segunda-feira, 18 de março de 2024

Mutirão final 6ª Semana Social Brasileira: “Uma transformação social e ambiental da realidade a partir da nossa fé”


A Igreja do Brasil se prepara para o Mutirão Nacional da 6ª Semana Social Brasileira, que será realizado em Brasília de 20 a 22 de março, com a presença de representantes de todos os cantos do Brasil. Ao longo de quatro anos, a partir de tema: “Mutirão pela Vida: Por Terra, Teto e Trabalho”, tem acontecido inúmeros encontros em vista de fazer realidade um mundo melhor para todos e todas.

O Mutirão final pretende ser “um momento forte da nossa caminhada como Igreja e como povo de Deus”, segundo Dom José Valdeci Mendes Santos, para que “em vista do bem-viver dos povos, das comunidades tradicionais, traçarmos o projeto popular que sonhamos e queremos para o nosso Brasil”, destaca o presidente da Comissão para a Ação Sociotransformadora da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB). Segundo o bispo da diocese de Brejo (MA), estamos diante de “um momento de fortalecimento da nossa caminhada como Igreja, nessa proposta de uma transformação de uma sociedade mais justa, mais fraterna”.

No decorrer desse Mutirão, “a metodologia tem pensado um caminho em que se possa incluir todo o processo vivenciado nesses últimos anos”, ressalta Alessandra Miranda, secretária executiva da 6ª Semana Social Brasileira. Isso num encontro que “vai recolhendo um percurso bem longo, quase quatro anos, mas que nestes últimos messes tem dado uma acelerada grande”, segundo o padre Dário Bossi, assessor da Comissão para a Ação Sociotransformadora da CNBB, que afirma que “em todos os territórios trabalhamos e aprofundamos os temas de terra, teto e trabalho, preparando um projeto popular sobre o bem-viver dos povos’.



O missionário comboniano ressalta a importância dos “diversos projetos de incidência política a partir da Igreja, preparados nos territórios, que vão se costurando como um mosaico que irá compor a imagem da Igreja comprometida”. Para avançar nesses processos, ele disse que esses três dias “serão um desfecho e um relance para pensar daqui para frente qual o papel para uma transformação social e ambiental da realidade a partir da nossa fé”.

O Mutirão Nacional é uma oportunidade para “comemorar esse ciclo de trabalho coletivo”, segundo Sandra Quintela. A membro da Rede Jubileu Sul Brasil e da equipe executiva da 6ª Semana Social Brasileira relata as atividades realizadas ao longo dos últimos anos: cursos de formação e economia política, uma missão solidariedade com os povos quilombolas afetados pelo agronegócio no Maranhão, atividades de formação com as mulheres em sete capitais do Brasil, trabalhando o direito à moradia e cobrando as dívidas sociais que existem com as mulheres das periferias urbanas no Brasil, que estão à mingua nas ocupações.

Diante das muitas atividades e processos, principalmente coletivos, Sandra Quintela lembra o lançamento de um plebiscito popular em busca de uma grande escola de formação e educação popular no Brasil, com o objetivo e metas comuns. Mais um passo num caminho de compromisso com as pessoas que “arregaçam as mangas no cotidiano da vida, tentando construir uma vida digna, um mutirão pela vida, para todas as pessoas neste país”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

domingo, 17 de março de 2024

Dom Leonardo: “A vida é para ser doada, ofertada, entregue”


No quinto domingo da Quaresma, o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando que estamos “a caminho de Jerusalém para podermos participar do Mistério da Salvação, o Mistério da Salvação que passa pela morte”, dizendo que igual do grão de trigo que morre e dá fruto, “nós ao morrermos podemos dar muito fruto”, o que mostra a resposta enigmática de Jesus diante da pergunta dos gregos que lhe procuram.

Um desejo de ver Jesus, que segundo o arcebispo de Manaus, “não era curiosidade, não era um satisfazer um ouvi dizer”. Segundo ele, “ver tem a ver com estar, escutar, ser tocado, trata-se de um anseio de escuta, de aprendizado, de direção, um novo sentido de vida”, vendo na resposta de Jesus a Felipe e André, algo que “nos mostra como nós podemos ver Jesus”.

