Migrantes venezuelanos em Roraima - Foto divulgação |
Uma corrente de xenofobia parece ter se instalado na
sociedade mundial. Os discursos de alguns políticos cada vez têm mais
repercussão numa sociedade que vai endurecendo seu coração. Frente a essa
atitude o Papa Francisco nos diz, “que o medo não nos impeça de acolher”.
Por Pe. Luis Miguel Modino.
Esse chamado tem encontrado uma resposta clara na diocese de
Roraima, que tem se tornado mãe para os milhares de refugiados que tem chegado
desde a vizinha Venezuela. Só na paróquia de Pacaraima, na fronteira entre o
Brasil e a Venezuela, chegam cada dia 1.500 venezuelanos esperando receber o
café da manhã, para muitos seu único alimento ao longo da jornada.
Podemos dizer que o contexto migratório faz da sociedade uma
realidade diferente, como reconhece Dom Mário Antônio da Silva. Diante desse
fenômeno, o bispo de Roraima faz um chamado a “disseminar o verdadeiro amor,
que nos move e vai ao encontro das pessoas”. A Igreja católica em Roraima tem
se tornado “uma ação profética para nosso estado”, afirma Dom Mário Antônio.
Essa atitude encontra rejeição em boa parte da classe política local, assim
como dentro da própria Igreja católica, onde tem gente que não compreende essa
atitude da diocese e mostra resistência.
O trabalho desenvolvido por pastorais, organismos,
congregações religiosas que trabalham na diocese de Roraima lhes mostra como
“líderes de uma ação eclesial”, afirma seu bispo, reconhecendo nesse trabalho
“uma ação com incidência política e social”, que faz de todos os envolvidos e
da própria diocese, sal, luz e fermento, revelando “verdadeiras páginas vivas
do Evangelho”, insiste Dom Mário Antônio. Ele, seguindo a mensagem do Papa
Francisco, diz que deve ser garantido o direito de migrar com liberdade, uma
realidade cada vez mais difícil numa sociedade onde o próprio sistema prende os
migrantes, lhes impedindo se libertar das correntes que os amarram.
Algumas das pessoas que trabalham na acolhida aos migrantes
e refugiados na diocese de Roraima, reconhecem que os migrantes os ajudaram a
se abrir como Igreja, a sair dos templos, das próprias estruturas. Isso se
traduz em um atendimento que se diversifica de múltiplas formas e que tem como
objetivo final a interiorização dos migrantes venezuelanos no Brasil, a través
do projeto da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil – CNBB, “Caminhos de
Solidariedade”, que tem ajudado a milhares de pessoas nos últimos meses.
Falar de migrantes tem que nos levar a descobrir a história
de pessoas, de rostos concretos, de vidas, muitas vezes machucadas, exploradas
por gente sem escrúpulo que se aproveita da necessidade alheia. Cada pessoa que
consegue se estabelecer, representa uma vitória de todos os envolvidos, de
tantos voluntários e voluntárias que tenderam sua mão ao irmão migrante.
Como reconhece Dom Mário Antônio da Silva, o trabalho com os
migrantes apresenta desafios para a igreja de Roraima. Um deles é a articulação
entre os diferentes atores desse trabalho, mas que é difícil, pois “a cada dia
surge uma nova emergência, é difícil estabelecer um processo”.
No trabalho de conscientização eclesial e social, a Semana
do Migrante tem um papel em destaque. Em 2019, na sua 34ª edição, que vai ser
celebrada de 16 a 23 de junho, tem como tema, em relação com a Campanha da
Fraternidade, “Migração e Políticas Públicas”. Lembrando as palavras do Papa
Francisco, faz um chamado a “Acolher, proteger, promover, integrar e celebrar.
A luta é todo dia!”. A Semana tem como propósito refletir a partir do rosto,
raiz, rotas e respostas. Os migrantes são pessoas concretas, que passam por
essa situação a partir de causas comuns, que entram num esquema que segue suas
rotas.
Tudo isso precisa de respostas da sociedade e da própria
Igreja. É por isso, que podemos dizer que a diocese de Roraima tem se tornado
uma referência no trabalho com os migrantes, mostrando que acima do medo, as
incompreensões e resistências, a misericórdia tem que ser a atitude a seguir,
fazendo assim realidade o Evangelho da vida, sempre atento ao excluído, àquele
que a sociedade descarta.
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