segunda-feira, 26 de junho de 2023

Dom Leonardo Steiner: Não tenhais medo!


Não tenhais medo! Vós valeis mais do que muitos pardais!” No envio, na missão recebida, no caminhar pelas incertezas, pode nascer receios, medos. Jesus a confortar: “Não tenhais medo!”.

O Evangelho de hoje a nos libertar do medo: nada de encoberto, mas revelado; nada de escondido, mas conhecido; Luz, não escuridão; Proclamação em praça pública, não cochichos escamoteados, escondidos. O corpo pode passar pela morte, a alma permanece vida; ser viventes!

São muitos os medos que fazem as pessoas sofrer em silêncio, no escondimento. Medo do sofrimento, medo da fome, medo da perda do amado, da amada, medo da perda dos filhos, medos do desamparo, medo do desemprego, medo da morte.

No medo, a vida definha, se apaga; a alegria desaparece, o medo causa danos, afasta; uma vida tomada pelo medo definha. O medo afasta da solidariedade, da bondade. O medo nos afasta de Deus.

“Não temais”, se repete por três vezes no Evangelho proclamado. Ao enviar os discípulos Jesus assegura a sua presença, a sua ajuda, a sua proteção, no desejo de que os discípulos superem o medo e a angústia que resultarem do confronto, do embate, da perseguição. Jesus oferece três ensinamentos para a superação do medo: pede aos discípulos que o medo não impeça a proclamação da Boa Nova. A mensagem libertadora de Jesus não pode correr o risco de ficar, por causa do medo, circunscrita a um pequeno grupo, recolhido, escondido e comodamente fechado dentro de quatro paredes. A proclamação corre riscos, incomoda. A proclamação da vida nova, do Reino, tenha ousadia, coragem, convicção, coerência, esperança. Por isso, quanto mais livre e visível melhor: à luz do dia. Uma mensagem transformativa e transformadora para todos.



Ele ensina às discípulas e aos discípulos que se deixem guiar pela vida em plenitude, não pela morte. Não se deixem vencer pelo medo da morte física. O que é decisivo, para os discípulos, não é que os perseguidores o possam eliminar fisicamente, mas é perder a possibilidade de chegar à vida plena, à consumação da vida, à vida definitiva. A vida do Reino que é anunciado, a vida definitiva, é um dom de Deus. Os discípulos que percorrem com fidelidade o caminho de Jesus não precisam, viver angustiados pelo medo da morte.

E Jesus convida os discípulos a confiarem em Deus: Ele cuida dos pássaros! Revela a tocante ternura e cuidado de Deus por todas as criaturas, mesmo as que consideramos insignificantes e indefesas. Deus sabe a quantia de cabelos que temos em nossa cabeça, isto é nos conhece na profundidade de nós mesmos. Ele conhece de forma única, profunda, os nossos problemas, as nossas dificuldades, os nossos dons. É cheio de amor e de ternura, sempre preocupado em cuidar dos seus filhos e filhas.

Ora, depois de terem descoberto este “rosto” de Deus, os discípulos têm alguma razão para ter medo? A certeza de ser filho, de ser filha de Deus é, sem dúvida, algo que alimenta a capacidade do discípulo em empenhar-se, sem medo, sem prevenções, sem preconceitos, sem condições, na missão de anunciar o Reino de Deus. Reino da liberdade e da graça, Reino da verdade da justiça, do amor e da paz. Nada, nem as dificuldades, nem as perseguições, deveriam calar os discípulos e as discípulas, pois guiados e guiadas, direcionados e direcionadas pela confiança na solicitude, no cuidado e no amor de Deus, o Pai.

Jesus na sua pregação, com a sua presença, com os seus milagres, buscou despertar confiança. Se Deus cuida com tanta ternura dos pardais do campo, os pequeninos pássaros da Galileia, como não vai cuidar der nós, de cada um de nós? Se faz crescer as ervas do campo e faz florir os campos, como não vela e se debruça sobre cada um de nós? Para Deus somos muito mais importantes e queridos que todos os pássaros do céu e as flores do campo. Como nos diz um texto dos primeiros tempos do cristianismo: “Descarregai em Deus tudo que vos abate ou oprime, pois a Ele só interessa o vosso bem”.

Jesus que sempre transmitia esperança, confortava, buscava espantar o medo que se aninhava nos pobres, nos famintos, nas viúvas e nos órfãos. E repetia e animava e espantava o medo: Tem fé; a tua fé te salvou; Vai em paz, não voltes a pecar; Não julgueis, vive em paz.



Deveríamos ser discipulas e discípulos de Jesus, comunidades, que espantam o medo e oferecem o Evangelho da confiança. Uma comunidade onde se respira uma paz contagiosa e se vive o amor entranhável, que escuta o apelo de Jesus: “Não tenhais medo”!

Ao deixarmos ressoar as palavras de Jesus “não tenhas medo”, talvez possamos fazer a experiência de sermos amados por Deus. Tudo o que nasce dele é confiança e amor. Dele recebemos a vida, não a morte, a paz e o bem, não a violência e a guerra. Podemos até afastar-nos dele, mas ele não se afasta de nós. Deus nos ama incondicionalmente. Não temos necessidade de conquistarmos a Deus, apenas nossa abrirmos à sua graça e ao seu amor. Mesmo não sendo melhores, santos, santas, continuamos a ser amados por Deus.

Não ter medo.  Jesus encoraja os discípulos, nos ensina Papa Francisco. Fala do cuidado amoroso e providente do Pai, que se preocupa com os lírios do campo e as aves do céu, e, portanto, ainda mais com os seus filhos. Assim, não devemos preocupar-nos, nem nos agitar: a nossa história está firmemente nas mãos de Deus. Este convite de Jesus a não ter medo encoraja-nos. Com efeito, às vezes sentimo-nos presos num sentimento de desconfiança e angústia: é o medo de falhar, de não ser reconhecido e amado, o receio de não ser capaz de realizar os próprios projetos, de nunca ser feliz, e assim por diante. Então lutamos para procurar soluções, para encontrar algum espaço onde sobressair, para acumular bens e riquezas, para alcançar seguranças; e como acabamos? Acabamos por viver na ansiedade e na preocupação constante. Jesus, ao contrário, tranquiliza-nos: não tenhais medo! Confiai no Pai, que quer oferecer-vos tudo aquilo de que realmente tendes necessidade. Já vos ofereceu o seu Filho, o seu Reino, e acompanha-vos sempre com a sua providência, cuidando de vós todos os dias. Não tenhais medo: eis a certeza à qual o coração deve apegar-se! Não tenhais medo: um coração apegado a esta certeza. Não temais!” (cf. Angelus, 07/08/2022)

A confiança fundamental que Jesus transmite a seus discípulos: “Não tenhais medo dos que matam o corpo, mas não podem matar a alma”, fortalece os nossos passos, aquece nosso coração e abre os nossos olhos para a benevolência e bondade de Deus. Especialmente quando das contradições e decepções da cotidianidade. Permanecermos na confiança do amor que Deus tem por nós. Nele está a salvação, a libertação da morte e do fracasso. “Não tenhais medo”.

Irmãs e irmãos, Santo Agostinho dizia: “Tenho medo que o Senhor passe e eu não o veja”. Caminhemos na confiança, na certeza que Jesus e o Espírito Santo nos acompanham sempre. Amém.






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