O
Evangelho do 2º Domingo da Páscoa “a nos dizer que os discípulos viram o Senhor
e que Tomé desejava ver”. Assim, depois de citar o texto iniciou o Cardeal
Leonardo Steiner sua homilia, falando do ver, como eles disseram a Tomé. O
Arcebispo de Manaus perguntou-se “como o viram?”, dizendo que “mostrou-lhes as
mãos e o lado”, e insistindo em que “Tomé que desejava ele mesmo ver e tocar
diz: ‘a marca dos pregos em suas mãos’. E sem tocar, de apenas ter visto,
acreditou”.
Segundo
Dom Leonardo, “os discípulos viram o Senhor e Tomé desejou, ele mesmo, ver a
Jesus. Tomé é admirável, pois ele mesmo deseja ver. Mais que ver, deseja tocar
o lugar dos cravos, o lugar da lança. Ele desejava ver e tocar o lugar da dor e
da morte. Não no ouvir dizer, no contar e recontar dos outros, mas ele mesmo.
Desejava ver e tocar Jesus, ele mesmo, não outro, ele em pele e osso”.
Lembrando
que o Evangelho chama Tomé de “Dídimo”, que quer dizer gêmeo, o Cardeal Steiner
disse que “na resposta de Tomé somos verdadeiramente irmãos gêmeos de Tomé.
Também não nos basta saber de Deus, saber sobre Deus, da existência de Deus. Um
Deus ressuscitado, mas longínquo, não preenche a nossa vida; não nos atrai um
Deus distante, por mais que seja justo e santo. Nós também desejamos e
precisamos ‘ver a Deus’, ‘tocar com a mão’. Ver e tocar a Ele ressuscitado, e o
ressuscitado por nós”, recordando as palavras do Papa Francisco, na Homilia do II
Domingo da Páscoa em 2018.
Dom
Leonardo lembrou as palavras de Santo Agostinho no Comentário ao Evangelho de
São João, onde “nos diz como Tomé despertou para o ver a Jesus”. Ele questionou:
“O que viu Tomé ao ser provocado a tocar as chagas e o lado aberto? O que o
levou a saltar para a fé, no ver, sem tocar, para a adoração e exclamação: ‘Meu
Senhor e meu Deus?”. Segundo o purpurado, “viu, como que
entrou nas chagas e no lado aberto e no ver contemplou o amor sem medidas, o
amor desmedido. O amor que o amara até o fim. Mesmo tendo abandonado o seu
Mestre, Jesus o amara até o fim, dera vida por ele. Não houve necessidade de
tocar como desejava e impusera aos outros discípulos. Ao ver, as chagas, é
tocado, atingido no seu ser. Antes de tocar, é tocado, antes de ver, foi visto.
Ele tinha razão no desejo de tocar e não receber notícias. Desejara um
encontro, e eis que o Senhor se torna visível e se apresenta com o amor com que
o amara. E na admiração, na simpatia, na afeição, na cordialidade, na
reverência, exclama: ‘Meu Senhor e meu Deus’!"
“Meu
Senhor e meu Deus! Quanta ousadia de Tomé de desejar tomar posse de Deus: meu
Senhor, meu Deus? Não que Tomé se apossar-se de Jesus, mas desejou expressar a
sua disposição e disponibilidade de ser todo dele, a sua nova pertença. Senhor
se assim me amaste, sou todo teu, faze de mim o que quiseres, o que de mim
fizeres eu te agradeço”, afirmou o Cardeal com as palavras de Charles de
Foucauld. Ele vê essa afirmação, “como se confessasse, nada mais meu, mas tudo
teu, todo teu!”.
Citando
de novo a Homilia do Papa Francisco em 2018, Dom Leonardo lembrou que “entrando
hoje, através das chagas, no mistério de Deus, entendemos que a misericórdia
não é mais uma de suas qualidades entre outras, mas o palpitar do seu coração.
E então, como Tomé, não vivemos mais como discípulos, discípulas vacilantes;
devotos, mas hesitantes; nós também nos tornamos verdadeiros enamorados do
Senhor! Não devemos ter medo desta palavra: enamorados do
Senhor!”.
No
envio de Jesus aos discípulos, Dom Leonardo vê que eles são “enviados como
misericórdia, como reconciliação. Trancados, desconfiados, amedrontados,
refugiados, agora enviados, enviados como reconciliação, como misericórdia.
Misericórdia que é a paz. ‘A paz esteja convosco’. O medo, a dor, levou-os a viver
fechados, escondidos; haviam perdido o caminhar. Estavam feridos,
vidas feridas, fechadas. E Jesus oferece-lhes a paz, indica-lhes a paz como
horizonte de vida. A paz que vem pela misericórdia”.
“Depois de serem erguidos, levantados, transformados com a
misericórdia, os apóstolos são enviados como misericórdia”, lembro o Arcebispo
de Manaus. “Sim, levanta-os e transforma-os com a misericórdia na força do
Espírito Santo. Obtendo misericórdia, tornam-se misericordiosos.
Podem perdoar, porque foram perdoados, pois receberam o Espírito Santo, o dom
da Paz. É muito difícil ser misericordioso, se não nos damos conta de termos recebido
misericórdia”, afirmou o Cardeal.
Inspirado na Misericordiae
Vultus do
Papa Francisco, Dom Leonardo lembrou que “é próprio de Deus usar de
misericórdia e, nisto, se manifesta de modo especial a sua omnipotência. A
misericórdia divina não é, de modo algum, um sinal de fraqueza, mas antes a
qualidade da onipotência de Deus. É por isso que a liturgia, numa das suas orações
mais antigas, convida a rezar assim: ‘Senhor, que dais a maior prova do vosso
poder quando perdoais e Vos compadeceis...’ Deus permanecerá para sempre
na história da humanidade como Aquele que está presente, Aquele que é próximo,
providente, santo e misericordioso”.
Citando
a passagem dos Atos dos Apóstolos da liturgia do dia, Dom Leonardo lembrou que “neste segundo domingo de Páscoa celebramos a Misericórdia
que Jesus oferece aos discípulos ao enviá-los: ‘recebei o Espírito
Santo. A quem perdoardes os pecados eles lhes serão perdoados’. O Ressuscitado nos indicando a misericórdia como a razão
de ser e itinerário da Igreja”.
“A misericórdia participação no amor misericordioso do
Crucificado-ressuscitado. A graça de termos sido despertados e participarmos do
amor redentor. Essa participação nos faz sinal da misericórdia ao ‘partir o pão
pelas casas’ e repartir de tal forma que todos possam ter o necessário, pois
todos são participantes da misericórdia de Deus”, afirmou o Cardeal Steiner.
Ele chamou a que “participemos da misericórdia, peçamos misericórdia,
ofereçamos misericórdia. A graça da misericórdia!”.
Finalmente,
Dom Leonardo fez ver que “nós somos da linhagem de Tomé, pois vemos sem tocar.
Vemos por que tocados. A Palavra de Deus a tocar nossos ouvir e a abrir nossos
olhos e despertamos para a fé, no Ressuscitado. Jesus a nos dizer: ‘Põe o teu
dedo aqui e olha as minhas mãos. Estende a tua mão coloca-a no meu lado. E não
sejas incrédulo, mas fiel’. Irmãs e irmãos como Tomé exclamamos admirados: ‘Meu
Senhor e meu Deus!’”.
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