sexta-feira, 12 de novembro de 2021

Jornada Mundial dos Pobres: estar com os pobres como modo de evangelizar


A Jornada Mundial dos Pobres, instituída pelo Papa Francisco, tem se tornado um momento de reflexão para a Igreja e para a sociedade. Em 2021 esta Jornada acontece pela quinta vez, e nos desafia a nos questionar: “Sentes Compaixão?”.

Dentro das atividades da Semana dos Pobres, a Igreja de Manaus organizou o “Seminário da V Jornada Mundial do Pobre”. Segundo Dom Leonardo Steiner, “o Papa nos dá os meios de como evangelizar, de como viver o Evangelho, um novo método de viver na Igreja”. Nesse novo modo de evangelizar, segundo o arcebispo de Manaus, é fundamental “estar com os pobres, mostrar a razão de ser o Reino de Deus”.

Além das palavras, segundo Dom Leonardo, somos chamados a evangelizar a través dos gestos, da acolhida, do caminhar juntos. O arcebispo insistiu em que “nossas palavras estão perdendo sua força e vigor”, sendo desafiados a aprender com Jesus, que “tomava as crianças no colo, ressuscitava mortos, dava comida, caminhava, tocava nos migrantes”. A Igreja de Manaus é desafiada a organizar melhor a caridade, segundo seu arcebispo. Para isso está sendo criado o Vicariato da Caridade. Tudo isso, numa Igreja que tem alma missionária, tem gestos, tem braços, tem pernas, afirmou Dom Leonardo.



Esses braços e pernas se concretizam na Igreja de Manaus no trabalho de diferentes pastorais, comunidades, congregações e fraternidades. Algumas delas contaram sua experiência no trabalho com os pobres, especialmente com os moradores de rua e com os migrantes. A Comunidade Nova Aliança, a Fraternidade o Caminho, a Pastoral do Povo de Rua, o Serviço Pastoral do Migrante, a Pastoral Indigenista, ajudou os participantes do Seminário a entender a necessidade de ser sinal da misericórdia, a servir e caminhar com aqueles que mais sofrem.

Na Igreja de Manaus, “esta Jornada teve um impulso maior, tentando descentralizar as ações, sensibilizar as paróquias, porque a Jornada Mundial, em primeiro lugar, é para a Igreja, e a Igreja sensibiliza a sociedade”, segundo o padre Alcimar Araújo. O Vice-presidente da Caritas Arquidiocesana de Manaus insistiu em que “o Seminário é extremamente importante para a gente juntar as pessoas que trabalham diretamente com os pobres, os desfavorecidos”.

Isso é visto como “um embrião para depois, como é o desejo de Dom Leonardo, fazer o Vicariato da Caridade, para a gente potencializar as nossas ações, formando rede e tendo mais apoio para atender essas pessoas”, segundo o padre Alcimar. Ele destacou a importância do Seminário como espaço onde “cobrar do poder público, porque eles têm sua obrigação, eles têm a gestão do dinheiro, que é público. Esse dinheiro muitas vezes é mal gasto, esse dinheiro muitas vezes vai pelo ralo da corrupção, esse dinheiro não volta, como deveria voltar, para a sociedade civil”.    



Para o vice-presidente da Caritas Arquidiocesana de Manaus, “é importante que nós, sociedade civil organizada que trabalha, faz alguma coisa pelos pobres, também cobrássemos para que o governo fizesse sua parte”. Segundo o padre Alcimar, “há muita coisa que pode ser feita, e a gente precisa estar cobrando do governo para que isso seja realmente uma realidade que melhore a vida do nosso povo”.

Numa sociedade em que vivemos rodeados pelos nossos problemas e nem sempre olhamos para os outros, a Dra. Alzira Costa Melo, procuradora chefe do Ministério Público do Trabalho no Amazonas e Roraima, chamou a refletir sobre o papel do Ministério Público na sociedade, sobre o papel do procurador, chamado a enxergar o sofrimento que é causado pela violação dos direitos humanos. Diante disso, se faz necessária a cobrança da parte do Ministério Público e dos órgãos de fiscalização.

Segundo a procuradora, além das ameaças, que tem aumentado com a pandemia da Covid-19, existem no Brasil as ameaças políticas. Um exemplo disso é a Proposta de Emenda Constitucional conhecida como a “PEC da Mordaça”, que pretende impor limitações ao Ministério Público no seu trabalho fiscalizador em defesa dos direitos humanos. A Dra. Costa Melo insistiu em que “os recursos nunca serão suficientes para a atenção aos pobres”, incentivando a urgência de políticas que pensam em soluções além do emergencial.

Estamos diante de um trabalho multidisciplinar, que precisa da colaboração de todos os atores sociais. Nesse sentido, o representante do Conselho de Segurança Alimentar insistiu em que o Conselho está querendo ser um espaço plural, onde possam ser cobrados os direitos dos brasileiros. Por isso, é importante implementar políticas diferenciadas para ajudar a superar as situações de pobreza, buscando superar as causas estruturais dessa pobreza.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

Nenhum comentário:

Postar um comentário