A Jornada Mundial dos Pobres, instituída pelo Papa
Francisco, tem se tornado um momento de reflexão para a Igreja e para a
sociedade. Em 2021 esta Jornada acontece pela quinta vez, e nos desafia a nos
questionar: “Sentes Compaixão?”.
Dentro das atividades da Semana dos Pobres, a Igreja de Manaus
organizou o “Seminário da V Jornada Mundial do Pobre”. Segundo Dom Leonardo Steiner,
“o Papa nos dá os meios de como evangelizar, de como viver o Evangelho, um novo
método de viver na Igreja”. Nesse novo modo de evangelizar, segundo o arcebispo
de Manaus, é fundamental “estar com os pobres, mostrar a razão de ser o Reino
de Deus”.
Além das palavras, segundo Dom Leonardo, somos chamados a
evangelizar a través dos gestos, da acolhida, do caminhar juntos. O arcebispo
insistiu em que “nossas palavras estão perdendo sua força e vigor”, sendo
desafiados a aprender com Jesus, que “tomava as crianças no colo, ressuscitava
mortos, dava comida, caminhava, tocava nos migrantes”. A Igreja de Manaus é
desafiada a organizar melhor a caridade, segundo seu arcebispo. Para isso está
sendo criado o Vicariato da Caridade. Tudo isso, numa Igreja que tem alma
missionária, tem gestos, tem braços, tem pernas, afirmou Dom Leonardo.
Esses braços e pernas se concretizam na Igreja de Manaus no
trabalho de diferentes pastorais, comunidades, congregações e fraternidades.
Algumas delas contaram sua experiência no trabalho com os pobres, especialmente
com os moradores de rua e com os migrantes. A Comunidade Nova Aliança, a
Fraternidade o Caminho, a Pastoral do Povo de Rua, o Serviço Pastoral do
Migrante, a Pastoral Indigenista, ajudou os participantes do Seminário a entender
a necessidade de ser sinal da misericórdia, a servir e caminhar com aqueles que
mais sofrem.
Na Igreja de Manaus, “esta Jornada teve um impulso maior,
tentando descentralizar as ações, sensibilizar as paróquias, porque a Jornada
Mundial, em primeiro lugar, é para a Igreja, e a Igreja sensibiliza a sociedade”,
segundo o padre Alcimar Araújo. O Vice-presidente da Caritas Arquidiocesana de
Manaus insistiu em que “o Seminário é extremamente importante para a gente
juntar as pessoas que trabalham diretamente com os pobres, os desfavorecidos”.
Isso é visto como “um embrião para depois, como é o desejo
de Dom Leonardo, fazer o Vicariato da Caridade, para a gente potencializar as nossas
ações, formando rede e tendo mais apoio para atender essas pessoas”, segundo o
padre Alcimar. Ele destacou a importância do Seminário como espaço onde “cobrar
do poder público, porque eles têm sua obrigação, eles têm a gestão do dinheiro,
que é público. Esse dinheiro muitas vezes é mal gasto, esse dinheiro muitas
vezes vai pelo ralo da corrupção, esse dinheiro não volta, como deveria voltar,
para a sociedade civil”.
Para o vice-presidente da Caritas Arquidiocesana de Manaus, “é
importante que nós, sociedade civil organizada que trabalha, faz alguma coisa
pelos pobres, também cobrássemos para que o governo fizesse sua parte”. Segundo
o padre Alcimar, “há muita coisa que pode ser feita, e a gente precisa estar
cobrando do governo para que isso seja realmente uma realidade que melhore a
vida do nosso povo”.
Numa sociedade em que vivemos rodeados pelos nossos problemas
e nem sempre olhamos para os outros, a Dra. Alzira Costa Melo, procuradora
chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima, chamou a refletir
sobre o papel do Ministério Público na sociedade, sobre o papel do procurador, chamado
a enxergar o sofrimento que é causado pela violação dos direitos humanos.
Diante disso, se faz necessária a cobrança da parte do Ministério Público e dos
órgãos de fiscalização.
Segundo a procuradora, além das ameaças, que tem aumentado
com a pandemia da Covid-19, existem no Brasil as ameaças políticas. Um exemplo
disso é a Proposta de Emenda Constitucional conhecida como a “PEC da Mordaça”,
que pretende impor limitações ao Ministério Público no seu trabalho
fiscalizador em defesa dos direitos humanos. A Dra. Costa Melo insistiu em que “os
recursos nunca serão suficientes para a atenção aos pobres”, incentivando a urgência
de políticas que pensam em soluções além do emergencial.
Estamos diante de um trabalho multidisciplinar, que precisa
da colaboração de todos os atores sociais. Nesse sentido, o representante do Conselho
de Segurança Alimentar insistiu em que o Conselho está querendo ser um espaço
plural, onde possam ser cobrados os direitos dos brasileiros. Por isso, é
importante implementar políticas diferenciadas para ajudar a superar as
situações de pobreza, buscando superar as causas estruturais dessa pobreza.
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