A
preocupação tanto com a formação inicial como com a formação permanente dos
presbíteros está presente na Igreja da Amazônia. O Papa Francisco na exortação
apostólica pós-sinodal “Querida Amazônia” faz um chamado a “rever a fundo a
estrutura e o conteúdo, de modo que adquiram as atitudes e capacidades
necessárias para dialogar com as culturas amazónicas”, insistindo em que “esta
formação deve ser eminentemente pastoral e favorecer o crescimento da
misericórdia sacerdotal”.
Uma
proposta que também aparece no Documento Final do Sínodo para a Amazônia quando
fala de itinerários de formação inculturada. Um itinerário formativo espiritual
que “deve ser uma escola comunitária de fraternidade, experiencial, espiritual,
pastoral e doutrinal, em contato com a realidade das pessoas, em harmonia com a
cultura e a religiosidade locais, próxima aos pobres”. Por isso, a Assembleia
Sinodal propõe “um plano de formação que responda aos desafios das Igrejas
locais e a realidade amazônica”.
São
elementos que se fazem presentes na Faculdade Católica do Amazonas, apresentada
neste 23 de setembro com a presença dos bispos do Regional Norte1 da
Conferência Nacional dos Bispos do Brasil, e de autoridades da sociedade e da
Igreja católica no Amazonas. Uma sociedade que reconhece o papel da Igreja na
educação do povo do Amazonas, segundo mostrou o Dr. Aristóteles Alencar,
presidente da Academia Amazonense de Letras, que fez uma resenha da educação
católica no Amazonas, uma oportunidade para revisar a história da Igreja da
Amazônia, definindo a nova faculdade como o coroamento de um trabalho
centenário.
A ideia da
Faculdade Católica do Amazonas surgiu um ano atrás, no dia 23 de setembro de
2021, durante a 16ª Assembleia da Associação Amazônica para Pesquisa e Educação
Cristã (AAPEC). No último ano foi realizado um amplo trabalho, que Dom Edson
Damian, presidente do Regional Norte1, agradeceu em nome dos bispos. Um
trabalho que teve a participação do padre Ricardo Castro, Diretor da nova
faculdade, que considera um kairós, expressão de “novos tempos de mulheres e
homens de corações renovados, decolonizados, para novas possibilidades na
Amazônia”.
Ele afirmou
que “nós vislumbramos como Faculdade tempos amazônicos”, lembrando que carregam
“as responsabilidades de uma longa tradição histórica, a memória da Igreja
missionária nesse chão, nessa realidade, memória de nossos povos, povos
indígenas, povos ribeirinhos, povos quilombolas”, mas também a memória dos
mártires e sábios do campo académico e das culturas da Amazônia, buscando “o
cuidado pela vida, o cuidado e realização da nossa missão”. Para isso pediu que
o Cristo que aponta para a Amazônia, em palavras de Paulo VI, ele “ilumine
nossas mentes, nossas ações e nossos caminhos educativos”. E junto Ele, a Mãe
da Amazônia, que seja companheira e mestra de labutas para “nos tornarmos cada
vez mais amazônidas”.
O cardeal Steiner, que disse ter saudade do seu tempo de professor, começou afirmando que “somos seres pensantes, só o ser humano pensa”, algo que obriga “a nos responsabilizar pelo nosso existir”, fazendo com isso uma referência ao lema da Faculdade Católica do Amazonas: “Vida e Verdade”. O Arcebispo de Manaus fez ver a responsabilidade de pensar, meditar, a vida que nos é dada, algo que se faz a partir do Mistério da Encarnação.
Se referindo ao pensamento do Papa Francisco em Querida Amazônia, o cardeal fez um chamado à responsabilidade de “ler a realidade em sua totalidade”, em uma hermenêutica da totalidade, uma missão que deve ser assumida pela Teologia. Tudo isso em vista de buscar a verdade do existir do humano, em meio da violência, da pobreza, de tantos conflitos, neste vale de lágrimas, ressaltando que “quando encontramos a verdade no existir, se eleva a esperança”. Uma faculdade pretenciosa, segundo Dom Leonardo, que deseja “pensar a vida e a verdade, mas a partir de um Deus Encarnado”.
Uma
faculdade dentro de uma trajetória eclesial, em que “a Igreja foi sempre de
novo tentando evangelizar, missionar, pensar a sua ação evangelizadora, como
pensar o ser humano, como pensar as comunidades, como estar presente e o fez de
maneiras tão diversas, mas procurou fazer também com a academia”. Uma faculdade
que o cardeal não vê como ponto de chegada e sim um “dar continuidade a esses
passos tão profundos marcados na história da nossa Querida Amazônia”.
Uma
Faculdade que Dom Leonardo quer “nos ajude a pensar”, insistindo em que “ela
está ao serviço das nossas igrejas”, mas também da sociedade, agradecendo o
diálogo sempre presente entre a sociedade, o mundo académico e a Igreja no
Amazonas, um diálogo necessário para que “possamos pensar como é esse Deus que
parece ausente no tempo da ciência e da técnica”.
A partir
daí descobrir a presença do Verbo Encarnado e “como Faculdade ajudarmos a
construir uma sociedade mais justa, cada vez mais fraterna, uma sociedade que
sai a cuidar de se mesma, uma sociedade saudável, onde ninguém se sente
descartado, violentado, desprezado”. Uma Faculdade que seja “expressão da
familiaridade de nosso povo”, que se faz presente na solidariedade e
receptividade do povo, que faz a quem chega se sentir em casa.
Tudo isso
tendo presente que pensar a educação é pensar nas futuras gerações e no futuro
da humanidade, é algo profundamente arraigado na esperança e exige generosidade
e coragem.
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