Múltiplos
sotaques inundam o Seminário São José de Manaus, são as vozes dos participantes
da I Experiência Vocacional Missionária Nacional.
Seminaristas diocesanos e religiosos, padres, diáconos, bispos, religiosas, membros
da Juventude Missionária prontos para se inserir ao longo de uma semana na vida
das comunidades da Amazônia.
Ao todo são
280 missionários e missionárias de 94 dioceses de todos os regionais que fazem
parte da Igreja do Brasil e mais de uma dezena de congregações religiosas, acolhidos
com alegria pela Igreja local, segundo afirmou Dom José Albuquerque de Araújo, Bispo
eleito da Diocese de Parintins, que ressaltou a existência de diferentes
amazônias e experiências eclesiais na região.
Uma Experiência
Vocacional Missionária que conta com o apoio das Pontifícias Obras Missionárias
(POM Brasil), Organização dos Seminários e Institutos do Brasil (OSIB), Arquidiocese
de Manaus, Conferência dos Religiosos do Brasil (CRB), Pontifícia União
Missionária, Conselho Missionário de Seminaristas Nacional (COMISE) e a Juventude
Missionária.
Um momento importante dentro do processo de formação inicial dos futuros presbíteros, segundo o padre Antônio Niemec. O Secretário Nacional das POM Brasil vê esta experiência como um instrumento de discernimento no processo formativo. Uma oportunidade de encontrar na missão o sentido verdadeiro de sua vocação, enfatizou o padre Zenildo Lima. O Reitor do Seminário São José de Manaus insistiu em não ver esta atividade como um parêntese, um corte na vida do seminário.
Os
missionários e missionárias chegam numa Igreja nascida de um processo de
evangelização onde a relação entre a Igreja e os colonizadores foi mudando,
segundo a professora Elisângela Maciel, passando do colaboracionismo à denúncia.
A professora chamou a descobrir, lembrando as palavras do Papa Francisco, que a
Igreja está aqui para servir. Ela questionou sobre o pôr em prática dos
documentos, o estar preparados para os desafios amazônicos, descobrir qual é o
rosto amazônico, resolver o problema da falta de Eucaristia, superar o clericalismo
e implantar a sinodalidade na Igreja.
Na história
da Igreja da Amazônia o encontro de Santarém em 1972 tem um lugar de destaque. Em
2022 a Igreja da Amazônia fez memória do vivido 50 anos atrás, constatando a
necessidade de uma Igreja encarnada na realidade e uma evangelização
libertadora, segundo Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira. Um documento que faz
referência aos sonhos da Querida Amazônia, buscando construir uma Igreja com
rosto amazônico, um chamado do Papa Francisco.
Na cidade
de Manaus e seu entorno se estima a presença de cerca de 40 mil indígenas de 38
povos diferentes, chegados de diferentes regiões do interior do Estado do
Amazonas para morar nas periferias da grande metrópole da Amazônia, onde tentam
manter suas culturas. Uma população que segundo o jovem indígena Eliomar Tukano
chegou em Manaus por causa da violência provocada pelos exploradores da
Amazônia, sonhando com emprego, educação... Povos que querem viver a missão
desde a interculturalidade, pois não cabe mais o discurso de “vou evangelizar
os povos originários”, segundo o jovem do povo Tukano. Eles dizem ter sua
religião, mesmo aceitando os valores do cristianismo que ajudam em seu Bem
Viver e pedem ser protagonistas do trabalho pastoral.
A missão é
algo que faz parte da vida de Dom Luiz Fernando Lisboa, missionário em Moçambique
durante 20 anos, onde foi Bispo da Diocese de Pemba. O atual Bispo da Diocese
de Cachoeiro do Itapemirim (ES) considera a missão protagonista e eixo
transversal na Igreja, demandando uma maior abordagem da Missiologia na grade
da formação teológica dos seminaristas, pois segundo ele, a missão é mãe da
Teologia.