Dom Leonardo destacou que “o encontro com Jesus acontece com a Palavra que deixa ver quem é o Filho do Homem, Ele Palavra nos ensina que a vida é para ser doada, ofertada, entregue, generosidade, disponibilidade”. O cardeal ressaltou que “nada de escondimento, de só para mim e nada para ti, esse processo existencial de quem percebe que a vela é vela na sua essência quando ilumina, quando se consome. Só no seu consumir é que ela ilumina e cria o momento da oração, da prece, do recolhimento, é no consumir-se que a vela é vela, senão ela é apenas um enfeite”.

“A semente lançada na terra é plena de força e vigor, toda semente é vida a explodir, vida que deseja vir à luz, a vida da semente deseja desabrochar, frutificar, essa é a graça da semente, o sentido da semente, ela morre e gera vida, morre e se multiplica”, disse o cardeal, que destacou “quanto vigor e energia da vida em tantas sementes graças á generosidade”, e junto com isso, que “porque morreu também nós podemos nos alimentar com os frutos”.



Segundo Dom Leonardo Steiner, “na semente vemos a vida que nasce da morte, e no morrer gerar vida”, ressaltando que “morrer, vida nova, o segredo da semente, é o que ela carrega, vida que deseja oportunamente vir à luz, deseja frutificar”. A semente nos ensina que “Deus nos gerou plenos de vida, temos o vigor, temos vida, e a vida conquistada no amor de Jesus, a possibilidade que temos de levar nossa vida à consumação, à plenificação”, destacou o cardeal.

“Quem ama não tem poder, apenas serviço, cuidado generoso, quem ama perde poder, que doa não possui, é que no amor tudo é dar, quando somos semente”, destacou o cardeal. Ele refletiu sobre a lógica da semente que morre, dizendo que “o amor serviço é contrário à vida que nos impede de possuir e desejar sempre mais”. Ele denunciou que “às vezes vivemos numa dinâmica destruidora, onde vamos acumulando, dominando, possuindo, e permanecemos como uma vela de enfeite, uma decoração, desperdiçamos a graça do amor, de dar a vida, de iluminar, de maturar, de transformar, de plenificar, consumar a nossa vida e a vida dos outros”, dizendo que “entramos numa espécie de processo de insatisfação existencial, de doença psíquica, humanamente decaímos quando nos fechamos em nós mesmo e não desejamos servir”.

Ele enfatizou que “quem cuida é disponível, serve, ama, vive e ama como Deus vive e ama”. Isso porque “servir, ajudar os outros, da sentido à vida, enche o coração de alegria e esperança”, afirmando que “Jesus trouxe ao mundo uma esperança nova, e o fez como a semente, fez-se pequeno como um grão de trigo”, insistindo em que “para produzir fruto, Jesus viveu o amor até o fim, deixando-se despedaçar pela morte como uma semente que se deixa romper debaixo da terra, na Cruz foi rompido e dali nasceu vida para todos nós”, que definiu como o ponto extremo de seu abaixamento, o ponto mais elevado do amor, de onde brotou a esperança, a vida nova.

A esperança nasce da Cruz, disse Dom Leonardo Steiner, que vê a Quaresma como tempo de “contemplar a Cruz, fixar nossos olhos em Jesus Crucificado”. Uma esperança que brota pela força do amor do Crucificado, e que faz com que na Páscoa, Jesus transformou assumindo sobre si mesmo nosso pecado em perdão, segundo o cardeal. Uma esperança que “supera tudo, porque nasce do amor de Jesus, que se fez grão de trigo na terra e morreu para dar vida, aquela vida plena de amor de onde nos vem vida nova”, ressaltou.



Na primeira leitura destacou “a força misericordiosa de Deus, o esforço misericordioso de Deus para abrir os olhos diante da cegueira do povo, tocar o povo que estava com um coração endurecido”, insistindo o profeta Jeremias na volta ao primeiro amor, que deseja levar o povo a ver quanto era amado por Deus.

