domingo, 5 de fevereiro de 2023

Yanomami. Artigo de Dom Leonardo no Jornal Em Tempo


A visita aos Yanomami durante a semana que passou, fez perceber que não há exagero quanto à catástrofe que se abateu sobre diversas aldeias Yanomami. Um dos testemunhos que me impactou profundamente foi ouvir que boa parte do Povo Yanomami está morto espiritualmente. Quais as causas testemunhadas? A destruição da floresta, os assassinatos e ataques de todo tipo que sofrem, humilhações, os estupros, o roubo de crianças, os suicídios. Tudo como consequência do garimpo, que tem levado as 120 comunidades Yanomami a situação de calamidade.

“A exploração sexual no garimpo, inclusive de menores, e a morte violenta de mulheres indígenas, visando a desaparição dos povos originários e suas culturas, uma realidade que denunciada pelos próprios indígenas, tem impactado fortemente. De fato, as estatísticas dizem que 70% das mulheres assassinadas em Roraima nos últimos anos morreram no garimpo, uma realidade forjada na violência e controlado pelo crime organizado chegado de outras regiões. Uma violência que é reproduzida na cidade de Boa Vista, que tem como consequência uma sociedade cada vez mais dividida e omissa". (Luis Miguel Modino) São manifestações de bestialidade relatados nas guerras. Não pode haver indiferença. Se trata da nossa humanidade, do nosso ser!

As lideranças ouvidas, afirmam: “quem está matando é o garimpo, que está na Terra Indígena e na cidade”, insistindo que “o garimpo está banhado de sangue”. A desintrusão da terra Yanomami é urgente, se não desejarmos a continuidade do desaparecer lento de um povo. Quando um povo perde a espiritualidade, perde a sua alma, vegeta, há perda de horizonte, nasce o desejo da morte, desaparece a suavidade da alegria e as crianças deixam de sorrir.



Além da situação do garimpo, o que levou à situação de desumanidade foi a falta de assistência de saúde. O Estado brasileiro foi omisso. Os relatos ouvidos o confirmam.

O Relatório “Yanomami sob ataque”, evidencia e denuncia a violência contra o Povo Yanomami. Ele foi entregue em abril de 2022 aos 3 poderes, executivo, legislativo e judiciário. Não houve omissão da parte dos indígenas e suas organizações, não houve omissão da Igreja católica e outras organizações. No relatório foram recolhidos depoimentos e dados que mostram os efeitos devastadores do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami. Enfatiza a necessidade de articulação das organizações indígenas, que na atualidade contam com pessoas muito bem-preparadas e altamente organizadas.

O serviço dos órgãos do Estado, o serviço dos organismos indígenas e os serviços da Igreja ajudarão a superar o estado de morte. Também há disponibilidade e sonho de olhar na busca de ações de futuro que possam devolver uma convivência digna, culturalmente própria, espiritualmente de fonte. Sempre há esperança quando floresce solidariedade, samaritanidade, amor ao próximo.

 

Cardeal Leonardo Steiner  - Arcebispo de Manaus

Um comentário:

  1. Dom Leonardo, a voz dos sem voz. Representa sim a Igreja samaritana defensora dos direitos dos oprimidos. Paz e Bem!

    ResponderExcluir