O Bispo refletiu sobre a missão na Igreja do pós-Concílio Vaticano II, destacando a importância que ela tem na atual estrutura da Igreja, recolhida na Praedicate Evangelium, que quer conferir um novo vigor à ação pastoral da Igreja e uma estrutura mais missionária à Cúria, sendo criado um dicastério que está sob a responsabilidade direta do Papa. A missão tem mudado a visão do mundo de alguém que diz ter saído da África, mas a África não tem saído dele, um lugar onde ele diz ter aprendido a escutar. Por isso, convidou os participantes da Experiência Vocacional Missionária a se colocar a dispor da Igreja e se questionar onde Deus os quer enviar.
Em relação
com a espiritualidade missionária, Dom Esmeraldo Barreto Farias fez um chamado
a vivê-la desde o encontro com Jesus, amando à Igreja lá onde cada um está. O
Bispo de Araçuaí (MG) refletiu sobre as dificuldades para a vivência da espiritualidade
missionária, dentre elas o relativismo prático, realizar a missão por obrigação
ou em palavras do Papa Francisco o pragmatismo cinzento. Mas também destacou as
motivações para o ardor missionário, como é o cultivar o espaço interior,
rejeitar a tentação de uma espiritualidade intimista ou buscar uma espiritualidade
encarnada. Elementos presentes no Programa Missionário Nacional, que conduz a
missão da Igreja no Brasil.
Missionários
que percebem a I Experiência Vocacional Missionária como motivo de alegria que
desperta “a expectativa de poder enriquecer o processo
formativo”, segundo relata o seminarista Carlos Daniel da Diocese de
Colatina (ES). Ele que faz parte da Comissão Nacional do COMISE destaca que “a
proposta para os seminaristas que participam é encontrar o sentido verdadeiro
da sua vocação, que é que no fundo, no fundo, todos nós somos chamados a ser
missionários”. Ele espera nessa experiência vocacional missionária “me
encontrar também como um missionário, antes de tudo, como um cristão batizado
chamado para a missão”.
Acompanhando
aos seminaristas da Arquidiocese de Ribeirão Preto, o Padre Manoel diz ter
chegado na Amazônia para “fazer uma experiência de reencontro, conhecer a
realidade, conviver, ir a essa experiência mais profunda do Evangelho. Conhecer
a experiência, conhecer o Evangelho e conhecer a realidade de cada comunidade,
de cada povo”. Segundo ele, “o Evangelho é esse encontro sempre, e sobretudo
fazer uma experiência até mesmo de levar para a própria comunidade essa
abertura que é esse Encontro Nacional Vocacional Missionário, uma abertura que
transforma e que ajuda a Igreja a ser transformada”.
Gustavo
Mariotto foi enviado pelo Instituto Missionário São José, e diz esperar “renovar
a minha vocação, a esperança na Igreja de dias melhores, dias de santificação
pessoal, santificação também do povo de Deus, um tempo de graça, uma Igreja em
saída, como nos diz nosso querido Papa Francisco”. Wal Rodrigues, representante
da Juventude Missionária da Arquidiocese de Manaus, diz buscar mais
conhecimento nesta experiência e formar amizades, “porque a gente vai sair ao
encontro do outro”. Ela quer receber a gratidão que nasce do fato de “estar junto,
de sair de minha zona de conforto para estar junto com aquele a quem eu vou
encontrar que o senhor mandar”.
Missionários
e missionárias que foram enviados na celebração eucarística presidida por Dom
José Ionilton Lisboa de Oliveira. Ao longo de mais de uma semana, de 7 a 15 de
janeiro, eles visitarão comunidades da periferia, indígenas, ribeirinhas na
Arquidiocese de Manaus, na Diocese de Coari e na Prelazia de Itacoatiara, onde
são chamados a viver a missão como um valioso e indispensável meio para a
formação da mentalidade e coração missionários do seguidor de Jesus Cristo.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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