Jesus nos atrai pela sua bondade, pela sua entrega de vida na Cruz”, que no morrer a todos nós atrai, segundo Dom Leonardo Steiner. Um amor de Deus que nos leva à conversão, definindo Deus como “o crucificado, o doado, o entregue, o amoroso, o mais humano dos humanos”. O cardeal disse que “nós caminhamos ao encontro do Crucificado nesses dias, deixemo-nos atrair por ele”.

Na passagem da Carta aos Hebreus destacou que às portas da Semana Santa “somos despertados por uma vida que se consumou no amor para que fossemos salvos. Seria despertar para a doação, para o serviço, para o acolhimento, para a generosidade, para a equidade, para a fraternidade”, numa vida onde “a graça de viver é servir”, segundo o presidente do Regional Norte1 da CNBB.

Da Campanha da Fraternidade destacou que nos recorda que “o amor está a guiar as palavras e as escutas e as nossas relações”, enfatizando que “a irmandade não nasce da dominação”, destacando a necessidade do diálogo, o serviço, a abertura, o acolhimento, a alegria de servir, a reverência no conviver”. Por isso, ele disse que “somos convidados a construir uma fraternidade, uma irmandade que transforme a vida na nossa sociedade, tornando-a mais saudável, mais convivial”.

O cardeal denunciou a violência das nossas relações sociais e destacando a necessidade de estender o nosso amor a todo ser vivo, a toda a Criação, e pedindo que “Deus Pai nos ajude nesta Quaresma a compreender o valor da amizade social e a viver da beleza da fraternidade humana aberta a todos para além dos nossos gestos, dos nossos gostos, dos nossos afetos e preeminências, num caminho de verdadeira penitência e conversão”. Para isso se faz necessário “uma vida doada, entregue, ser amor e serviço, amar servindo, servir amando”, concluiu.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

sábado, 16 de março de 2024

Inês Monteiro de Freitas, Coordenadora da Pastoral da Criança do Amazonas, assume Coordenação Nacional


Maria Inês Monteiro de Freitas, leiga amazonense, que era Coordenadora da Pastoral da Criança Estadual do Amazonas, aceitou o convite do novo Presidente do Conselho Diretor da Pastoral da Criança Dom Severino Clasen, arcebispo de Maringa (PR) para assumir a Coordenação Nacional. A nova Coordenadora Nacional foi a mais indicada pelas Coordenações Diocesanas e Estaduais.

Inês iniciou sua missão na Pastoral da Criança em 2009, contribuindo na Coordenação Estadual do Amazonas. Ao longo da caminhada, ela diz ter ido aprofundando seu conhecimento através das formações e vivência da missão, se tornou capacitadora e depois Coordenadora de Núcleo.  Em 2016 foi nomeada Coordenadora Estadual Interina e no ano seguinte foi ratificada com Coordenadora Estadual do Amazonas.

Sua escolha foi realizada na reunião realizada na quarta-feira, 13 de março na sede da Pastoral da Criança, em Curitiba (PR), em que foram empossados os membros do novo conselho e foi confirmado o nome de Maria Inês Monteiro para coordenadora nacional da Pastoral. Junto com ela assumiram a diácono Márcio, que será o tesoureiro, Milton Dantas, novo secretário, além de Dom Severino Clasen, Diretor do Conselho Diretor.

O novo conselho diretor e Coordenadora Nacional vai ter uma gestão de quatro anos. Um tempo em que, animados e esperançosos, pretendem continuar a missão da Pastoral  da Criança junto as coordenações e lideranças, para que possam realizar suas ações com compromisso e leveza e assim contribuir para que as crianças se desenvolvam  e tenham vida plena.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

sexta-feira, 15 de março de 2024

Padre Lúcio Nicoletto envia saudação à Prelazia de São Félix pedindo a luz do Senhor em sua nova missão


O padre Lúcio Nicoletto, bispo eleito da prelazia de São Félix do Araguaia, enviou nesta quinta-feira 14 de março, no mesmo dia que ele fez seu juramento e profissão de fé, uma saudação ao povo de sua nova Igreja local.

