“Jesus
continua a nos indicar a que fomos chamados: às bem-aventuranças, à realização,
à plenificação”, afirma o Cardeal Leonardo Steiner comentando o Evangelho do 6º
Domingo do Tempo Comum, onde “Ele a nos dizer do caminho a que somos
convidados: percorrer um caminho, uma vida digna, livre e plenificada”.
Citando o
texto evangélico, Dom Leonardo vê nele “uma nova visão, um novo modo de viver,
um viver que possibilita a verdadeira liberdade, um viver na cordialidade. O
modo de viver da justiça, da boa medida, da medida equilibrada. As decisões
segundo o que convém e é necessário, não conforme a lei, as normas. Viver que
tem a boa medida da bondade, da misericórdia, como Deus, o justo”. Segundo o
Arcebispo de Manaus, “a justiça dos homens, a nossa justiça é diversa da
justiça da Deus. A de Deus é equânime, livre, libertadora, consoladora,
resgatadora. A justiça de Deus não se desvia, não acusa, não condena. Ela
resgata, eleva, santifica”.
A partir do
texto, o Cardeal ressalta “Como dependemos de nossos olhos! Como dependemos da
visão que temos da pessoa, de Deus, do mundo! Grandeza de nosso olhar, fraqueza
de nossos olhos: purificação, transparência do olhar!”. Dom Leonardo lembrou o que nos possibilitam os
olhos: perceber grandezas, belezas; se deixar atrair pela beleza de uma
paisagem, pela obra de arte escondida atrás de um edifício; se deixar encantar
com a beleza das pequenas e estreitas ruas da cidade medieval sobre a colina; é
de encher os olhos o vale florido”.
O Arcebispo
lembrou “o olhar que se perde ao buscar o alto, o sem confim do mar”, e também os
olhos a seguir o ritmo das águas dos rios, a vida que nela acontece, a vida
nascida do rio. O olhar que lê as águas, os igarapés, os rios; que percebem os
pequenos gestos, as pequenas mudanças, os mínimos acenos de ternura e aconchego;
que veem a dignidade humana perdida, descartada e o menosprezo em relação à
natureza, à casa comum”. Um olhar que “vê a beleza da face enrugada, digna e
cheia de história. São os olhos tomados de grandeza e beleza. Olhos capazes de
nos dar a sensação e percepção de um mundo digno de ser visto e vivido”.
“No andar
da vida, nossos olhos enxergam aquilo que permanece esquecido e velado”, disse o
Cardeal Steiner. Ele chamou a atenção em “tantas coisas que nos distraem”, que
não nos deixam enxergar o cotidiano: nossa casa que acabou de ser arrumada e
limpa; nossas roupas bem passadas e cuidadas; como cresceram nossos filhos, como
eles cresceram em idade sabedoria e graça; a grandeza do amor que pode alimentar
e dar criatividade às nossas diferenças.
Citando o
texto que diz “Todo aquele que olhar para uma mulher, com o desejo de
possuí-la, já cometeu adultério com ela no seu coração”, Dom Leonardo insistiu no
“olhar que se tornou unidirecional, uni focal. Perdeu o horizonte do ver que
tudo vê na sua transparência, na quase inocência. Perdemos o olhar que nos
indica nossas raízes, nossa pertença, nossa terra, o nosso céu. O olhar que já
não vê beleza, delicadeza, apenas desejo de posse, de possuir. Possuir é
traição ao modo que nos é proposto e indicado no Evangelho, perceber a cada um
como filho e filhas de Deus. Posse, dominação, que no Evangelho em dito como
não consumação física, mas a consumação no coração. Aquele adultério, aquela
traição, uma relação que nos afasta do amor primeiro, da pessoa amada e
deixamos que o olhar se torno traição”.
Por isso, o
Cardeal destacou que “o convite de Deus hoje é de arrancarmos esse olho
doentio, distorcido, para não perdermos a vida, isto é permanecer na cercania
do amor, da convivialidade de termos sido amados”. Segundo ele “às vezes
estamos na iminência de perder a sensibilidade do olhar dos pequenos, simples e
humildes amados de Deus e por ele desejados como prediletos, como filhos e
filha de seu coração”, convidando a reparar no “olhar que se desvia do
indiferente, do meramente atraente” e chamando a perceber que “vivemos nessa
espécie de dualidade de olhos, do olhar”. Daí, Dom Leonardo fez ver que “é
preciso arrancar o olhar distraído, traído, traiçoeiro, pois somente o olho da
vida nos conduz ao Reino de Deus. E o Reino de Deus não desejamos perder”.
