terça-feira, 20 de setembro de 2022

Realidade sociopolítica, eclesial e pastoral fundamento da caminhada do Regional Norte1


Analisar a conjuntura sempre tem sido um elemento importante para a Igreja do Brasil. Seguindo esse costume, depois da celebração presidida por Dom Leonardo Steiner, em que foi acolhido como Cardeal da Amazônia pelo Regional Norte1, foi analisada a conjuntura social e eclesial.

O Brasil, tem sido historicamente uma sociedade marcada sistematicamente por desigualdades em que poucos tem acesso a muito e muitos têm acesso a pouco, segundo Marcelo Seráfico. Uma realidade atual, que se faz visível na insegurança alimentar, que atingem 60% por cento da população, mesmo com o aumento da exportação de alimentos, no trabalho informal, na falta de moradia, com uma parte significativa da população, no Amazonas 50%, que vive em favelas, a perda de direitos trabalhistas.

Segundo o professor da Universidade Federal da Amazônia (UFAM), a Constituição de 1988 surgiu para reparar as desigualdades, algo que não se conseguiu. Hoje a sociedade brasileira está marcada pelo autoritarismo, a violência como algo normalizado, que se tornou entretenimento nos meios de comunicação e nas conversas entre as pessoas, afirmou Seráfico, que falou da “normalização do absurdo”, de uma sociedade que expulsou aqueles que mais precisam através de mecanismos econômicos.



Uma população desencantada com a política, que foi aproveitado por políticos sem escrúpulo, que tem conduzido à criminalização, à agressão do diferente, à suspensão do diálogo, à educação para a competição. Isso demanda, segundo o professor resolver os problemas históricos, a autoritarismo histórico nas relações. Mas também, olhando para a sociedade atual, diante da tentativa de liquidação do país, que na Amazônia se faz visível na medida em que é vista como lugar de expansão da fronteira de exploração, que se dá de forma violenta, de maneira brutal, voltar a um projeto de país onde existe a coisa pública, onde se fale de distribuição, de novas estratégias e políticas, que superem as fronteiras.

Isso numa Igreja onde o grande protagonista é o Papa Francisco, segundo Dom Adolfo Zon, que analisou a conjuntura eclesial. Um Papa, considerado como exemplo para a Igreja, que aposta numa “Igreja despojada, em saída, dialogal, evangelizadora, todos caminhando juntos, a serviço da paz e do cuidado da criação”. Um Papa que insiste na sinodalidade como caminho e na importância do povo de Deus e da missão, querendo combater “a auto referencialidade, o clericalismo, o mundanismo espiritual e litúrgico, o pelagianismo pastoral, o gnosticismo doutrinário”, o que segundo o bispo, “tem deixado uma porção de clérigos e seminaristas aborrecidos com o Papa”.

Dom Adolfo foi relatando diferentes experiencias de sinodalidade vividas na Igreja do Brasil nas últimas décadas, uma sinodalidade que “exige mudanças no Direito Canônico”, uma sinodalidade que, mesmo aos poucos, vai se fazendo presente no maior protagonismo das mulheres, dos leigos, em espaços de decisão, inclusive na Cúria Vaticana. Também mostrou a maior presença no Colégio Cardinalício de purpurados chegados das periferias, destacando que em um conclave os europeus já não seriam europeus.



O Bispo da Diocese de Alto Solimões falou sobre posturas contrárias ao Magistério do Papa Francisco, sobre influencers que “agradam o ouvido popular com aspectos devocionais e catequese tradicional”, que “apresentam rigidez, agressividade, acusações a inimigos, com juízos inadequados e injustos”. Dom Adolfo também relatou “o índice crescente e preocupante de depressão e de suicídios de clérigos”, as contradições presentes na Igreja, as consequências da pandemia, que também é vista como ajuda para “sensibilizar e refletir sobre a vulnerabilidade, a finitude, a necessidade de amparo e de elaboração de perdas no luto, de escuta e de acompanhamento pastoral”.

O Regional Norte1 tem como fundamento da sua caminhada eclesial as Diretrizes, que nos ajudam a perceber que nossos processos pastorais, mesmo com as dificuldades, continuam avançando. Isso apareceu na partilha da caminhada das dioceses e prelazias do Regional no último ano, mostrando as ricas experiencias que fazem parte da vida das igrejas particulares do Regional Norte1 da CNBB.

Diretrizes que tem elementos comuns com o Documento nascido do IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia Legal, realizado com motivo dos 50 anos do Encontro de Santarém, “certidão de batismo da Igreja da Amazônia”. Documentos que tem como base a encarnação na realidade e a evangelização libertadora, “um chamado para que todo processo de evangelização não se distancie do anúncio kerigmático”, segundo o padre Zenildo Lima.



Buscar uma evangelização que interfira na vida das pessoas, uma Igreja que não tem atitudes em torno de si mesma e sim da vida das pessoas. Isso em profunda comunhão com a caminhada da Igreja do Brasil. Umas Diretrizes que a 49ª Assembleia do Regional Norte1 quer fazer avançar segundo as interpelações do Encontro de Santarém do passado mês de junho.

Elementos que incidem em múltiplos elementos presentes na vida das igrejas particulares, das paroquias e comunidades, das pastorais e movimentos, marcadas pela missionariedade, “carteira de identidade da Igreja da Amazônia”, como a definiu o reito do Seminário São José, pela sinodalidade, assumida mesmo nas dificuldades provocadas pelas grandes distâncias que fazem parte das igrejas do Regional Norte1, pela ministerialidade, e tantos outros elementos que enriquecem uma caminhada que anima a continuar avançando.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nenhum comentário:

Postar um comentário