segunda-feira, 17 de outubro de 2022

Dom Leonardo: “A oração conserva a fé, a confiança em Deus mesmo não compreendendo a sua vontade”


“A necessidade de rezar sempre, e nunca desistir” é o convite de Jesus a permanecer, a estar em oração, segundo Dom Leonardo Steiner. Em sua homilia dominical, o Arcebispo de Manaus afirmou que “não se trata de rezar de vez enquanto, quando temos vontade. Em um estado orante. Perseverar!”

Analisando a passagem do livro do Êxodo 18,21, o cardeal vê que “recomenda que os juízes sejam pessoas tementes a Deus, dignas de fé, imparciais e incorruptíveis”. Segundo ele, “Moisés instituiu juízes imparciais, inimigos do suborno, que julgassem segundo a Lei. Assim, as palavras do juiz, diante da pobre viúva, nos espantam. Aquele que deveria ter a justiça como guia, como orientação de vida afirma: ‘Eu não temo a Deus e não respeito homem algum’”.

Nas palavras do juiz, Dom Leonardo vê uma “linguagem que expressa a dureza de coração, a autossuficiência, o desprezo pela justiça, a injustiça para com os pobres e desvalidos, os quase sem ninguém. A linguagem de quem se julgam acima de todos, intocável e único intérprete da verdade. O Evangelho a nos apresentar uma pessoa que, diante da responsabilidade da justiça coloca-se na distância, na irresponsabilidade da justiça, no desprezo pela viúva, necessitada, desamparada. Sem escrúpulos, sem consideração à Lei, faz o que quer, é um surdo, um insensível; vive como que a parte da justiça”.

Segundo o arcebispo, citando o Papa Francisco, a viúva era, em geral, a mais pobre dos pobres. Ela sem guarida, sem valia, pobre, normalmente perdia até os filhos, uma vez viúva. Elas, os órfãos e os estrangeiros, eram as pessoas mais frágeis da sociedade. Os direitos assegurados pela Lei podiam ser espezinhados com facilidade, pois eram pessoas sós e indefesas: uma pobre viúva, ali sozinha, ninguém a defendia, podiam ignorá-la, sem lhe fazer justiça. O mesmo pode-se dizer do órfão, do estrangeiro, do migrante”.


“O que nos encanta é a mulher que vive no desamparo, na desvalia, na não escuta, permanecer fiel na busca da justiça, ser justiça; perseverante. Apenas guiada pela justiça permanece dia a dia na sua busca: confiança, destemor, perseverança, crença na justiça. Injustiçada e lesada em seus direitos, sente-se incapaz de ser ouvida, mas persevera. Sem poder fazer pressão por influências, muito menos dar presentes, retorna pacientemente, insiste, apresenta-se ao juiz”, afirmou o cardeal Steiner. Segundo o purpurado, “a surdez da justiça foi um confronto de liberdade, busca de encontro, de amor e de doação de si mesma. Humilde, perseverante, sem gritos, sem desesperos, continua a apresentar-se ao juiz, guiada pela justiça e necessidade de vida. Como não lhe restava ninguém permaneceu fiel ao desejo de receber o dom da vida na justiça”.

Dom Leonardo destacou que “a perseverança, a ousadia, o comprometimento, desperta o surdo da insensibilidade, se não pela justiça, pela insistência, presença. A perseverança, a insistência, o destemor, foi tal que infundiu temor. O que desperta o homem de sua insensibilidade é o permanecer na busca, o apresentar-se quase cotidianamente, o oferecer as mesmas palavras, a mesma necessidade, sem desfalecer. Havia nela um ânimo e uma disposição que amedrontou o juiz. O apresentar-se na sua viuvez, temperamentada, fortalecida, acordou para a justiça, a verdade, aquele homem insensível. A fortaleza, a segurança, a determinação, a constância, fez descer a justiça!”.

Diante da atitude da viúva, o juiz, agredido na sua percepção de justiça, no cumprimento do seu dever, na aplicação da Lei, do seu dever de cuidar dos fracos, pequenos, desvalidos, estrangeiros, viúvas e órfãos”, faz com que “a presença da viúva na sua persistência e constância, acorda o homem para o exercício da justiça que é mais que direito”, segundo o arcebispo. Ele citou o Sermão 80 de Santo Agostinho, onde ensina a partir da oração e insiste em que “Todos nós, todos, devemos animar-nos a orar”.

