A situação que a região Pan-Amazónica está vivendo
como consequência da segunda onda da Covid-19 na região, provocou o
posicionamento de diferentes organizações: Coordenação das Organizações
Indígenas da Bacia Amazónica - COICA, Fórum Social Pan-Amazónico - FOSPA, Rede
Eclesial Pan-Amazónica - REPAM, e a Assembleia Mundial pela Amazônia. Juntos
organizaram o evento "O Grito da Floresta: Vozes da Amazónia", que reúne
virtualmente, os dias 26 e 27 de fevereiro participantes de diferentes países
da região, bem como de outros países do mundo.
No seu discurso, o vice-presidente da REPAM pediu a
Deus "que nos desse a força e sabedoria para defender os direitos destas
terras amazónicas". Dom Rafael Cob, que afirmou que "sabemos que cada
um de nós não pode fazê-lo sozinho", sublinhou que "unidos
alcançaremos os objetivos que propomos para criar uma fraternidade onde todos
nos sentimos irmãos, onde Deus Criador, que nos deu este maravilhoso Planeta,
sabe como cuidar dele, como defendê-lo e como amá-lo".
O bispo do Vicariato de Puyo, na Amazónia equatoriana,
recordou o que foi dito no Sínodo Amazónico, onde ele foi padre sinodal. Aí
afirmou-se que "a Igreja quer ser aliada dos povos amazónicos,
acompanhá-los e também estar com eles na defesa dos direitos da nossa natureza
e dos povos que vivem na Amazónia". O bispo pediu "que o Senhor possa
continuar a abençoar-nos e a dar-nos a sua força e que todos nós, unidos também
ao Papa Francisco, que nos ilumina com a sua palavra e o seu exemplo, possamos
deixar pegadas para que aqueles que vierem depois de nós possam verdadeiramente
construir um mundo melhor, um mundo onde reine a paz, onde reine a justiça,
onde se faça progresso global com aquela ecologia integral de que o nosso
planeta precisa hoje".
Dom Rafael Cob concluiu o seu discurso dizendo
"que Deus Pai, Criador deste universo e das nossas vidas, continue a
ajudar-nos com o sopro do seu poder e que cada um de nós viva essa comunhão e
essa harmonia que Deus Criador nos deu para vivermos como povos
fraternos".
O evento foi um momento para "exigir que a
humanidade ouça a nossa voz", segundo José Gregório Díaz Mirabal. O
coordenador da COICA pediu que, face à crise estrutural que o planeta
atravessa, "nos ajudem a exigir os direitos da natureza, dos povos".
Nas suas palavras denunciou as invasões que os territórios dos povos originários
e comunidades tradicionais estão sofrendo e exigiu soluções para a crise de
saúde que a Amazónia está atravessando neste momento.
Estas palavras foram endossadas por German Niño, que
disse que "sentimos o nosso apelo a preservar a vida natural e as diversas
culturas da Amazónia". O representante do FOSPA insistiu que "o bater
do coração da Amazónia é o bater do coração da civilização atual",
apelando para "poder falar de forma integral na diversidade". Niño
apelou ao mundo para "abrir os seus ouvidos, olhos e portas para poder
sentir a importância deste processo”. Na sua opinião, "a Amazónia tem que
ser defendida em todo o planeta, deve deixar de ser vista como um reservatório
de matérias-primas para o mundo".
No encontro virtual, foram apresentadas diferentes
realidades, tais como o trabalho que a REPAM tem vindo realizando no
monitoramento dos casos e mortes como consequência do Covid-19 na Pan-Amazónia
há quase um ano, apesar das dificuldades encontradas nos organismos públicos,
que nem sempre são claros nas suas informações. Também o trabalho que a
Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira - COIAB tem feito
no mesmo sentido, denunciando a grave realidade que se vive no país com mais
casos e mortes na região.
A pandemia também demonstrou a falta de infraestruturas
na Amazónia, os conflitos e ameaças, que não pararam na pandemia, algo que se
manifesta em diferentes realidades que ameaçam a vida na região. De fato, o
tratamento da pandemia em alguns países da região, especialmente no Brasil,
pode ser considerado um genocídio, como afirmou o cientista Antônio Nóbrega,
que denunciou "a falta de humanidade e perversidade na situação atual".
Muitas pessoas começam a perceber a realidade, disse ele, defendendo a
necessidade de estudar com os sábios indígenas, reconhecendo a importância da
sua sabedoria milenar.
Diferentes líderes indígenas mostraram a realidade que
se vive na Amazónia, denunciando o impacto do agronegócio e dos incêndios,
estradas, petróleo, infraestruturas, barragens, hidroelétricas, algo que afeta
especialmente os povos em isolamento voluntário, e que está custando a vida de
muitas pessoas, incluindo defensores e defensoras dos direitos humanos, cada
vez mais ameaçados numa região onde os efeitos das mudanças climáticas estão a
levá-la a um ponto sem retorno. Diferentes elementos e situações que foram
recolhidos num manifesto que o coordenador geral da COICA deu a conhecer.
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