Após se apresentar, o texto destaca a importância da diocese de Pádua (Itália), em sua vida e tudo o que nela aprendeu, sobretudo o fato de ter sido enviado em missão ao Brasil, “um furacão que me mudou profundamente a partir do caminho da lógica da encarnação”, insistindo em que “o amor passa necessariamente pela porta da encarnação”.

O bispo eleito diz viver sua nomeação como um kairós, caminhar na Prelazia de São Félix do Araguaia, que “carrega em si a marca profunda da voz do querido irmão dom Pedro”, que “deixou um legado de compromisso radical com a vida dos últimos, juntamente com o ideal do Concilio Vaticano II, de uma Igreja, sinal do Reino, pobre para os pobres, uma Igreja inteiramente ministerial e completamente comprometida com a missão de ser aliada dos que não têm voz, de ser reflexo do nosso Deus, Pai e Mãe amoroso e compassivo, que enxuga as lagrimas do rosto dos oprimidos e injustiçados derramando sobre cada um o óleo da consolação e o vinho da esperança”.

Se sentindo aprendiz, e recordando os bispos que passaram nessa Igreja local, envia uma saudação a todos aqueles e aquelas que realizam sua missão em São Félix, se confiando às orações de todos, destacando a importância dos povos originários, e estendendo sua saudação a todos aqueles que chegaram na região. Para todos ele pede “que o Senhor da Vida nos ilumine e nos acompanhe nessa nova missão”.




Texto da saudação

Saudação ao povo que está na Prelazia de São Felix do Araguaia – MT

quinta-feira dia 14 de março de 2024

Caríssimo e amado povo de Deus da querida Prelazia de São Felix do Araguaia; querido irmão e bispo Adriano: paz!

Dirijo-me a vocês, após ter recebido a nomeação do querido Papa Francisco para começar a missão de caminhar como bispo com vocês e com Cristo Jesus que já amais sem o terdes visto; credes nele, sem o verdes ainda, e isto é para vós a fonte de uma alegria inefável e gloriosa, porque vós estais certos de obter, como preço de vossa fé, a salvação de vossas vidas. (1Pd 1, 3-9).

Apresento-me a vocês com a gratidão e a alegria de um filho que reconhece todo o amor com que a Igreja de Pádua (Itália), minha Mãe, me acolheu desde o dia do meu batismo e me acompanhou durante toda a minha vida. Foi Ela que suscitou inúmeras pessoas que foram importantes para que eu bem conhecesse Jesus Cristo e para que aprendesse a me deixar amar por Ele. Foi a Igreja que me levou a descobrir a beleza do plano de amor de Deus para toda a humanidade. Esta mesma Igreja ajudou-me a acolher a Palavra de Cristo e a me deixar moldar por Ela. Ensinou-me a reconhecer Cristo presente e atuante na vida e no testemunho de tantos homens e mulheres que ofereceram a sua existência para testemunhar com a vida os valores do Reino.

Ensinou-me que não há anúncio sem o testemunho daquele amor/caridade pela qual Cristo se entregou totalmente, especialmente pelos mais pobres e os últimos, tornando-se ele mesmo pobre e último. A graça da missão chegou à minha vida como um vento forte, um furacão que me mudou profundamente a partir do caminho da lógica da encarnação. E foi no encontro com a Amazônia, no caminho junto ao amado povo da Igreja de Roraima que aprendi que “A Igreja se faz carne e arma sua tenda na Amazônia”. Este armar a tenda manifestou-se como um irrenunciável anúncio central da boa nova: anunciar aos povos o Evangelho de Jesus Cristo e de seu Reino como fonte de sentido e de libertação. (cf. Documento dos 50 anos de Santarém)

Quando cheguei ao Brasil, em 2005, sabia que estava levando comigo a pérola preciosa do Evangelho que a própria igreja de Pádua me confiou ao enviar-me para a missão para que eu pudesse anunciá-lo. Mas a comunhão com todos os meus irmãos e irmãs na missão e com as comunidades com as quais o Espírito me convidou a caminhar – por onze anos na diocese de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense e por oito anos aqui em Roraima - ajudou-me a sentir a missão segundo o jeito de Cristo que se esvaziou completamente, tornando-se obediente até a morte e a morte de cruz.

