Na Solenidade da Imaculada Conceição, o arcebispo de
Manaus, cardeal Leonardo Steiner, iniciou sua homilia lembrando que “a Palavra
de Deus a nos indicar o cuidado de Deus para conosco”. Segundo ele, “com o
anúncio do anjo se cumprem as promessas antigas, as rogações das gerações são
ouvidas, a esperança se acende entre a humanidade, se anuncia o nascer do
Principe da Paz.”
O arcebispo ressaltou que “na Solenidade da Imaculada
Conceição no tempo do Advento, fazemos memória das maravilhas que Deus operou
na humanidade e, por isso, em Nossa Senhora. Entre as admiráveis ações de Deus
está a sua Imaculada Conceição que a Igreja ao iniciar os preparativos do Santo
Natal, celebra e bendiz.”
Analisando a primeira leitura, o cardeal disse que “ouvíamos
e víamos como Deus sai a procura. Ele sempre procura, principalmente quando
seus filhos e filhas se afastam. Logo que Adão comeu da fruta da árvore e se
afastou, se escondeu, Deus o procura e chama: ‘Onde estás?’ (Gn 3,9). O distanciamento,
o escondimento de Adão, é motivo da busca: Onde estás? É a busca, o apelo de um
Pai, para que seu filho perdido retorne à casa paterna. Ele que o gerou, deseja
que permaneça ao alcance de seu amor.”
“Deus, fiel a si mesmo corre atrás daquele que Ele
gerara para ser seu filho predileto. Ao homem que lhe dá as costas, Deus
oferece o seu semblante, para que ele volte e permaneça face a face com Ele,
para gozar da afeição de sua intimidade. A história do pecado não acaba com a
relação do homem com Deus. Deus não se afasta, mas se aproxima sempre: Onde
estás? Sempre que nos afastamos Ele nos busca: Onde estás?”, disse o presidente
do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil.
Segundo ele, “a procura de Deus, o desejo de
permanecer junto a seus filhos e filhas, se manifesta no Evangelho com a
saudação do anjo Gabriel: ‘Alegra-te, cheia de graça, o Senhor está contigo!’
Alegra-te, agraciada, o Senhor está contigo (Lc 1,28). Procura, Deus se faz
nova presença! Uma presença na nossa humanidade e fragilidade. Se faz um de nós
em Maria”.
“Maria é saudada pelo Arcanjo como a ‘cheia de graça’.
‘Cheia de graça’, significa: ‘Deus é contigo!’”, disse o cardeal. Ele lembrou
que “Santo Agostinho acrescenta à saudação angélica: ‘Mais que contigo, Ele está
em teu coração, se forma em teu seio, enche o teu espírito, enche o teu ventre’.
Mais próximo Deus não poderia ser que fazer-se presença no ventre de Maria: no
coração, no ventre. Aquele que tudo criara, de tudo cuidava, tudo harmonizava,
agora feito humanidade, sendo gerado no ventre da Mulher.”
O cardeal enfatizou que “a Solenidade hoje celebrada
está profundamente ligada a essa procura de Deus por cada um de nós. E para que
pudesse permanecer na proximidade e melhor encontrar-nos, faz-se um de nós,
como nós, buscando uma mulher na qual pudesse revestir-se de nossa humanidade.
Uma mulher que recebesse Aquele que é sem pecado”. Citando João Duns Scotus,
ele disse: “Há no céu santos que nunca foram inimigos de Deus em ato, por um
pecado atual, como aconteceu com os santos inocentes; e muitos outros que, às
vezes, foram inimigos de Deus, como os que pecaram mortalmente, e depois
fizeram penitência. Há também ali a Bem-aventurada Virgem Mãe de Deus, a qual
nunca foi inimiga de Deus, nem em ato em razão de um pecado atual, nem em razão
do pecado original.” Ele enfatizou: “Sim, a Imaculada. Aquela que foi concebida
sem pecado, para que pudesse conceber a Deus que resgata e liberta no seu amor.”
“Se Jesus, o Filho de Deus, que se tornou Filho do
Homem, o Verbo que se fez carne, foi o primeiro a ser pensado e querido por
Deus em sua intenção criadora, Maria, em virtude de ou com sua união com
Cristo, foi a primeira a ser pensada por Deus entre os redimidos por Cristo. Em
virtude de sua destinação à maternidade divina ela foi concebida sem a mácula
do pecado: daí o título ‘i-maculada concepção’. O privilégio da pureza
original, é em vista de sua nobre e divina missão: ‘Eis que conceberás no
ventre e darás à luz um filho...’”, disse o cardeal.
Lembrando as palavras de Fernandes e Fassini, o
cardeal disse que “ela já tinha concebido o Messias no seu espírito, pensamento
e desejo, principalmente através da meditação das grandes promessas
messiânicas. Agora, o conceberia no corpo, no seu ventre. Ela já o gerava na
alma; agora o geraria no seu útero. Ela já estava disposta a dá-lo à luz,
espiritualmente; agora lhe cabia a incumbência de dá-lo à luz, corporalmente.
Ela, que estava sempre de prontidão na espera do Deus que vem, agora o traria
em seu corpo e o mostraria ao mundo unido à carne de nossa humanidade. Nela, o
Filho de Deus se faz carne, a carne de nosso ser.”
Nas palavras de Paulo aos Efésios, o cardeal enxerga “a
procura de Deus, o cuidado de Deus, o amor de Deus”, afirmando que “esse hino
das ‘Bênçãos espirituais em Cristo’, nos recorda de que em Jesus somos filhos e
filhas adotivos. É nesse hino que encontramos a mais claro e precioso sentido
do que é ser Igreja, o sentido da maternidade Maria e o sentido de sermos
cristãos.”
Acrescentando, o cardeal Steiner destacou que “Paulo
nos ensina a perceber a eleição e a consagração como fonte comum para todos os
homens, toda Igreja. Nesse sentido a Igreja, as nossas comunidades, será sempre
santa, imaculada, por causa de seu fundamento, Jesus, mas, pecadora por causa
de nós, seus membros. Podemos e devemos dizer que a Igreja é a nova Maria da
humanidade. Assim como o seio da Virgem Maria serviu para gerar o novo humano,
na Pessoa do Filho de Deus, Jesus, agora, a Igreja - através dos seus fiéis - é
eleita, chamada e enviada para ser o grande útero da nova humanidade; aquela
que deve gerar os novos filhos de Deus e para Deus. Assim, Aquele era Filho ‘natural’,
esses filhos ‘adotivos’ de Deus (Ef 1,5). Mas, sempre filhos como Aquele, com
os mesmos direitos, dignidade, honra, privilégios, vocação, missão e deveres.”
“Por isso, o texto de hoje, fazendo eco a tudo o que
vimos na primeira leitura e no Evangelho, termina nos assegurando que ‘Nele
também nós recebemos a nossa parte. Segundo o projeto daquele que conduz tudo
conforme a decisão de sua vontade, nós fomos predestinados a ser, para o louvor
de sua glória, os que de antemão colocaram sua esperança em Cristo’”, citando
de novo Fernandes e Fassini.
Nas palavras de Papa Francisco, o cardeal afirmou que “ao
meditar o Evangelho de hoje nos indica dois modos de participarmos de nos
aproximarmos de Maria e por isso de nos reaproximarmos de Deus que sempre está
à nossa procura: a admiração e a fidelidade. O evangelista Lucas nos
dizia que Nossa Senhora ‘ficou muito perturbada e interrogava-se sobre o
significado dessas palavras’ (v. 29). Ele nos ensina que ela ficou
surpreendida, impressionada, perturbada: ficou espantada quando lhe chamam ‘cheia
de graça’. Nossa Senhora é humilde, é cheia do amor de Deus. É uma atitude
nobre: saber maravilhar-se com os dons de Deus, sem nunca os dar por certos,
apreciando o seu valor, alegrando-nos com a confiança e a ternura que eles
trazem. E é também importante testemunhar essa admiração perante os outros,
falando humildemente dos dons de Deus, do bem recebido. Somos capazes de
admirar as obras de Deus? No maravilhar-se e partilhamos com os outros as
belezas dos dons?”
O segundo modo, lembrou o arcebispo de Manaus: “a fidelidade!
Fidelidade nas coisas simples. No Evangelho, Nossa Senhora é encontrada como
uma jovem simples, aparentemente igual a tantas outras que viviam na sua
aldeia. Uma jovem que, precisamente graças à sua simplicidade, conservou puro
aquele Coração Imaculado com o qual, pela graça de Deus, foi concebida. Para
acolher a procura que Deus faz em seu amor, acolher os dons que Ele nos
oferece, é melhor perceber o simples, pequeno. Nesses modos nos deixamos
alcançar por Deus e viver da palavra e da vida de Jesus”.
“Alegremo-nos por celebrarmos a Imaculada Conceição, a
cheia de graça, a Mãe de Deus! Alegremo-nos e agradeçamos por Deus, em Nossa
Senhora, continuar a nos buscar para permanecermos nas cercanias de seu amor”,
pediu o presidente do Regional Norte1.
Ele encerrou sua meditação convidando a rezar com São
Francisco: “Salve, ó Senhora santa, Rainha santíssima, Mãe de Deus, ó Maria,
que sois Virgem feita Igreja, eleita pelo santíssimo Pai celestial, que vos
consagrou por seu santíssimo e dileto Filho e o Espírito Santo Paráclito! Em vós
residiu e reside toda a plenitude da graça e todo o bem! Salve, ó palácio do
Senhor! Salve, ó tabernáculo do Senhor! Salve, ó morada do Senhor! Salve, ó
manto do Senhor! Salve, ó serva do Senhor! Salve, ó Mãe do Senhor, e salve vós
todas, ó santas virtudes derramadas, pela graça e iluminação do Espírito Santo,
nos corações dos fiéis transformando-os de infiéis em servos fiéis de Deus!”.
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