“O que nos
encanta no texto proclamado é o anúncio da descoberta e na descoberta a alegria
que brota de um encontro. Um encontro que suscita a alegria. Uma alegria que
abre novos horizontes, toma conta da existência, dá sentido novo, desperta o
prazer de viver”, afirmou o cardeal Leonardo Steiner comentando o Evangelho do
17º Domingo do Tempo Comum, que “nos apresenta a conclusão do capítulo dedicado
às parábolas do Reino de Deus”.
O arcebispo
de Manaus falou do “tesouro escondido no campo. Escondido à espera de que
alguém que o encontre, o descubra. Ali estava para poder manifestar-se. O
tesouro que antecede a qualquer procura. Uma manifestação límpida de alguém que
é encontrado pelo tesouro. Sentindo-se encontrado pelo tesouro, o homem guarda
no recolhimento de seu coração, vai e desfaz de tudo o que tem para permanecer
junto ao tesouro, agora razão de seu viver. A alegria transformativa faz deixar
tudo para não perder o tesouro de sua vida. O tesouro é vida, o seu habitar, o
seu habitat”.
Dom
Leonardo vê o tesouro como “uma preciosidade, um valor inestimável, algo
inimaginável. Os tesouros escondidos que surpreendem, que encantam, que
despertam a alegria, a razão de existir”. Segundo o cardeal, “quando uma pessoa
encontra um tesouro, a riqueza mais preciosa, o fim último do próprio existir,
o valor fundamental pelo qual renuncia a tudo o que possui, se dispõe a
entregar tudo, para permanecer na proximidade do tesouro. É o fascínio, a
atração, o encanto, que o tesouro desperta, quando encontrado! Sem possuir o
tesouro, mas ser por ele possuída. A descoberta do tesouro inestimável, o Reino
de Deus!”.
Continuando
com o comentário do relato do Evangelho, o arcebispo disse que “o Reino dos
Céus é também como um comprador que procura pérolas preciosas e ao encontrar
uma de grande valor, ele vai, vende todos os seus bens e compra aquela perola”.
Citando a São Gregório Magno, afirmou que “a pérola de grande preço achada pelo
mercador, nada tem valor, e a alma abandona tudo o que tinha adquirido, desfaz
se de tudo o que vinha carregando sobre os ombros e considera sem sentido tudo
o que lhe parecia belo na terra, porque somente o resplendor daquela pérola
preciosa, brilha aos olhos da sua alma”.
Segundo Dom
Leonardo Steiner, “se o tesouro foi manifestação, surpresa, admiração, a pérola
é procura. O comprador a procura, por que despertado para um desejo nobre,
atraente: a beleza! A atração, a busca que a beleza da pérola suscita leva à
descoberta. E ao ser encontrado pela pérola preciosa, a pessoa é tomada pela
mesma alegria e disponibilidade do homem do campo, mas revestido de beleza.
Tudo perde o seu valor no encontro, no ser encontrado pela pérola”.
O cardeal
insistiu que “o tesouro extraordinário, a pérola preciosa, é a pessoa de Jesus
e seu Reino”. Por isso, “quem encontra o
tesouro, a pérola de grande valor, descobre aspirações mais altas e profundas:
alegria e a beleza do Reino anunciado por Jesus. Permanece fascinada, atraída,
pela bondade, a verdade e a beleza do tesouro, da pérola”.
“Jesus,
nosso tesouro, pois deu sua vida, ofereceu tudo, sem nada ficou, tudo entregou
ao Pai na gratuidade da doação”, afirmou o presidente do Regional Norte1 da
CNBB. Segundo o arcebispo, “a deu para que pudéssemos descobrir o tesouro da
nossa vida, a razão de viver. Jesus nos ofereceu o Reino de paz, de amor, de
fraternidade, de serviço, de reconciliação. Um tesouro precioso, inestimável,
admirável que recebemos e que deveríamos descobrir cada dia mais. Nós
seguidoras e seguidores de Jesus somos, antes de mais, aqueles que encontraram
algo de único, de fundamental, de decisivo, de inspirador, de transformador: o
Reino”.