O amor passa necessariamente pela porta da encarnação. Agradeço ao Papa Francisco que, em nome da Igreja me oferece a oportunidade de viver este Kairos na minha vida, este tempo propício para me deixar visitar pelo sopro do Espírito e me deixar moldar por Ele. Por isso considero a missão como a dimensão da fé que salvou a minha vida da indiferença insossa e manteve vivo em mim o compromisso de ser como sentinela que espera, em pé, por novos céus e uma nova terra.

É com estes sentimentos que acolho o convite do Santo Padre, o Papa Francisco para esta nova missão que me levará a caminhar com vocês, amadas e amados de Deus, nessa realidade da nossa querida Amazônia, onde o grito dos oprimidos continua a não ser ouvido pelos poderosos deste mundo, mas é ouvido pelo coração de Deus.

Percebo que a realidade da Prelazia de São Félix do Araguaia carrega em si a marca profunda da voz do querido irmão dom Pedro, o primeiro bispo desta terra que por mais de trinta anos fez ecoar com palavras e com gestos, oportuna e inoportunamente, a palavra do Evangelho como profeta e irmão dos pobres, fazendose pobre como Cristo. Deixou um legado de compromisso radical com a vida dos últimos, juntamente com o ideal do Concilio Vaticano II, de uma Igreja, sinal do Reino, pobre para os pobres, uma Igreja inteiramente ministerial e completamente comprometida com a missão de ser aliada dos que não têm voz, de ser reflexo do nosso Deus, Pai e Mãe amoroso e compassivo, que enxuga as lagrimas do rosto dos oprimidos e injustiçados derramando sobre cada um o óleo da consolação e o vinho da esperança. Por isso sinto-me honrado e aprendiz ao mesmo tempo diante da tarefa de levar adiante este legado de vida, de luta e de resistência que ficou marcado na vida daqueles que me precederam no ministério episcopal preste a iniciar: primeiro Dom Pedro e, depois, Dom Leonardo Steiner, atual arcebispo de Manaus e cardeal da Amazônia e Dom Adriano Ciocca Vasino, atual Bispo de São Félix ao qual vai a gratidão de toda a nossa igreja de São Felix pelo amor, carinho e dedicação profética com que viveu seu ministério episcopal entre vocês ao longo desses doze anos.

Minha saudação carinhosa e fraterna a todos os padres incardinados, missionários e religiosos; a todas às religiosas consagradas missionarias presentes em nossa igreja particular, cujo ministério é uma dadiva de Deus que como mãe amorosa toma conta de seus pequeninos com a vida de todos vocês, missionarias e missionários de Deus! Conto com sua ajuda e fraterna parceria!

Ao iniciar este novo capítulo da minha história e da história da Prelazia, confiome às orações de todos vocês, amadas e amados de Deus, e à intercessão de Nossa Senhora dos Mártires de ontem, de hoje e de sempre, que continuam caminhando na história, bem junto povo de Deus, em busca da vitória! Confio-me ao abraço dos povos indígenas, verdadeiros guardiões da vida e da criação assim como o Papa Francisco, na encíclica Laudato Si’ e na Exortação Apostólica Querida Amazônia: “... os povos originários são os que melhor cuidam de seus territórios...”. Sentimos nessas palavras o convite a reassumirmos com renovado ardor a grande tarefa missionaria que orienta e confirma os passos dessa igreja de São Félix: “É indispensável prestar uma atenção especial às comunidades originárias com as suas tradições culturais.

