Negar aquilo que nos incomoda, as situações desumanas,
os graves pecados contra os descartados, não minora o que eles representam. O
sofrimento dos povos indígenas é uma constante no Brasil desde que em 1500
Pedro Alvares Cabral chegou na chamada Costa do Descobrimento.
Mais de 500 anos de cenas que muitos consideram
normais, como algo que faz parte da vida e da história, mas que outros
consideram ou consideramos vergonhosas, situações que colocam em questão a
própria condição humana, que nos animalizam, deixando para trás uma atitude que
pode ser considerada o elemento primeiro para considerar que alguém é humano: a
compaixão.
Também é a compaixão aquilo que define o Deus cristão,
Ele é misericordioso e clemente, lento para a cólera, mas paciente e generoso
em seu amor. Por isso podemos dizer que só quem vive a compaixão com aquele que
está jogado na beira da estrada é cristão. Se alguém não faz isso pode ser
chamado de fariseu, de mestre da Lei, mesmo que se empenhe em dizer que Deus
está acima de tudo.
Não é a primeira vez que o Povo Yanomami sofre as
consequências daquilo que o Papa Francisco chama uma economia que mata, uma
realidade muito presente na querida Amazônia. Mas o acontecido recentemente
clama aos céus, saber que ao menos 570 crianças menores de 5 anos morreram nos
últimos 4 anos só pode ser definido com uma palavra: genocídio. Numa população
de 38 mil pessoas, essas 570 crianças representam uma porcentagem elevadíssima,
colocando em risco a sobrevivência desse povo no futuro.
Ainda mais quando essa situação é consequência do
descaso de um governo empenhado em matar os índios, em acabar com eles para
poder dispor daquilo que seus ancestrais guardaram secularmente, a casa comum.
O lucro de uns poucos colocado acima de uma sociedade e uma cultura ancestral
para beneficiar quem nunca se preocupou com o cuidado da vida.
A gente fica estarrecido com as reações de pessoas que
se dizem gente, inclusive de cristãos, de católicos, que na verdade nunca
entenderam o que significa a fé no Deus encarnado, no Deus que está no meio de
nós, naquele que está doente, que está nu, que está com fome e com sede,
naquele que sofre, que se tornou vítima pela falta de humanidade e de ser
cristão dos outros.
É tempo de parar e pensar, de nos questionarmos como
sociedade e definir os caminhos a seguir. Será que vamos escolher a vida ou
vamos ficar com o lucro? Será que vamos defender os descartados ou vamos nos
somar ao grupo dos que defendem o lucro acima de tudo? Aprendamos com aqueles
que realmente nos ensinam o que vale a pena: ser humanos e acreditar no Deus
encarnado.
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