domingo, 16 de abril de 2023

Cardeal Steiner: “O Ressuscitado nos indicando a misericórdia como a razão de ser e itinerário da Igreja”


O Evangelho do 2º Domingo da Páscoa “a nos dizer que os discípulos viram o Senhor e que Tomé desejava ver”. Assim, depois de citar o texto iniciou o Cardeal Leonardo Steiner sua homilia, falando do ver, como eles disseram a Tomé. O Arcebispo de Manaus perguntou-se “como o viram?”, dizendo que “mostrou-lhes as mãos e o lado”, e insistindo em que “Tomé que desejava ele mesmo ver e tocar diz: ‘a marca dos pregos em suas mãos’. E sem tocar, de apenas ter visto, acreditou”.

Segundo Dom Leonardo, “os discípulos viram o Senhor e Tomé desejou, ele mesmo, ver a Jesus. Tomé é admirável, pois ele mesmo deseja ver. Mais que ver, deseja tocar o lugar dos cravos, o lugar da lança. Ele desejava ver e tocar o lugar da dor e da morte. Não no ouvir dizer, no contar e recontar dos outros, mas ele mesmo. Desejava ver e tocar Jesus, ele mesmo, não outro, ele em pele e osso”.

Lembrando que o Evangelho chama Tomé de “Dídimo”, que quer dizer gêmeo, o Cardeal Steiner disse que “na resposta de Tomé somos verdadeiramente irmãos gêmeos de Tomé. Também não nos basta saber de Deus, saber sobre Deus, da existência de Deus. Um Deus ressuscitado, mas longínquo, não preenche a nossa vida; não nos atrai um Deus distante, por mais que seja justo e santo. Nós também desejamos e precisamos ‘ver a Deus’, ‘tocar com a mão’. Ver e tocar a Ele ressuscitado, e o ressuscitado por nós”, recordando as palavras do Papa Francisco, na Homilia do II Domingo da Páscoa em 2018.

Dom Leonardo lembrou as palavras de Santo Agostinho no Comentário ao Evangelho de São João, onde “nos diz como Tomé despertou para o ver a Jesus”. Ele questionou: “O que viu Tomé ao ser provocado a tocar as chagas e o lado aberto? O que o levou a saltar para a fé, no ver, sem tocar, para a adoração e exclamação: ‘Meu Senhor e meu Deus?”. Segundo o purpurado, “viu, como que entrou nas chagas e no lado aberto e no ver contemplou o amor sem medidas, o amor desmedido. O amor que o amara até o fim. Mesmo tendo abandonado o seu Mestre, Jesus o amara até o fim, dera vida por ele. Não houve necessidade de tocar como desejava e impusera aos outros discípulos. Ao ver, as chagas, é tocado, atingido no seu ser. Antes de tocar, é tocado, antes de ver, foi visto. Ele tinha razão no desejo de tocar e não receber notícias. Desejara um encontro, e eis que o Senhor se torna visível e se apresenta com o amor com que o amara. E na admiração, na simpatia, na afeição, na cordialidade, na reverência, exclama: ‘Meu Senhor e meu Deus’!"



Meu Senhor e meu Deus! Quanta ousadia de Tomé de desejar tomar posse de Deus: meu Senhor, meu Deus? Não que Tomé se apossar-se de Jesus, mas desejou expressar a sua disposição e disponibilidade de ser todo dele, a sua nova pertença. Senhor se assim me amaste, sou todo teu, faze de mim o que quiseres, o que de mim fizeres eu te agradeço”, afirmou o Cardeal com as palavras de Charles de Foucauld. Ele vê essa afirmação, “como se confessasse, nada mais meu, mas tudo teu, todo teu!”.

Citando de novo a Homilia do Papa Francisco em 2018, Dom Leonardo lembrou que “entrando hoje, através das chagas, no mistério de Deus, entendemos que a misericórdia não é mais uma de suas qualidades entre outras, mas o palpitar do seu coração. E então, como Tomé, não vivemos mais como discípulos, discípulas vacilantes; devotos, mas hesitantes; nós também nos tornamos verdadeiros enamorados do Senhor! Não devemos ter medo desta palavra: enamorados do Senhor!”.

No envio de Jesus aos discípulos, Dom Leonardo vê que eles são “enviados como misericórdia, como reconciliação. Trancados, desconfiados, amedrontados, refugiados, agora enviados, enviados como reconciliação, como misericórdia. Misericórdia que é a paz. ‘A paz esteja convosco’. O medo, a dor, levou-os a viver fechados, escondidos; haviam perdido o caminhar. Estavam feridos, vidas feridas, fechadas. E Jesus oferece-lhes a paz, indica-lhes a paz como horizonte de vida. A paz que vem pela misericórdia”.

Depois de serem erguidos, levantados, transformados com a misericórdia, os apóstolos são enviados como misericórdia”, lembro o Arcebispo de Manaus. “Sim, levanta-os e transforma-os com a misericórdia na força do Espírito Santo. Obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos. Podem perdoar, porque foram perdoados, pois receberam o Espírito Santo, o dom da Paz. É muito difícil ser misericordioso, se não nos damos conta de termos recebido misericórdia”, afirmou o Cardeal.



Inspirado na Misericordiae Vultus do Papa Francisco, Dom Leonardo lembrou que “é próprio de Deus usar de misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência. A misericórdia divina não é, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a qualidade da onipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas orações mais antigas, convida a rezar assim: ‘Senhor, que dais a maior prova do vosso poder quando perdoais e Vos compadeceis...’ Deus permanecerá para sempre na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo, providente, santo e misericordioso”.

Citando a passagem dos Atos dos Apóstolos da liturgia do dia, Dom Leonardo lembrou que “neste segundo domingo de Páscoa celebramos a Misericórdia que Jesus oferece aos discípulos ao enviá-los: ‘recebei o Espírito Santo. A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados’. O Ressuscitado nos indicando a misericórdia como a razão de ser e itinerário da Igreja”.

“A misericórdia participação no amor misericordioso do Crucificado-ressuscitado. A graça de termos sido despertados e participarmos do amor redentor. Essa participação nos faz sinal da misericórdia ao ‘partir o pão pelas casas’ e repartir de tal forma que todos possam ter o necessário, pois todos são participantes da misericórdia de Deus”, afirmou o Cardeal Steiner. Ele chamou a que “participemos da misericórdia, peçamos misericórdia, ofereçamos misericórdia. A graça da misericórdia!”.

Finalmente, Dom Leonardo fez ver que “nós somos da linhagem de Tomé, pois vemos sem tocar. Vemos por que tocados. A Palavra de Deus a tocar nossos ouvir e a abrir nossos olhos e despertamos para a fé, no Ressuscitado. Jesus a nos dizer: ‘Põe o teu dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão coloca-a no meu lado. E não sejas incrédulo, mas fiel’. Irmãs e irmãos como Tomé exclamamos admirados: ‘Meu Senhor e meu Deus!’”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

Nenhum comentário:

Postar um comentário