A Conferência Eclesial da Amazónia acaba de anunciar a
nomeação do seu novo secretário executivo, o jesuíta Alfredo Ferro, que
agradece a Mauricio Lopez pelo seu serviço como secretário interino durante os
primeiros dez meses da CEAMA, que foi criada "a partir do compromisso
assumido pelo Sínodo Amazónico".
O novo secretário executivo da CEAMA sublinha que
"o Sínodo não fala propriamente de uma Conferência Eclesial, mas de uma
Conferência Episcopal". Como resultado da reflexão, algo que parece ao padre
Ferro ser muito apropriado, "fez-nos pensar numa Conferência Eclesial, o
que é uma novidade". Os estatutos já foram elaborados e entregues à
Congregação dos Bispos no Vaticano, e agora estão a ser revistos. Enquanto
aguarda a aprovação canónica, o jesuíta assinala que "estamos no processo
de elaboração dos regulamentos para esta Conferência Eclesial”.
Alfredo Ferro reconhece que "a responsabilidade
do secretário executivo é grande", embora ele próprio afirme que será um
trabalho de equipe, ao qual se acrescenta a perspectiva de "uma forte
articulação com os organismos eclesiais, com a REPAM, com o Celam, dado que a
própria CEAMA nidifica no Celam, embora tenha a sua autonomia, também com a
CLAR, com a Caritas, com as conferências episcopais, com as jurisdições
eclesiásticas". Na opinião do secretário executivo da CEAMA, "há um
interesse muito grande em tecer estas relações dentro da Igreja",
salientando o clima favorável, de abertura, de busca comum, nesta proposta de
sinodalidade, de caminhar juntos como Igreja, "quebrando fronteiras e, ao
mesmo tempo, procurando uma ligação e uma articulação muito forte".
Uma das grandes expectativas, que ele assume como
trabalho do secretario executivo, é "formular um plano pastoral conjunto
para a Igreja na Amazónia", que ele vê como "o foco da tarefa e da
missão". Para o tornar concreto, "o Sínodo apresenta-nos algumas
pistas, especialmente na busca desse rosto amazónico, de uma Igreja inculturada
e em diálogo intercultural, uma Igreja muito próxima dos povos
amazónicos". Sobre este ponto, o Padre Ferro vê como um dos desafios da
CEAMA, "ver de que forma todos os níveis eclesiásticos estão envolvidos,
mas não só isso, as comunidades, os territórios, os povos em geral, e sobretudo
a nível local, as jurisdições eclesiásticas, que na Amazónia são mais de
100".
Nestes meses foram dados passos importantes,
"definindo a partir dos sonhos da Querida Amazônia e do Documento Final do
Sínodo, uma série de pontos, a que chamamos núcleos temáticos, que é onde
queremos nos concentrar", diz Alfredo Ferro. Segundo ele, "alguns são
mais específicos da CEAMA, em geral são aqueles que surgem do sonho eclesial,
mas outros são mais específicos da REPAM". Há também pontos a serem
retomados em comissões conjuntas, insistindo no trabalho comum que está sendo
realizado entre a CEAMA e a REPAM, especialmente com o seu secretário
executivo, o irmão João Gutemberg Sampaio.
"O Sínodo deu-nos a base para construir coisas
novas, para trabalhar nelas, para assumir estes compromissos", diz o
jesuíta colombiano. Na sua opinião, é necessário compreender a CEAMA como parte
de um processo de vários anos, "que é consolidado e reforçado por todo o
processo preparatório do Sínodo, onde a REPAM desempenhou um papel muito
importante e significativo". Há um grande desafio, "em torno da
prática concreta da sinodalidade, que significa participação, escuta,
participação ativa dos leigos, das mulheres, dando voz ao local, aos
territórios, aos povos, aos espaços de diálogo, de abertura aos grandes desafios
que a Igreja na Amazónia tem".
Ferro dá alguns exemplos em que podemos ver novidade,
onde novas questões podem ser levantadas, que já foram formuladas neste
processo. Em primeiro lugar, fala da "rejeição das práticas colonialistas,
do esforço de uma Igreja que não só deve inculturar-se a si própria, como deve
entrar num forte diálogo intercultural com os povos amazónicos". Isto é
visto como "uma questão de novas formas de evangelização, de novas
propostas, que devem partir de um diálogo respeitoso com as culturas e de um
encontro produtivo e que, de alguma forma, confirma esta missão, este anúncio,
mas construído coletivamente".
Um segundo elemento-chave, "é o tema da
ministerialidade, uma Igreja ministerial, uma Igreja onde os serviços já
prestados pelos líderes da Igreja a nível local são reconhecidos”. Sobre este
ponto cita o ministério do cuidado da Casa Comum, do acolhimento dos
deslocados, o ministério das mulheres, "outros tipos de ministérios que
surgem das necessidades que as comunidades vivem, e em particular os serviços
que muitos homens e mulheres já prestam no território amazónico". É uma
Igreja servidora, que formaliza o que as comunidades já estão vivendo.
Outro elemento que é destacado pelo secretário
executivo da CEAMA tem a ver com o rito amazónico, ou melhor dito, com os ritos
amazónicos, dada a diversidade de culturas, afirmando que "a partir da
liturgia, dos sacramentos, da celebração, a Igreja também se faz algumas
perguntas e também poderia haver uma novidade". Juntamente com isto, tudo o
que tem a ver com a Universidade Amazónica, "como proposta de ensino
superior para a Amazónia", para a qual foi criada uma comissão que já está
começando a trabalhar e a provocar reflexões sobre o significado e a
contribuição da Igreja neste campo da educação. Também neste mesmo campo,
menciona as propostas de educação bilingue, algo levantado no Sínodo, e do qual
já estão sendo realizadas experiências, algo muito importante no processo de
inculturação e diálogo intercultural.
