“Qual o segredo dos pequeninos que desperta louvor, oração, ação de graças? Os pequeninos, as crianças, os de pouco estudo? Quem são os pequenos que abrem as portas da admiração, da louvação? Quem são os sábios e entendidos a quem Deus esconde ou se esconde; para quem Ele permanece velado?”, se perguntou o cardeal Leonardo Steiner no início de sua homilia do 14º Domingo do Tempo Comum, após citar o texto do Evangelho do dia.
Segundo o arcebispo de Manaus, “Deus esconde as coisas, as belezas, as preciosidades, as sutilezas, os encantos do Reino dos Céus aos ‘sábios e entendidos’, mas as revela aos pequeninos. Deus nega-se aos doutos ensoberbecidos pela aparência do próprio de saber, e se revela aos simples, os que não sabem que sabem, os pequeninos”.
“Sábios
e entendidos, aqueles que já sabem, sabem demais. Os que pensam tudo saber, já
não necessitam saber, pois fundados no próprio entendimento. Os sábios e
entendidos, fechados em si mesmos. Ao saber do já sabido, nada mais pode ser
revelado; nada mais para o qual possa ser despertado. Mas é do encantamento, da
admiração, da surpresa, da revelação que nasce a gratidão, a abertura de novos
horizontes, novas compreensões, sonhos, verdades”, refletiu Dom Leonardo.
“Os sábios e entendidos, os autossuficientes, os fechados; os que compreendem, mas pouco sabem. Os entendidos que acumulam saber, sem sabedoria; que pensam ter-se apropriado da sabedoria, mas permanecem na ignorância. Aqueles que por ‘saberem demais’, pouco espaço sobra para o outro com suas fraquezas e necessidades. O mistério da fraqueza, da finitude, não os atrai, não os toca. Existe uma espécie e autossuficiência, auto asseguramento. Justificam a finitude, o limite, fecham-se ao Mistério da salvação”, insistiu o cardeal.
Em palavras do arcebispo de Manaus, “as pessoas que
pensam entender do céu e da terra, tudo verificam pouco entendem; tudo
comprovam, pouco percebem; tudo interrogam com respostas já sabidas. Esse tipo
de saber baseado no cálculo, na soma, esquecido da receptividade de deixa-se
tomar pelas manifestações admiráveis dos céus, da presença dos pássaros do céu,
das ervas dos prados, dos lírios do campo. Tantos seres que manifestam a
graciosidade da presença de Deus. Esses que se sentem espertos, inteligentes,
na acumulação e devastação, apenas para a cumulação. Pouca admiração e
reverência para com o Mistério que tudo deixa surgir, emergir, que tudo guarda
e recria”.
“Os grandes e poderosos, os sábios e inteligentes do
Evangelho de hoje, não percebem a presença do Reino de Deus e não acolhem o seu
horizonte, o seu sentido. O Reino se esconde, resiste aos soberbos, por mais
santos que imaginam ser”, disse o arcebispo, citando as palavras de Santo
Hilário, onde diz: “estão ocultos aos sábios os
segredos e as virtudes da Palavra de Deus e para os pequeninos estão abertos:
aos que são pequenos em malícia, mas não em inteligência; aos que são sábios
aos olhos da presunção, mas não aos da prudência”.
“E porque pensam tudo compreender e saber, tudo
dominar e assegurar, dificilmente experimentam o que nos disse Jesus”, afirmou
Dom Leonardo citando o texto do Evangelho: “vós que estais cansados e fatigados
sob o peso dos vossos fardos, e eu darei descanso. Tomai sobre vós o meu jugo e
aprendei de mim, porque sou manso e humilde de coração, e vós encontrareis
descanso. Pois o meu jugo é suave e meu peso é leve”.
Segundo o cardeal, “o saber que pensa saber é um
fardo, perde a suavidade das revelações e manifestações do Espírito: a Bondade,
a Misericórdia, a gratuidade. Desaparece aquela abertura e disponibilidade
própria da receptividade, do acolhimento. Os sábios e entendidos correm o risco
de estarem assentados sobre os seus saberes e passam a vida sem perceber que
Deus deseja oferecer o seu amor paterno-materno. O caminho da fé tem outra
tonância: tem suavidade, leveza, mesmo na dor e no sofrimento. É a vida dos
pequeninos”.
Com
as palavras de Santo Agostinho: “Sábios e prudentes, se entende os soberbos,
segundo manifesta o Senhor com as palavras: 'Revelaste estas coisas aos
pequeninos'. E quem são os pequeninos, senão os humildes?”, Dom Leonardo disse
quem são “os pequenos, os humildes como nos ensinava a primeira leitura: ‘Eis
que vem teu rei ao teu encontro; ele é justo, ele salva; é humilde e vem
montado num jumentinho!’”. Ele insistiu que “o verdadeiro encontro acontece na
humildade, no ainda não saber. Os pequeninos, os simples, os humildes, os
disponíveis, os abertos, os procurantes, os caminhantes, os que não sabem, mas desejam
saber, os do não-saber, abertos às revelações que Deus oferece”.
Nenhum comentário:
Postar um comentário