No 11º Domingo
do Tempo Comum, Dom Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando que neste 18
de junho a Igreja do Brasil inicia a Semana do Migrante. Isso numa arquidiocese
que recebe muitos migrantes e faz um grande esforço “em acompanhar, documentar,
receber, esses irmãos e irmãs que vem de outras terras”.
Comentando
o evangelho do dia, o cardeal Steiner disse que as ovelhas “caminham errando e
sem direção, daí o cansaço e o abatimento. Abatidas e desnorteadas pois sem
norteadores, sem sinalizadores, sem indicadores de esperança”. Uma situação que
provoca a compaixão de Jesus, “e envia aos discípulos para anunciar o Reino
novo, o da liberdade, da justiça, da verdade, do sentido para a vida humana”,
insistindo em que “a vida humana tem sentido, também na dor”. Um Reino que ele
definiu como “o Reino da plenitude, o Reino capaz de superar o abatimento e o
cansaço”.
Da primeira
leitura, o arcebispo de Manaus destacou “a declaração do amor de Deus para com
o povo de Israel. Deus compassivo cuida, enaltece, encaminha, guia”. Segundo Dom
Leonardo, “Deus que se compadece de seu povo, é a compaixão que envia Moises
para salvar o povo e libertá-lo da escravidão”. Ele insistiu em que “Deus é um
Deus compassivo, a compaixão faz ver as realidades como são, ela é como a lente
do coração que nos faz entender as realidades mais profundas, as maiores necessidades
das pessoas, pois a compaixão é a fraqueza de Deus, mas também a sua força, nos
diz Papa Francisco”.
Um Deus que “se compadeceu de nós, se tornou compassivo e nos enviou a sua compaixão, o Filho Jesus”, segundo o cardeal. Ele destacou a continua compaixão de Jesus, que “não é um sentimentalismo, mas manifestação concreta do amor que cuida das pessoas, seja do corpo, seja do espírito”. A compaixão tomou conta da vida de Jesus, afirmou, definindo a verdadeira compaixão como “sofrer com o outro, sentir-se próximo do outro, perseverador do outro”. Essa compaixão provoca que Jesus envie seus discípulos “para proclamar o Reino da proximidade, o Reino de Deus está próximo”, destacou.
O cardeal
definiu que “proclamar que Deus é próximo, perto de nós”, é a primeira missão
de nós discípulos, chamado a que não desconfiemos de Deus, “a proximidade, a
liberdade, a frutuosidade de Deus, essa esperança que anima os passos, revigora
as forças, concede olhos para ver novos horizontes, pois o Reino está próximo”.
Dom Leonardo fez ver que “o anúncio do Reino acontece na gratuidade”, e “nada
de negociação, de enganos, de ofertas compradas, trocadas”, denunciando que “hoje
nós temos quase uma aberração, oferecemos o Evangelho em troca de milagres” e
insistindo em que “o Evangelho não é negócio, é proximidade de Deus, é
manifestação de Deus, não é negociação”.
“O Reino
novo tem sinais, oferece indicações para despertar do abatimento e do cansaço”,
enfatizou. Citando o Papa Francisco, quando diz que “muitos se vem empobrecidos
pelo seu dinheiro e pelas coisas que pensam possuir e vem o cansaço da vida, a
indiferença para com a grandeza do Espírito”, ele fez a proposta do Evangelho do
dia, que nos fala de novo horizonte, sentido, proximidade de Deus. Diante disso
advertiu que “também nós às vezes estamos enfermos, enfermas, necessitamos de
cura, mortos e precisamos de ressurreição, possessos e esperamos ser libertos
dos demônios que impedem de viver como filhos e filhas de Deus”.
Dom Leonardo chamou a reparar na necessidade de “sarar o corpo e a alma dos que se sentem destruídos pela dor e angustiados pela dureza impiedosa da vida diária, pobreza, fome, abandono, sem sentido. Libertar do que rouba a vida, o bem humor, a graciosidade do bem viver, libertar de tudo o que faz sofrer”. No ressuscitar os mortos, ele vê o chamado a “despertar os homens e mulheres para o dom da vida, do amor, da força da esperança, do morrer a conta-gotas, da morte vir a vida cotidiana como graça, como suavidade, como compaixão”. O arcebispo de Manaus fez um chamado a “deixar-se renovar pelo amor, pela vontade de lutar, pelo desejo de liberdade, uma confiança ilimitada em Deus”.
Ao
explicitar o “purificai os leprosos”, Dom Leonardo chamou a “purificar, limpar
o corpo social da mentira, da hipocrisia, da falsidade, da vontade do poder, do
convencionalismo”. Isso para “viver na verdade, na simplicidade, na bondade, na
transparência, na honradez, na justiça”. No expulsar os demônios, o cardeal refletiu
sobre “quantos espíritos maus a rondar as nossas relações, as nossas ações. O
demônio da violência, da corrupção, do roubo, da morte. Expulsar tantos demônios
que escravizam e pervertem a nossa convivência familiar, social e também
eclesial”.
O cardeal
disse Deus estar próximo “onde há liberdade de espírito, onde o Espírito rege e
multiplica as relações dignificadas pelo amor”. Ele insistiu na compaixão como
mandamento de Jesus, “um anúncio gratuito, um anúncio testemunhal, sermos
pessoas que vivem do Evangelho, buscam curar-se, buscam ressuscitar, abrir
olhos, dar suportes para que as pessoas vivam em plenitude, enfrentem a cotidianidade
com jovialidade e graça”. Por isso, Dom Leonardo chamou a “sermos tomados pela
compaixão em nossos dias”, advertindo que “podemos ser tomados às vezes pela
indiferença”.
Dom Leonardo
refletiu sobre “como a indiferença humana faz mal aos necessitados”, citando o
Papa Francisco. “As margens da sociedade há muitas mulheres e homens provados
pela indigência, inclusive pela insatisfação e a frustração de viver”, afirmou,
criticando o sistema econômico que “explora o homem e impõe um jugo insuportável
que os poucos privilegiados não querem carregar”. A falta de amor é causa de
que nos sintamos cansados e abatidos, afirmou, cansaço do espírito, advertindo
que “o que nos salvara não será o conforto, as riquezas, a tecnologia, mas o
amor”.
“O amor
compartilha, acolhe, se compadece, enobrece as relações, desperta confiança,
vence os demônios da violência e da ganância”, destacou. Daí ressaltou o Reino
da compaixão e do amor, afirmando que “quem se compadece, atingido em suas
entranhas, o coração se emociona, lacrimeja, quando no compadecimento aprende a
amar. É que amor nos desperta para o compadecimento”, chamado a descobrir que “o
amor é gratuito, é generoso, nos desperta para realidades não imaginadas, faz
experimentar verdades que aliviam o cansaço e o abatimento”. Um amor que pede “simplicidade,
acolhimento, amizade, solidariedade, atenção, gratuidade, pede de todos nós fidelidade”.
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