Merece toda a nossa atenção, gratidão e carinho, a presença e a história dos nossos povos originários principalmente da bacia dos rios Araguaia e Xingu: os povos Xavante, Tapirapé, Kalapalo, Kuikuro, Kaiapó, Kaiabí, Juruna; Karajá, Javaé, Kanela e Krenak. Obrigado por serem para nós motivo para renovarmos o nosso compromisso por uma Igreja sempre mais atenta á promover a Boa nova de Jesus Cristo fazendo nossa opção preferencial pela vida plena para todos os povos de todas as raças e culturas e o cuidado com a Casa comum. Desde já quero colocar-me na atitude de escuta atenta para conhecer sua história, sua identidade, seus valores e suas esperanças contando com a ajuda de todas as animadoras e animadores, agentes de pastoral, missionários e missionarias em suas comunidades!

Minha saudação também ao povo goiano, nordestino, gaúcho e todos os que buscaram nessa terra de Mato Grosso, vindo de várias partes do Brasil, uma vida melhor e que hoje também compõem a pluralidade extraordinária do povo matogrossense! Como bem nos lembra a Campanha da Fraternidade, a Igreja convida a todos para sermos irmãos e irmãs pois temos um só Deus que é Pai e Mãe de misericórdia e de Paz!

Que o Senhor da Vida nos ilumine e nos acompanhe nessa nova missão em comunhão com todas as igrejas irmãs da província eclesiástica de Cuiabá, e as do regional Norte 3, com que partilhamos a caminhada pastoral; juntos queremos assumir a missão à luz da mesma Fé, animados pela mesma esperança e impelidos a sermos no mundo testemunhas credíveis da Caridade de Cristo.

Peço a vocês todos que me abençoem e rezem por mim!

Deus abençoe a cada um de vocês!

Grande e fraterno abraço!

Pe. Lúcio Nicoletto

Bispo eleito de São Felix do Araguaia -MT

quinta-feira, 14 de março de 2024

Padre Lúcio Nicoletto: “Na Prelazia de São Félix faço o propósito de escutar, porque eu não sei de nada”


O padre Lúcio Nicoletto acaba de ser nomeado pelo Papa Francisco Bispo de São Félix do Araguaia (MT). Missionário da diocese de Pádua (Itália), que lhe enviou ao Brasil em 2005 para fazer parte da missão diocesana na diocese de Duque de Caxias (RJ), também tem sido missionário da mesma missão diocesana na diocese de Roraima desde 2016. Ele diz ter assumido a nova missão que a Igreja lhe encomenda com as palavras do Papa Francisco na Evangelii Gaudium: “Ninguém pode tirar de mim a alegria do Evangelho”, insistindo em que “nem mesmo os meus medos, nem mesmo os desafios que a gente encontra”.

O bispo eleito relata sua experiência na Igreja de Roraima, que “foi uma experiência muito forte de fraternidade, de luta juntamente com o povo. Aquela fraternidade, aquela amizade que nos dá a força para olhar com confiança no presente e no futuro. No presente, o lugar para onde Deus nos chama, uma plena consciência de que Ele está nos esperando lá no lugar onde nos chama”, algo que ele diz ter lhe ajudado a “guardar a paz no coração”.

Em suas palavras, o padre Nicoletto ressalta que “não vou para lá para converter ninguém, eu acho que eu vou para lá porque Deus quer que me converta um pouco mais”, afirmando que “essa conversão é fruto de muito amor, é o amor que certamente vou encontrar naquele povo, porque foi o amor que manteve de pé aquele povo até agora, mesmo diante de tanto sofrimento, tantas injustiças. E em nome da alegria do Evangelho, esse povo conseguiu aguentar até agora, mantendo viva a chama da fé, oferecendo a todos um exemplo de esperança, deixando-se alimentar na caridade, sobretudo para com os mais excluídos, os mais humilhados, de maneira especial os povos indígenas da região do Araguaia, do Mato Grosso em geral”.

Segundo o missionário italiano, uma região que “tem uma história de grande luta, de grande sofrimento, discriminações, mas também uma história que a Prelazia de São Félix do Araguaia soube escrever com o exemplo exímio de inúmeros homens e mulheres encabeçados pelo exemplo de Dom Pedro Casaldáliga, que em momento nenhum substituíram a Jesus, mas eles foram reflexo do mesmo Cristo, presente no povo sofredor”.



