Um momento de
festa, de alegria, de gratidão, tem sido vivido neste domingo 19 de fevereiro de
2023 na Igreja de São Gabriel da Cachoeira, segundo Dom Edson Damian. A celebração
dos 100 anos da chegada das quatro primeiras Filhas de Maria Auxiliadora, procedentes
de São Paulo, que de Manaus para São Gabriel, elas levaram 39 dias, lembrou o
Bispo da Diocese de São Gabriel da Cachoeira. Ele insistiu em que “se hoje
ainda é difícil esse trajeto a través do Rio Negro, imaginemos naquela época”.
“Em pouco
tempo, elas já estavam presentes nas principais comunidades indígenas aqui da
nossa região”, disse Dom Edson. Um acontecimento que a pesar da chuva reuniu
uma multidão no Ginásio do Colégio São Gabriel. No início da celebração teve
uma encenação muito criativa da chegada das primeiras quatro irmãs, narrando a
través das crónicas daquele tempo como foi a chegada. Um momento que despertou
saudade e gratidão nas pessoas mais idosas, alunas naqueles primeiros tempos.
A
celebração da Eucaristia, presidida por Dom Edson Damian, foi concelebrada por
12 padres, dentre eles alguns indígenas da região, que foram alunos das
Salesianas. Também estava presente a Ir. Paula, visitadora chegada de Roma que
nos próximos messes vai se fazer presente em todas as comunidades da Inspetoria
Nossa Senhora da Amazônia, coordenada pela Ir. Carmelita Conceição, auditora no
Sínodo para a Amazônia, onde defendeu a importância da educação para os povos
originários da região, e atual vice-presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica
(REPAM), um dato importante pelo fato dela ter nascido na região amazônica e
conhecer sua Igreja.
Na Eucaristia,
Dom Edson destacou como algo muito importante da presença da família salesiana
no Rio Negro, presente desde 1915, o ramo masculino, e desde 1923, depois de
perceber a importância de sua presença, as Filhas de Maria Auxiliadora. Citando
as palavras do antropólogo indígena Gersen Baniwa, Dom Edson diz que desde a chegada
da Família Salesiana, as lideranças indígenas perceberam que eram diferentes
dos outros brancos, que chegavam na região para escravizá-los e explorá-los. Enquanto
isso os salesianos e as salesianas chegaram para morar, para permanecer com
eles. Junto com isso, eles chegaram para transmitir os seus conhecimentos, o
que fez com que fossem acolhidos pelos indígenas, que decidiram aprender o que
tinham ido partilhar com eles e assim lutar pelos seus direitos.
Numa região
onde até 1990 o Estado brasileiro estava totalmente ausente, Dom Edson Damian
destacou que “quem cuidou da educação e da saúde foram os salesianos e as
Filhas de Maria Auxiliadora”, inclusive ajudando a formar jovens indígenas nas
faculdades de Manaus, que sempre mostraram gratidão por tudo o que receberam
dos padres Salesianos e das Filhas de Maria Auxiliadora. Juntos fizeram
prevalecer o catolicismo nas comunidades indígenas da Diocese de São Gabriel da
Cachoeira.
O Bispo
ressalta que a grande maioria das Filhas de Maria Auxiliadora que trabalham na
Amazônia brasileira são originárias da região, sendo muitas as irmãs indígenas.
“É uma Congregação que adquiriu um rosto amazônico e cada vez mais um rosto
indígena”, destaca Dom Edson. Um carisma salesiano que “foi se amazonizando, se
inculturando aqui na nossa região”, um elemento importante em palavras do
Bispo, que junto com a Diocese de São Gabriel da Cachoeira agradeceu os 100
anos de trabalho heroico das irmãs salesianas, pedindo que elas “continuem aqui
no meio de nós por muitos e muitos anos, porque elas continuam fazendo um bem
imenso, uma evangelização a través da educação, da presença nas famílias, no
meio da comunidade”.
Dom Edson
Damian recordou uma fato histórico, que ele considera muito elucidativo, que
foi a decisão do Governo Brasileiro de estabelecer na década de 80 as colónias
agrícolas no Alto Rio Negro, que pretendiam introduzir colonos de outras
regiões do país, o que foi combatido abertamente pelos povos indígenas, que em
1988 se reuniram na primeira assembleia de suas lideranças, com o apoio da
Diocese. Foi aí que nasceu a Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro
(FOIRN), sendo também a primeira luta pela demarcação e homologação da Área
indígena, algo que foi conseguido. A partir daí, lembrou o Bispo, foi a luta
pela educação indígena, pelos direitos de assistência médica, os benefícios
sociais e a aposentadoria, uma luta que continua até agora.
Queridas Irmãs Salesianas e Salesianos. Nosso abraço agradecido nesta grande festa centenário
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