Conhecer a realidade é um requisito para a missão, algo que
a Igreja do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), vem fazendo com o Curso de Realidade Amazônica desde 1991.
Mais uma vez, o Instituto de Teologia, Pastoral e Ensino
Superior da Amazônia (ITEPES), em parceria com o Regional Norte 1 da CNBB, a
Comissão Episcopal para a Amazônia e em comunhão com a REPAM, depois de um ano
sem curso como consequência da pandemia da Covid-19, tem juntado 39
missionários e missionárias, presbíteros, religiosas e religiosos e laicas, chegados
da Europa, Ásia, África, América e também de outras regiões do Brasil, para participar
do curso, que iniciou no dia 9 de fevereiro e será encerrado no dia 26.
Eles estão fazendo realidade aquilo que os bispos da Amazônia
brasileira, reunidos em Manaus em outubro de 2013, colocaram como compromisso: “investir
na formação de presbíteros e de irmãos e irmãs de vida consagrada – autóctones
e os que chegam de fora – para que sejam despojados, simples, não busquem a
autopromoção, que sejam missionários e vivam em maior sintonia e contato com as
comunidades e saibam trabalhar em equipe com os leigos e as leigas, evitando
centralismo, clericalização e autoritarismo”.
O curso pretende “oferecer aos agentes de evangelização
engajados nas diversas frentes de trabalho pastoral, um conjunto de informações
mais sistematizadas sobre a própria região amazônica, concentrando sua reflexão
sobre o humano, o meio ambiente, a vida e a ação evangelizadora da Igreja”. Os
participantes são convidados a “uma imersão no território, na história e
temáticas contemporâneas da realidade amazônica, refletindo sobre as questões
pastorais emergentes para compreender a missão da Igreja como ‘amazonizar’ a
teologia e as práticas missionárias, a partir de uma metodologia sinodal, decolonial
e intercultural”.
Ao longo do curso são abordadas questões de antropologia, história,
realidade, Bíblia e Teologia, Igreja e Pastoral. O curso tem momentos de aulas
teóricas e vivências nas comunidades ribeirinhas e da periferia de Manaus.
Mariana Salbeli é da Argentina e pertence à comunidade
missionária Cristo Ressuscitado. Consagrada há 30 anos, ela veio com outra irmã
e uma jovem voluntária para trabalhar em Tonantins, Diocese de Alto Solimões,
sendo a primeira experiência de sua comunidade na Amazônia. É uma experiência intercongregacional
junto com as irmãs de Santa Catarina. A chegada delas é "uma resposta ao
Papa Francisco em seu chamado para se amazonizar, vamos fazer um discernimento
do lugar para ver o que podemos fazer como comunidade".
Ela diz ter vindo para "conhecer e aprender com a
sabedoria destes povos, com o caminho da Igreja aqui", do qual ela destaca
o cuidado da casa comum, "algo que hoje é uma questão para o mundo
inteiro", de acordo com a consagrada. Ela insiste que "os povos
indígenas têm a sabedoria de ter vivido juntos na Amazônia e de ter cuidado e
ter essa sabedoria de viver em união, todos interligados, o que o resto de nós
não temos".
Da Igreja na Amazônia, ela diz conhecer o grau de
comprometimento dos leigos, uma expressão da sinodalidade, que segundo ela
"já é vivida há algum tempo, nas comunidades, com os catequistas, onde não
há clero. É toda uma experiência eclesial que fala ao resto da Igreja".
Seguindo os sonhos da Querida Amazônia, uma reflexão
presente no curso, ela afirma que "os 4 sonhos são bons para mim",
mas fala da citação que diz que os povos da Amazônia "são os primeiros
interlocutores, com quem temos que aprender, e onde nossos projetos, nossos
pensamentos, colocá-los, abri-los, para ver se eles respondem às suas
necessidades". Por esta razão, ela conclui dizendo que "meu sonho é
poder ouvir as necessidades, os sonhos que existem aqui, as alegrias, as
tristezas, e dar minha vida para construir esses sonhos".
Também na diocese de Alto Solimões, Mayra Gutiérrez, uma
jovem mexicana de 25 anos, missionária leiga marista, com um compromisso de
dois anos, que vive em Tabatinga com dois irmãos maristas, vai trabalhar. Ela
diz que seus sonhos e ter claro que as coisas podem ser diferentes levaram-na a
deixar tudo em sua Guadalajara nativa para viver na Amazônia. Ela reconhece que
"é uma decisão difícil deixar a família, deixar o que se construiu, mas eu
tenho uma convicção muito forte de que as coisas na sociedade, neste mundo,
podem ser diferentes".
É por isso que ela diz ter vindo para a Amazônia, pensando
na preservação ecológica e também em toda a sabedoria dos povos indígenas, que
por mais de 500 anos foram desacreditados, historicamente foram vítimas de
exclusão e discriminação, e devemos a eles a recuperação desses espaços para
eles". Daí a importância das "pequenas coisas que estamos fazendo,
que não são apenas para mim, mas para todos".
Na Igreja da Amazônia ela espera encontrar novos caminhos,
novas perspectivas, diferentes realidades de viver e ser Igreja, especialmente
levando em conta a voz das mulheres, das crianças e dos jovens".
Padre Jaime Alfonso Quintero, Missionário de Yarumal, está
na selva colombiana há 29 anos, dois deles na Venezuela. Há três meses ele
chegou à Diocese de São Gabriel da Cachoeira, pensando no trabalho pastoral na
fronteira, em uma região onde o Brasil, a Colômbia e a Venezuela se encontram,
embora atualmente ele acompanhe os migrantes venezuelanos.
O religioso entende a pastoral da fronteira, algo que surgiu
fortemente durante o Sínodo para a Amazônia, como "um ir e vir,
acompanhando e formando, formando catequistas, formando líderes, porque não há
ninguém naquela fronteira". É uma região onde ele vê a necessidade de
formar equipes, embora também existem dificuldades econômicas para sustentar
essas equipes.
Em sua missão em Mitú (Colômbia) ele tinha uma estação de
rádio, algo que o ajudava a enviar "um pequeno comprimido todos os
dias" para aqueles que viviam no meio da selva. Padre Quintero considera o
rádio como "a maneira mais fácil para a mensagem chegar àqueles que estão
no meio da selva na Amazônia, um lugar de longas distâncias, chegando aos
analfabetos, aqueles que estão trabalhando, aqueles que estão viajando". É
por isso que ele insiste em "colocar o rádio na selva para evangelizar,
para promover a cultura".
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