“Isso me ajudou a sentir que em primeiro lugar o carisma do missionário, primeiramente é um carisma que é para servir; segundo e um carisma que precisa dar como primeiro fruto a alegria de servir”, afirmou. Segundo o bispo eleito, “quando eu perco essa alegria significa que tem alguma coisa dentro de mim que não está batendo”. Isso lhe leva a dizer que “desde o início eu quis pedir a Deus que Ele nunca me deixe sem a paz e a alegria no coração, o restante é Ele que vai oferecer, abrir caminho, indicar os passos que precisam ser seguidos”.

Ele destaca a herança de fé que ganhou em sua vida como missionário “com o povo sofrido da Baixada Fluminense, com que eu estive vivendo 11 anos, e até agora com o povo de Roraima, um povo muito compromissado com a causa dos povos indígenas, com a causa das migrações, com a causa dos pequenos produtores, agricultores”. O bispo eleito afirma que “parece que a providência já abriu o caminho e neste momento me sinto acompanhado pela mão de um Deus que não posso mentir, Ele que preparou isso tudo, eu não busquei nada. Mas como Ele foi que preparou tudo e me demostrou tanto amor ao longo deste ano, eu também como missionário, a primeira resposta que eu dei, como eu poderia recusar esse convite que Deus através da Igreja está me oferecendo, se Ele nunca se recusou de me amar”.

Lembrando que Dom Pedro Casaldáliga dizia que “o medo é o contrário da fé”, aquele que irá desempenhar a mesma missão na Prelazia de São Félix do Araguaia, afirmou que “o medo, dizem os psiquiatras, é sinal de que você está bem de cabeça, porque você tem a noção de que estamos diante de um perigo”. O decisivo é como cada um reage diante do perigo, “que ajuda a pessoa a se fortalecer mais, ou a fugir”, afirma. Ele diz ter vários medos, receios, que tem aflorado inclusive depois de ter dado seu consentimento, algo que acha fazer parte da nossa condição humana.

Por outro lado, “é graças ao medo que eu me dou conta que sozinho não vou para lugar nenhum”. Isso lhe leva a destacar que “a Igreja, a primeira proposta que ela faz é uma proposta de comunhão, somos Igreja quando estamos junto”. Segundo o bispo eleito, “sabendo que, como Igreja, desde nosso batismo, somos ungidos, a nossa primeira unção de catecúmenos nos lembra que a vida vai ser uma luta”. Ele se questiona se está pronto para essa luta, se ele está correndo atrás das armas que ele precisa.



“A primeira arma é a comunhão, a capacidade de formar unidade dentro da Igreja”, afirma, ressaltando que “o que ameaça o projeto de Cristo dentro da Igreja são as polarizações”, e que “profecia hoje é ser gente de comunhão, gente que constrói a comunhão, gente que com paciência deixa de lado a própria auto referencialidade e deixa espaço para o outro, primeiramente para Deus, para que o outro possa crescer, eu devo diminuir”. O missionário italiano insiste em que “a Igreja é a comunidade dos que mesmo sentindo medo perante os desafios, percebem que a força nasce e brota da nossa unidade, do nosso caminhar junto, do nosso participar de uma caminhada na frente da qual está Jesus Cristo e sem Ele a gente não vai para lugar nenhum, com Ele a gente percebe que a luta vai dar certo”.

A sinodalidade sempre foi um modo de ser Igreja muito presente na Igreja de São Félix do Araguaia. Diante disso, o bispo eleito diz não conhecer muito dessa Igreja, afirmando que “eu vou precisar entrar, utilizando uma frase de Dom Pedro, descalço sobre a terra vermelha”. Ele insiste em que descalço, uma coisa que ele gostou de fazer desde criança, “a gente sente a terra, sente que somos criaturas, não criadores. Somos humildes, humus, terra, e na medida em que a gente entra e se encarna nessa terra, a gente consegue se relacionar com essa terra”.

