Inovação tecnológica colocada ao serviço do Evangelho,
essa pode ser uma das definições em referência à 58ª Assembleia Geral da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil - CNBB, encerrada nesta sexta-feira, 16 de
abril, e que desde o dia 12 reuniu virtualmente umas 400 pessoas.
Esta tem sido uma assembleia de importância histórica,
em palavras de Dom Mário Antônio da Silva, que a considera como “verdadeira semeadura”
para a vida do episcopado, da Igreja, da sociedade brasileira e para o mundo. Mesmo
com as dificuldades geradas pelo momento atual da pandemia, a assembleia
respondeu às necessidades, segundo o bispo de Roraima, tendo acontecido
momentos de muita atenção e muita emoção. O segundo vice-presidente da CNBB
fazia um chamado a prosseguir unidos e sempre em frente.
Na sua análise da assembleia, Dom Jaime Spengler,
destacava três elementos: a expectativa, a pauta e o empenho. Após não ter sido
celebrada o ano passado, a 58ª Assembleia Geral da CNBB era um desafio, tendo
em conta seu caráter virtual, o alto número de participantes e a necessidade de
seguir os estatutos da entidade. O primeiro vice-presidente da CNBB afirma que “é
possível sim, utilizar a tecnologia para este tipo de eventos”, que tem como
vantagem um maior aproveitamento, a redução de custos, a atenção dos
participantes, mesmo sem diminuir a importância do encontro.
A pauta foi seguida mais do que satisfatoriamente,
segundo o arcebispo de Porto Alegre, que afirma que fizemos o que era possível
neste momento, além daquilo que prevíamos. Ele também destacava o empenho dos
assessores, de vários irmãos bispos em trabalhos em equipe ao longo destes
dias, e o esforço de muitos dos participantes em usar as mídias digitais.
No final da assembleia Dom Walmor Azevedo de Oliveira
disse ter o coração cheio de gratidão, insistindo em que a Assembleia Geral “não
foi um congresso, foi um encontro de pastores e de servidores do Povo de Deus”.
Tem sido um momento, segundo o presidente da CNBB, para a Igreja do Brasil “rever
seus caminhos e encontrar novas respostas”, para olhar sobre o mundo sofrido e
ferido, diante do qual “temos que nos debruçar para cuidar dessas feridas”, fazendo
um chamado a “colocar um pilar de esperança” num mundo sofrido. Ele insistia em
que os bispos saíram da assembleia fortalecidos e com alegria.
Falando sobre o uso político da religião, uma questão
que aparece na Mensagem ao Povo Brasileiro difundida no último dia da Assembleia,
Dom Walmor insistia em que “o uso político da religião é um equívoco, uma manipulação”,
afirmando a necessidade de a fé ser raiz iluminadora para a escolha da boa
política. Segundo o presidente da CNBB, “a manipulação da Religião significa
submeter interesses religiosos àquilo que está no âmbito político partidário”. Ele
fazia um chamado para os cristãos estar na sociedade brasileira para “anunciar
o Evangelho e não deixarmos crescer polarizações e muito menos judicializações
em torno a questões religiosas”. O arcebispo insistia na necessidade de não
cair em manipulações e sim “anunciar o Evangelho para que haja paz, justiça,
solidariedade, honestidade e verdade em tudo aquilo que fizermos”
Em referência à pandemia, um tema presente nos debates
da assembleia, Dom Jaime Spengler, destacava as “situações de dor, necessidades
de toda ordem, situações que exigiram e exigem empenho para responder aos
desafios que o vírus impôs e continua nos impondo”. O arcebispo insistia a
necessidade de unir fé e ciência, alabando “a solidariedade em meio a tanta dor,
a tanta morte”, algo muito presente em todas as pessoas. Ele relatava a
situação de desemprego, a falta de vacinas, o número de pessoas em situação de
rua. Dom Jaime enfatizava que diante desses fatos, “nós como Igreja, nós como
pastores não podemos nos calar, é o Evangelho que o exige, é Jesus que nos
exige”. Segundo o primeiro vice-presidente da CNBB, “quando a vida é ferida,
nós não podemos permanecer indiferentes”. Ele chamava a ter senso de
corresponsabilidade social, a cuidar e promover a vida e a esperança.
Em referência ao acordo assinado entre o Governo brasileiro
e o Governo dos Estados Unidos em referência à preservação da Amazônia, Dom Walmor
disse esperar que os governantes cumpram aquilo que eles dizem, destacando que “o
cuidado da Amazônia é fundamental, essencial para o equilíbrio da Casa Comum”.
No horizonte da Laudato Si´ os cristãos temos um grande compromisso de
trabalhar pela defesa da casa comum, segundo o arcebispo de Belo Horizonte,
algo que é assumido pela CNBB, que tem uma comissão nesse sentido. Junto com
isso, destacava a necessidade de um novo estilo de vida para evitar outras
pesadas pandemias. Ele fazia um apelo para a Igreja lutar por políticas de
preservação do meio ambiente, em diálogo com a sociedade e “com governos sérios”.
Pensando no futuro pastoral da Igreja na pós pandemia,
Dom Jaime Spengler, destacava a Palavra de Deus, Tema Central da 58ª Assembleia
Geral da CNBB “como base, como luz, como orientação necessária para que a
Igreja continue desenvolvendo a obra da evangelização”, se tornando “caminho
para renovar nossas comunidades”. A mesma coisa a Mensagem ao Povo Brasileiro, que
ele vê “como um convite para somarmos forças e não esmorecer diante dos
desafios que temos pela frente”, que tem a ver com o senso de corresponsabilidade
e continuar promovendo a obra do cuidado, respeito para com vida humana, para com
o luto, numa sociedade onde “falta solidariedade maior com a dor”.
O arcebispo de Porto Alegre pedia cuidado para com a
casa comum, afirmando a necessidade de políticas públicas muito serias,
determinadas neste campo, sem querer satisfazer interesses de grupos, e resgatando
o olhar divino sobre a criação. Ele fazia um chamado à unidade como empenho
decidido, a querer cooperar para deixar nosso mundo, nossa sociedade, nossas
comunidades melhores para as futuras gerações.
Em suas palavras finais Dom Walmor Azevedo de
Oliveira, após agradecer pelo serviço da comunicação, disse que “a Igreja existe
para evangelizar, o anúncio do Evangelho é essencial, e para isso a Igreja tem
que se comprometer com a vida em todas suas etapas”. O presidente da CNNB pedia
para a missão evangelizadora coragem, serenidade, alegria e esperança e profecia,
onde “a Igreja está no coração do mundo como servidora, anunciando Jesus
Cristo, lutando pela vida”. O arcebispo afirmava que o grande compromisso da
Igreja é dar testemunho do Evangelho, algo necessário num mundo em grandes e
profundas transformações.
“A sociedade brasileira é um tecido social, económico,
político, cultural e religioso rasgado”, segundo Dom Walmor, que convidava a
colaborar na reconstrução, com muita esperança, com a força do Evangelho. Se
dirigindo ao povo brasileiro, insistia em que “nós como Igreja católica do
Brasil estamos ao serviço da vida, dos pobres, dos sofredores e da construção
de uma sociedade mais justa e solidaria”, pedindo abandonar as polarizações. O
presidente da CNBB convocava ao “diálogo, em todas as instâncias, para que o
diálogo ajude a abrir mentes, a alargar corações e a trazer luzes novas para um
novo tempo”. Ele chamava a nutrir a esperança, a não destruir nada, nem ninguém,
a reacender a esperança num momento de muito luto e dor, a reviver a experiência
bonita da caridade, a construir um mundo mais justo e solidário.
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