Querida Amazônia inspirou
a vida da Igreja na região amazônica, também na Arquidiocese de Manaus. Dom
Leonardo Steiner, arcebispo da circunscrição eclesiástica com mais população da
região, analisa os passos dados na Arquidiocese, que está vivenciando a Assembleia
Sinodal Arquidiocesana.
O arcebispo destaca a
importância da escuta, o que vai ajudar a descobrir “como deveríamos ser como
Igreja Católica”. A tarefa será “despertar as pessoas para novos caminhos,
especialmente quanto à inculturação da fé, da espiritualidade, dos ministérios”.
Dom Leonardo insiste no “esforço
de estarmos nas comunidades da periferia, nas comunidades indígenas, nas
comunidades ribeirinhas”. Mas também de fazer com que essas comunidades “caminhem
autonomamente, assumindo os ministérios, celebrando a presença de Jesus e do
seu Reino”. É momento de sonhar, de entender que “se desenvolvimento significa
destruição, estamos mal”. Sempre em vista de “uma Amazônia com menos contrastes
sociais”.
Depois de dois anos da
Querida Amazônia, como estão sendo concretizados os sonhos do Papa Francisco na
Igreja da Amazônia, particularmente na Arquidiocese de Manaus?
O Regional Norte I da
Conferência Nacional dos Bispo do Brasil (CNBB), na elaboração de orientações
ou Diretrizes buscou inspiração e força na Querida Amazônia. As igrejas da
Pan-amazônia estão contribuindo e na expectativa de orientações que estão
sentido discutidas e elaboradas pela Conferência Eclesial da Amazônia (CEAMA). Além
de refletir a Carta de Papa Francisco, na Arquidiocese, o passo mais
significativo que temos dado é a Assembleia Sinodal Arquidiocesana.
É a tentativa de envolver
todas as comunidades e as expressões eclesiais no processo sinodal. A escuta
realizada como processo sinodal que levou a documento final e a Carta com os
quatro sonhos, iluminará nosso caminho eclesial. Papa Francisco em Querida
Amazônia nos apresenta quatro sonhos que indicam a totalidade da vida que está
a na Amazonía. A sinodalidade busca ouvir as realidades que os sonhos apontam.
Escutar para propor a presença da Igreja mais missionária, mais misericordiosa,
mais profética.
Abrir espaços sempre mais
significativos para que as comunidades possam se manifestar e dizer como deveríamos
ser como Igreja Católica; que ministérios são necessários, como levarmos em
consideração as expressões de religiosidade, como levar em consideração as
culturas. Como ir mais ao encontro dos necessitados, dos pobres. A grande
diversidade da Igreja que está na Arquidiocese de Manaus exige muita escuta,
para caminharmos juntos com nossas diferenças e diferentes tradições.
O Sínodo para a Amazônia
tinha como objetivo a busca de novos caminhos. Até que ponto a Igreja e a
sociedade amazônica sentem a necessidade de avançar nesses novos caminhos?
A Igreja na Amazônia foi
buscando caminhos, foi encontrando modos de navegar nessas terras, nesses rios,
para anunciar a Jesus e ser expressão do reino. Se buscarmos sonhar como nos
propõe Papa Francisco, necessitamos caminhar, navegar. A ameaça em relação ao
meio ambiente, fica sempre mais crítica, a ameaça aos povos indígenas fica
sempre mais incontrolável. A participação dos leigos é extraordinária, mas como
expressar essa participação em todos os momentos da vida eclesial, sem
clericalismo.
Certamente será tarefa despertar as pessoas para novos caminhos, especialmente quanto à inculturação da fé, da espiritualidade, dos ministérios. Provavelmente as comunidades indígenas, as comunidades ribeirinhas nos oferecerão elementos importantes para o caminhar de nossa igreja arquidiocesana. Levar em consideração a escuta, já presente nas Assembleias Arquidiocesanas, ajudará nessa busca.
A Arquidiocese de Manaus
está marcada pela realidade urbana, principalmente da periferia, mas também
pelas comunidades ribeirinhas e indígenas. Quais os passos que estão sendo
dados em cada uma dessas realidades a partir da reflexão do Sínodo para a
Amazônia, recolhida na Querida Amazônia e no Documento Final do Sínodo?
Também
que elas caminhem autonomamente, assumindo os ministérios, celebrando a
presença de Jesus e do seu Reino. Estar na atenção e no diálogo, a buscar
expressões religiosas que possam fazer parte da liturgia, nas celebrações das
comunidades, especialmente indígenas e ribeirinhas. O texto Querida Amazônia
nos incentiva a sermos uma Igreja que leva em consideração todas as realidades,
não apenas eclesial. Tudo deveria ser transformado pela força do Evangelho.
Como
arcebispo de Manaus, a maior cidade da Amazônia, quais são seus sonhos para a
Amazônia e para a Igreja que caminha nesta região?
Os
sonhos são muitos. É importante sonhar. Os sonhos nos motivam. Sermos mais
atuantes quanto à vida das comunidades eclesiais. Na nossa realidade atentos e
atuantes quanto ao meio ambiente. A Laudato Sì´ nos abriu o horizonte da
compreensão: passarmos da desfrutação e destruição para o cultivo e cuidado. Ir
criando uma cultura do cuidado e do cultivo. Vemos como avança a destruição do
meio ambiente e tudo em nome do desenvolvimento. Se desenvolvimento significa
destruição, estamos mal. Temos uma contribuição a dar cuidando do meio
ambiente, das nossas culturas os povos originários, do estilo de viver que leve
harmonia.
Uma
Amazônia com menos contrastes sociais: possibilidades de emprego, de educação,
de saúde. É missão da Igreja, faz parte da evangelização, estarmos na atenção da
harmonia social, do bem cultural do cuidado da casa comum. Uma Igreja que
esteja sempre mais presente nas periferias, nas realidades ribeirinhas e ali
possa demonstrar o caminho das bem-aventuranças. Todos possam perceber que em Jesus
e seu reino é possível transformar, viver a beleza da vida. Uma Igreja
samaritana, onde as pastorais servem e interagem para o bem dos pobres, dos
necessitados.
Nesse
sentido assumirmos o espaço da antiga cadeia pública para oferecer acolhimento
e solidariedade aos pobres, necessitados, será a concretização do sonho de
nossa igreja em Manaus como Igreja dos pobres. Estamos para celebrar 70 anos
como Arquidiocese. Este lugar da caridade e da solidariedade será um marco e
sinal do nosso desejo de vivermos e seguirmos a Jesus. Nós encerrarmos o Ano de
São José em nossa igreja que está em Manaus, estaremos sob sua proteção e
cuidado, como cuidou de Jesus e Maria.
Cuidarmos
do corpo chagado de Jesus será um bem para a nossa Igreja. Nossa Igreja sempre
mais sinal da misericórdia, da transformação, sinal de esperança. A nossa
Igreja, a Arquidiocese, tem história, tem passado! Podermos continuar o anúncio
da verdade e da liberdade.
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