“Olhos que
veem, olhos que, no entanto, podem estar dispersos e desatentos nessa
multiplicidade de ver, sem estar concentrados e guiados pelo olhar salvador. O
olhar disperso, distraído, o olhar sem grandeza, sem beleza”, destacou. Por
isso, ele fez ver que “arrancar indica salvação, permanecer com o olho mau
indica a condenação ao fogo do inferno, pois perdemos a graça de ver o que é
invisível aos olhos. Já não vemos mais. No não ver a verdade, pecamos com nosso
olho. Então é melhor entrar na vida com um olho só do que nos perdermos”.
Uma
reflexão que o levou a questionar: “Mas como receber esse olhar, esse olho
renovador, ágil, simples, grandioso que nos deixar ver na nossa realidade a
realidade e a verdade de Deus?”, lembrando que “o Evangelho de hoje nos fala de
entrar na vida com um olho só. Esse olhar é aquele olhar que na Sagrada
Escritura vem dito como: ‘E Deus olhando o criado, viu que tudo era bom’. Esse
olhar que se recolhe, que contempla, que se deixa invadir pela grandeza das
criaturas é que nos salva. O olhar da benevolência, o olhar do perdão, o olhar
que sempre descobre em toda miséria humana uma grandeza toda própria: a
fraqueza de Deus. Para isso precisamos perder nossos olhos, sem perdê-los não
limpamos o olhar com que Deus nos presenteou”.
Dom
Leonardo fez ver que “recebemos olhos que enxergam a pobreza e a degradação
humana perambulando pela nossa cidade. Olhos atentos para a injustiça, para a
poluição. O olhar que de Deus provém, é pleno de positividade, de jovialidade,
de cordialidade. É sem descanso, sem rótulos. É o olhar que já viu tudo, que
sabe tudo, não se abre para a novidade, para o não visto. Esse olhar cheio de
mim, incapaz de sair de mim mesmo. Ver a verdade, ver a Deus somente perdendo
nossos olhos. O essencial é invisível aos olhos”.
“Os olhos
do Evangelho pedem que adotemos o modo da cordialidade, da simpatia, da
solicitude e afeto, superando posturas de antipatia, indiferença, rejeição,
cólera. O modo dos olhos tomados pelo amor desperta a sensibilidade, a riqueza
afetiva, a capacidade de comunicação em profundida encantadora”, afirmou o
Arcebispo de Manaus. Isso porque “o amor desperta a cordialidade, o afeto
sincero e a amizade entre as pessoas. Oferece os olhos da cordialidade. Essa
cordialidade não é mera cortesia externa exigida pela boa educação, nem
simpatia espontânea que nasce no contato com as pessoas agradáveis, mas a
atitude sincera e purificadora de quem se deixa vivificar pelo amor do
Evangelho”.
Segundo o
Cardeal Steiner, “talvez, não demos a devida a importância ao cultivo da
cordialidade na família, no âmbito do trabalho e em todas as nossas relações.
No entanto, a cordialidade ajuda as pessoas a se sentirem melhor, suaviza as
tensões e conflitos, aproxima posturas fortalece a amizade e faz crescer a
fraternidade”. Ele insistiu em que “a cordialidade ajuda a libertar-nos de
sentimentos de indiferença e rejeição, pois opõe diretamente a nossa tendência
a dominar, manipular ou fazer sofrer o próximo. Os que sabem comunicar afeto de
maneira sadia e generosa criam em seu entorno um mundo mais humano e habitável.
Os que não desejam a morte, a destruição, mas a vida como nos dizia a primeira
leitura, na cordialidade”, recordando as palavras do Eclesiástico, que nos
levam a “ter os olhos da sabedoria e da cordialidade de Deus”.
O Cardeal lembro
que “Jesus insiste em desenvolvermos a cordialidade não só diante do amigo ou
da pessoa agradável, mas também diante de quem nos rejeita. Basta lembrar as
suas palavras que revelam seu modo de ser: Se suadais só os vossos irmãos, que fazeis
de extraordinário. Um convite à cordialidade com todos, com todas as criaturas.
A destruição, a dominação, dos garimpos tem levados tantos irmãos à morte. São
os olhos da cobiça, do poder, do outro. Perdemos aquela percepção e
sensibilidade para ir além da norma, da lei. Perdemos a graça da cordialidade.
Mas Jesus a nos ensinar o caminho. Sigamos seus passos. Um convite a
permanecermos com os olhos da cordialidade, da amabilidade”.
Finalmente,
Dom Leonardo chamou a trilhar “as pegadas do Evangelho, perseveremos no caminho
de Jesus, o caminho do bom olhar, do olhar cordial. Seremos vivificados,
plenificados, iluminados bem-aventurados, pois nossos olhos tomados pela
bondade e a cordialidade louvas e bendizem a Deus”.
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