Na primeira leitura, o livro do Êxodo mostra, segundo Dom Leonardo, que “Moisés é um orante, está à frente do seu povo em oração. Não é um comandante, pois em vez de espada tem um cajado, uma vara. Um suplicante que carrega em sua mão a vara de Deus. A vara que toca, fere o coração misericordioso de Deus: a vara da súplica dos pobres, perseguidos, dos desvalidos e desafortunados. Aquela que toca, abre o coração de Deus! Do quase medo da derrota, ergue a súplica, na fraqueza da dessustentação das mãos que suplicam, recebe ajuda de Hur e Araão. Uma súplica que reúne e une o povo para a salvação, libertação, a travessia do deserto, permanecer a caminho. Moisés permaneceu em oração, perseverou”.



Na segundo leitura, o Arcebispo de Manaus destaca a insistência “na necessidade da perseverança, permanecer na graça recebida, permanecer no ensinamento recebido, permanecer em Cristo Jesus”. Um chamado a “abraçar a fé, a Igreja, Jesus Cristo! Perseverar no caminho para o qual foi despertado, o caminho iniciado. E permanecer firme, criar raízes, crescer, deixar-se fortalecer pelo Mistério amoroso que tudo abarca, dá sentido, transforma! Perseverar: ser tomado pela dinâmica da relação, da profundidade”.

Dom Leonardo fez um apelo a perseverar. Segundo ele, “nos dias que estamos a viver exige perseverança. Permanecer, insistir, sem desfalecer, para que justiça mantenha a dignidade de nossas relações sociais. Perseverar, sem desfalecer na superação da violência em todos os âmbitos, também na política. Perseverar, sem desfalecer numa economia justa que não descarte nenhum irmão, nenhuma irmã. Perseverar, sem desfalecer na dinâmica evangélica da paz que supera toda violência. Perseverar, sem desfalecer na certeza de que a democracia é a possibilidade de um Estado equânime e uma nação de fraternidade. Perseverar, sem desfalecer, seguindo a esperança! Como pessoas que receberam de Jesus a graça do Reino, perseverar”.

Um chamado a “perseverar no bem, na bondade, em oração!”, ressaltou o arcebispo. “Às vezes temos a impressão de Deus ter silenciado. Pedimos, voltamos, insistimos. Podemos ter a percepção do silêncio de Deus.  E Jesus no Evangelho a nos dizer que não deixemos nunca de dialogar com Ele, de rezar”, afirmou Dom Leonardo. “É nessa oração-escuta que somos tomados pelos projetos e os ritmos de Deus; é nessa escuta-oração que Deus transforma os nossos ouvidos e nossos corações; é na oração-escuta que vamos apreendendo a entregar-nos amorável e livremente nas mãos de Deus e a confiar n’Ele, como a criança ao procurar a mão de sua mãe enquanto caminha. Nem o desânimo, desconfiança perante o silêncio acolhedor de Deus, nos leve a desistir da verdadeira comunhão, da convivência justa e digna e do encontro com Deus”, insistiu o cardeal.

Junto com isso, Dom Leonardo fez um chamado a “rezar sempre: cansaço, desânimo, alegria, desesperança, realização, alegria, esperança: permanecer em oração, mesmo que tenhamos a percepção da oração parecer ineficaz, sem sentido. Perseverar, mesmo que tenhamos a sensação da inutilidade em relação ao bem, a justiça, a dignidade, a paz!”. Segundo ele, “Deus, diversamente do juiz da parábola, atende os filhos e as filhas mesmo que não o faça segundo os tempos, modos, desejos, sonhos que nós gostaríamos. Talvez, tenhamos que nos apresentar como a viúva na sua necessidade e solidão, na sua pobreza e força. A oração não é uma varinha mágica! Ela conserva a fé, a confiança em Deus mesmo não compreendendo a sua vontade”.

Finalmente, o Arcebispo de Manaus chamou anão desistir da oração, mesmo que não seja correspondida. É a prece que preserva a fé, a esperança e a caridade, pois sem ela a fé vacila!”. Por isso, ele convidou a pedir ao Senhor, inspirado nas palavras do Papa Francisco, “uma fé que se faz oração incessante, perseverante, como a da viúva da parábola, uma fé que se alimenta do desejo da sua vinda. E na prece experimentamos a compaixão de Deus que, como um Pai, vem ao encontro dos seus filhos cheio de amor misericordioso”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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