A sinodalidade, segundo o padre Nicoletto, “remete justamente à encarnação, não é possível ser uma Igreja sinodal sem primeiro crescer na consciência do Mistério da Encarnação. Caminhamos juntos quando conhecendo a realidade para onde Deus nos envia, aceitamos, em primeiro lugar, viver as relações, com o povo, com a terra, com a situação, e não se vive sem escutar”. Dizendo que gosta muito de falar, o missionário italiano afirma que “sinto que eu preciso me educar dia após dia a escutar”, assumindo o propósito diante da família da Prelazia de São Félix de “escutar, porque eu não sei de nada. Eu sou um aprendiz, sempre serei um aprendiz na vida”.

Uma consciência de ser aprendiz que, segundo ele, “me ajuda a construir uma Igreja que só se realiza na medida que cada membro se sente necessitado do outro, se sente convidado a seguir Cristo, e não a ficar diante de Cristo, e sobretudo se sente, em primeiro lugar, a se comprometer com essa realidade”. O bispo eleito ressaltou que “o primeiro compromisso não é fazer algo, mas é acolher o outro do jeito que ele é”, e que “sinodalidade, ela é sinônimo de humanidade. Não tem sinodalidade sem uma Igreja que saiba recuperar a dimensão da humanidade em suas relações, em seus propósitos, de encontrar o ser humano onde o ser humano vive, onde o ser humano luta, onde o ser humano busca Deus”.



Prosseguindo em sua reflexão, ele vê a sinodalidade como algo que “tem a origem em Emaús, onde existe um Jesus que não tem como primeira pretensão dar uma aula de moral para os outros, simplesmente se aproxima e começa a caminhar”. O padre Nicoletto pede a Deus que “me dê a graça de viver um Emaús permanente, de me aproximar desse povo, de reconhecer que eu não sei nada”, insistindo em que antes do múnus de ensinar, “o bispo tem que ter primeiramente o múnus de ouvir, porque se ele não ouvir, vai ensinar o que”, buscando assim “fazer o bem ao outro a partir do outro, não a partir dos meus pensamentos”.

Olhando para os três bispos que lhe precederam na Prelazia de São Félix do Araguaia, ele destaca que “essa herança é um tesouro enorme”, afirmando que igual aconteceu em Roraima, onde ele tem sido missionário nos últimos anos, “a caminhada da Igreja de São Félix pode contar com testemunhas autênticas do Evangelho na vida, nas provas que eles deram como pessoas engajadas no Reino, com testemunho pessoal”.

Partindo do testemunho de Dom Pedro, ele disse que nenhum dos dois que lhe sucederam, Dom Leonardo Steiner e Dom Adriano Ciocca, “quis se afirmar pessoalmente, propondo algo diferente ou querendo ser melhor do que o outro, mas cada um deles teve o mesmo profetismo de Dom Pedro, expressado de uma forma diferente, cada um com seu próprio carisma, de continuar levando adiante um projeto bonito, maravilhoso, que é o projeto eclesial da Igreja de São Félix”. Nos três ele vê “servidores, daquela Palavra que é escrita, mas também da Palavra que se encontra na vida deste povo, na vida dessa Igreja, na trajetória dessa Igreja, na luta que essa Igreja continua travando para manter viva a chama da esperança” agradecendo a Deus pelo testemunho de humanidade, de verdadeira fraternidade episcopal, mas também de verdadeira encarnação na vida do povo de São Félix.

Imaginando sua chegada em São Félix e sua visita no túmulo de Dom Pedro Casaldáliga, na beira do Araguaia, ele pedirá “pelos menos um décimo da paixão que ele teve pelo ministério dele, a paixão que ele teve pela Igreja, pelo projeto do Reino”. Isso porque “Dom Pedro é uma figura muito grande, são aquelas figuras que a graça de Deus faz surgir igual uma estrela”, não como estrelismo e sim como “a graça de Deus que brilhou nele”. Ele disse que “escutando sua vida, para mim é São Pedro do Araguaia, porque ele é realmente uma referência para toda a Igreja, a santidade que significa plena realização daquela pessoa no plano do projeto do Reino de Deus”, concluindo que “quem mais do que Pedro, conseguiu se sentir realizado no amor de Cristo a través do testemunho que ele quis oferecer à Igreja de São Félix”.


Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1