Dom
Leonardo lembro as palavras do Papa Francisco em que lembra das pessoas que “lendo
o Evangelho com o coração aberto, foram literalmente conquistados por Jesus, e
converteram-se a Ele”, colocando o exemplo de são Francisco de Assis. Segundo o
cardeal, citando o Papa Francisco, “o Evangelho leva-nos a conhecer o Jesus
verdadeiro, faz-nos conhecer o Jesus vivo; fala-nos ao coração e muda a nossa
vida. E então, sim, deixamos tudo. Podemos mudar de vida concretamente, ou
então continuar a fazer aquilo que fazíamos antes, mas nós somos outra pessoa,
renascemos: encontramos aquilo que dá sentido, sabor e luz a tudo, inclusive às
dificuldades, aos sofrimentos e até à morte”.
O arcebispo
também lembrou as palavras de Santo Agostinho comentando o Evangelho de São
João, onde diz que “cada um é atraído pelo seu prazer. E, do prazer como
horizonte, nasce o desejo. O prazer, a realização, a dinâmica transformativa da
vida que desperta o desejo que leva à alegria. O encontro do tesouro e a
procura da pérola é, portanto, fonte de alegria: ‘Cheio de alegria, ele vai,
vende todos os seus bens’. O prazer de um pertencimento realizador, iluminador!
O prazer de encontrar o tesouro que satisfaz e realiza a nossa vida, ilumina
nossos dias”.
“Não somos convidados ao ensimesmamento, à tristeza, ao lamento, à frustração. Somos atraídos à realização, à plenificação, à frutuosidade, à profundidade e altura de vida. Somos atraídos a viver do amor e no amor. O amor é realizador, alentador, sonhador, gerador. O amor nos faz descobrir que o outro é um tesouro. Trata-se de deixarmo-nos atrair por nosso desejo mais profundo, mais prazeroso, o desejo de viver, e viver para sempre no amor, amando os mais necessitados”, insistiu o cardeal Steiner.
Na primeira
leitura, ele destacou que “Salomão pediu pouco, quase nada, mas tudo que
necessitava para conduzir o Povo de Deus: a sabedoria”, o que define como “pérola
de grande valor”. Ele fez ver que Salomão procura “a sabedoria para praticar a
justiça, uma pérola atrativa, encantadora, pois possibilidade de conduzir com
justiça e sabedoria o povo! A justiça onde tudo está ajustado, onde a equidade
impera, onde as relações não são imposição, mas expressão de um cuidado. A
pérola maior e mais preciosa para que o reino continuasse a ser o reino do Povo
de Deus”.
Já na segunda
leitura, o cardeal insistiu em que “onde está o tesouro, está a alegria, onde
está o tesouro ali está Deus e no amor de Deus a alegria em plenitude. No amor,
está tudo: o serviço ao próximo, uma vez que através dos outros é que amamos a
Deus. Deus a quem não podemos amar, isto é, servir, diretamente, mas nos irmãos
e irmãs, nas criaturas”. Lembrando as palavras do Evangelho de Mateus: “Onde
está teu tesouro, aí estará também teu coração”, o arcebispo ressaltou que “o
coração, a nossa vida bate no ritmo do tesouro que nos encontrou, no ritmo da
beleza da pérola que nos despertou para permanecermos no caminho da salvação”.
Dom Leonardo
lembrou que “ao iniciarmos o mês vocacional na igreja no Brasil, somos
despertados para o tesouro, a pérola da nossa vocação. Cada vocação é um
tesouro, uma pérola. Que nosso coração permaneça junto ao tesouro que nos
encontrou”. Ele citou uma oração de uma terciaria franciscana, onde disse ver
que “é esse tesouro, essa pérola que nos envolve e nos envia pelo caminho da
plena realização. Uma rede do amor que nos apanha e, como afirmava o Evangelho,
nos recolhe nas cestas da eternidade, onde participamos do amor sem confim.
Somos recolhidos pelos anjos para a participação na eternidade do amor”.
O cardeal fez
um chamado a aceitar o convite de Jesus e tirar do tesouro do Evangelho coisas
novas e velhas. “Novas, não novidadeiras, pois transformadoras, libertadoras
que geram um coração criativo e buscador, segue novos caminhos, leva a amar a
Deus, os irmãos e irmãs. Velhas, porque de raiz, de fundamento, razão de
existir, sentido de todas as coisas. Velhas porque não passam, fazem parte da
criatividade histórica da fé, a santidade”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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