O tema do diaconato e do sacerdócio é outro elemento
em que, segundo o padre Ferro, "pouco progresso foi feito". Isto é
algo que tem a ver com a formação, perguntando "qual deve ser a formação
dos nossos seminários de presbíteros para trabalhar na Amazônia". Isto deverá
levar à revisão dos currículos, procurando propostas alternativas, que deverão
estar ligadas à questão das vocações sacerdotais. Juntamente com isto a questão
do diaconato permanente, afirmando que "de forma alguma podemos escapar às
questões sobre os viri probati, sobre as possibilidades de tornar realidade a
ordenação dos homens casados", algo sobre o qual, apesar do fato de não
haver avanços concretos por parte do Papa Francisco, "o Sínodo apontou
para pensar seriamente na possibilidade da ordenação dos homens casados",
que o jesuíta vê como algo que "será reavivado", afirmando que está
ligado ao tema da celebração e do sacramento, especialmente a Eucaristia como
centro da vida cristã e a dificuldade que as comunidades têm em celebrar a
Eucaristia.
Um último elemento é "o tema das mulheres, da
presença feminina na Igreja, o tema dos ministérios para as mulheres, e também,
embora não se diga muito, o tema do diaconato para as mulheres". O
secretário executivo da CEAMA reconhece que existem outros temas fundamentais
para continuar avançando no que poderia ser novidade, não só para a Igreja
Amazónica, mas também para toda a Igreja, e isto foi visto muito claramente na
repercussão que o Sínodo tem tido na Igreja universal".
Durante mais de um ano as atividades da REPAM e das
circunscrições amazónicas foram muito afetadas pela pandemia, diz o padre
Ferro, algo inimaginável depois do Sínodo, pois "isto ia afetar-nos como
Igreja naquilo que sonhávamos para a devolução aos territórios, às
comunidades". Embora algo tenha sido feito, o jesuíta reconhece que esta
devolução "foi muito limitada, devido às condições, devido às
circunstâncias, devido à devastação causada pela pandemia, devido à dificuldade
de movimento, devido aos cuidados que têm de ser tomados".
Nesta situação, "as jurisdições eclesiásticas
tiveram de se adaptar às condições, e com grande dificuldade foi possível fazer
o que se sonhava e o que se esperava", um elemento a ter em conta. Neste
ponto, "aparece todo aquele serviço que a Igreja deve prestar como Igreja
samaritana, como uma Igreja que está ao serviço da realidade que o povo vive na
sua vida quotidiana, de todos os contágios que existem, das mortes, dos
problemas de saúde". Por esta razão, o padre Ferro reconhece que "o
trabalho pastoral do dia-a-dia e dos territórios tem de ser modificado”. Um
exemplo é a intensificação da pastoral da saúde, algo que "é uma resposta
às condições em que as comunidades vivem".
Da sua experiência em Leticia, na Tríplice Fronteira
entre a Colômbia, o Peru e o Brasil, onde viveu nos últimos anos, ele diz que
"percebemos que o trabalho que tínhamos de fazer, quando a primeira onda
da pandemia começou, era estar ao lado das comunidades, acompanhando-as,
fornecendo-lhes alimentos, ferramentas, plantas de oxigênio", respondendo
assim às necessidades das comunidades. Isto é visto como "uma resposta
concreta às necessidades que as comunidades estavam experimentando". O
interessante foi que "não havia fronteiras, se fossem comunidades do
Brasil, do Peru, da Colômbia, nós tentámos responder a essas necessidades,
articulando também entre nós e vendo como, a partir da pastoral social, da vida
religiosa, da Caritas, podíamos enfrentar esta situação".
Embora a vacinação já tenha começado, ainda não é
possível reivindicar a vitória, diz o secretário executivo da CEAMA, que relata
outros problemas que estão surgindo, tais como o fato de muitos povos indígenas
não quererem ser vacinados. Isto leva-o a interrogar-se sobre o que isto
significa e como lidar com isto, "como trabalhar nestes problemas
concretos que estão surgindo na pandemia e que certamente aparecerão na
pós-pandemia". Falando da cidade colombiana de Leticia, que vive em grande
parte do turismo, que está completamente acabado, ele pergunta-se "o que
significa retomar a missão da Igreja, formulá-la a partir de uma situação de
crise em termos de desemprego, pobreza, fome, todas as dificuldades que as
comunidades estão a enfrentar, tanto nas comunidades urbanas como rurais".
O caminho é "estar muito próximo das comunidades,
compreender a realidade que estão vivendo e repensar a pastoral”. Segundo
Alfredo Ferro, "não somos apenas uma tenda de campanha, mas também temos
de encarnar esta vocação como Igreja samaritana", algo que deve ser
traduzido em "uma pastoral conjunta, que é como o grande desafio que a
CEAMA tem", para o qual esta e outras realidades devem ser tidas em conta,
porque "as consequências desta pandemia são tremendas e isto será tido em
conta nas opções, nas prioridades pastorais que a Igreja Amazônica deve
ter".
Nenhum comentário:
Postar um comentário