A Comissão
Pastoral da Terra lançou nesta segunda-feira 17 de abril na Universidade de
Brasília o “Caderno de Conflitos Brasil 2022”, que já está na 38ª edição,
dentro de um dia de seminários em que tem sido discutido a partir das propostas
dos povos, como ter vida digna. Um caderno que mais do que um relato sobre a
violência no campo, “ele traz memória, ele traz histórias, e muito além dos
dados inúmeros que são apresentados aqui, ele traz análises das realidades do
campo, e ele traz também as resistências e ele traz a identidade desses povos”,
um caderno que “simboliza muito mais do que simplesmente números”.
No evento participou Dom José Ionilton Lisboa de Oliveira, Bispo da Prelazia de Itacoatiara e Presidente da Comissão Nacional da Terra (CPT). Em 2022 foram 47, 6 mulheres, os assassinatos no campo, o que faz ver que essa realidade tem que ser mudada, ainda mais no dia em que o Brasil faz memória do Massacre de El Dorado dos Carajás. Um caderno que quer fazer também memória de Dom Tomás Balduino, no ano do centenário de seu nascimento.
“Com amor e
com temor”, disse estar presente no lançamento pela primeira vez Dom Silvio
Dutra, amor pela causa e temor por não ter muita familiaridade com esse tipo de
encontros. O Bispo da Diocese de Vacaria – RS ressaltou “aquilo que está sendo
feito aqui baseado, sedimentado em aquilo que cremos, nas verdades que cremos,
nos valores que cremos, nas lutas que cremos”. Algo que o Bispo fundamentou no
relato do Livro do Êxodo, na Gaudium et Spes e na Doutrina Social da Igreja,
que anuncia e denúncia realidades que existem. Dom Silvio Dutra chamou a não
ser sentinelas mudas e sim alguém que como Deus está sensível, desce e vai
libertar o seu povo.
Sobre a
violência, algo contrário à vontade de Deus, o vice-presidente da CPT destacou,
seguindo a Doutrina Social da Igreja, que “a violência nunca constitui uma
resposta justa, a Igreja proclama, com a convicção de sua fé em Cristo e com a
consciência de sua opção, que a violência é má, que a violência como solução
para os problemas é inaceitável, que a violência é indigna do homem. A violência
é uma mentira, pois é contrária à verdade da nossa fé, à verdade da nossa
humanidade”, fazendo ver a necessidade no mundo atual dos profetas não armados.
Antes de
apresentar os dados recolhidos no Caderno de Conflitos, José Geraldo de Souza
Junior, professor da Universidade de Brasília, fez uma reflexão em torno a essas
temáticas, desde uma perspectiva histórica e antropológica, recolhendo histórias
de luta no Brasil.
O Caderno é
fruto de um trabalho conjunto, segundo lembrou Tales Pinto, do Centro de Documentação
Dom Tomás Balduino, que começou mostrando um aumento de 10,39 por cento nos
conflitos no campo em relação a 2021, superando os dois mil, que vem acontecendo
em diferentes modos, como foi relatado, mostrando onde se localizam esses
conflitos no país. Uma violência que é contra as pessoas, vítimas de assassinatos
e ameaças, o que o levou a reclamar a necessidade de políticas de proteção. São
conflitos por terra, por água, conflitos trabalhistas, que se fazem presentes
na vida dos povos do campo no Brasil.
Uma
violência presente no Vale do Javari, na fronteira entre o Brasil e o Peru, uma
região com maior número de povos isolados no mundo, segundo relatou Beto
Marubo, liderança Univaja. Ele foi detalhando o que acontece na região e o
trabalho realizado por Bruno Pereira, sobretudo empoderando os indígenas, assassinado
naquela região em 2022. Por isso foi destacado a necessidade de o Governo
Brasileiro fazer a proteção desses indígenas. Um Caderno de Conflitos que tem
uma enorme importância para os trabalhos de pesquisa nas universidades
brasileiras, como foi mostrado no lançamento.
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