguém toma
providências.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 - Fotos: Ana Paula Lourenço
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