A violência deixou de ser um conceito e se tornou algo
próximo, muito próximo da gente, uma violência que faz com que a vida da gente
dependa de um dedo colocado no gatilho de uma arma que pode ser disparada por
alguém que pouco ou nada tem a perder.
Em qualquer lugar que você estiver, na rua, no ônibus,
no rio, inclusive dentro da própria casa, corre o risco de ficar na mira da
arma. A gente não fala de coisas que aparecem nos jornais e sim de situações
pelas que nos últimos dias a gente passou e também pessoas próximas, o que nos
faz ver com preocupação o futuro de uma sociedade que se precipita ladeira
embaixo.
A coisa mais fácil é culpabilizar aqueles que empunham
as armas, que não estão livres de culpa, mas também não podemos dizer que eles
são os únicos culpados. Somos também vítimas de um Estado falido, onde as
políticas públicas se tornaram inexistentes, onde se quer disfarçar a falta de
segurança pública querendo colocar armas na mão do povo, armas que também estão
nas mãos de pessoas que as usam para delinquir.
O desemprego, sobretudo entre os mais jovens e entre
os estratos sociais mais baixos aumenta a cada dia, o que faz com que outras
alternativas, claramente ilícitas, se tornem opção, muitas vezes a única escolha.
Sem emprego, sem expectativa de vida, sem perspectivas claras de futuro, as alternativas
se reduzem, e todos somos prejudicados por uma situação social que também, em
maior ou menor medida, ajudamos a criar.
Aí a gente logo diz que nada tem a ver com tudo isso,
mas na verdade afirmar isso é consequência da nossa falta de reflexão, de nos questionarmos
sobre o rumo de uma sociedade da qual todos e todas fazemos parte. Na vida
social, os problemas são igual bola de neve, que só cresce na medida em que a
deixamos rodar, na medida em que nos desentendemos daquilo que acontece do
nosso lado.
Cada vez mais, nos isolamos atrás das nossas falsas
seguranças, nos desentendemos de situações que estão do outro lado do muro que
temos levantado para supostamente nos proteger. Mas sabemos que não podemos
viver eternamente isolados, e que antes ou depois vamos nos tornarmos vítimas
desse sistema enfermo.
Como mudar a realidade? O que fazer como sociedade
para oferecer alternativas reais para aqueles que hoje fazem escolhas erradas? Como
contribuir para superar situações que só serão resolvidas na medida em que
todos nos envolvamos? O que eu posso fazer? O que eu vou fazer para que o
futuro seja diferente, para que a sociedade do amanhã não sofra com aquilo que
hoje nós estamos sofrendo?
Não é só com os outros, também é comigo, com você, com
todos nós. Antes ou depois, essa violência vai chegar próxima de você, mas
nesse momento dificilmente vamos resolver o que deveria ter sido resolvido
antes, muito antes. Não esqueça que estar na mira sempre é um grande risco, e
cuidar da vida sempre tem que ser prioridade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário