sexta-feira, 14 de julho de 2023

Moema Miranda: Igreja na Amazônia, uma mística madalena, de mulheres que constroem novas possibilidades


O Congresso Internacional da SOTER, que tem reunido presencialmente e on-line mais de 600 congressistas de 11 a 14 de julho, tendo como foco a Amazônia, contou em seu último dia com a presença de Moema Miranda, que refletiu sobre “A Amazônia e a Igreja do Brasil: desafios para a ecologia integral e a ecoespiritualidade

Desde seu chamado a um olhar esperançoso, a uma esperança muito frágil que não se perde na catástrofe, mas também não nega essa catástrofe, Moema Miranda centro sua intervenção em três elementos: floresta, mundo, Igreja.

A floresta, que ela vê como aquilo que está do outro lado, como “um grande acontecimento biotecnológico em que milhares de seres humanos se encontram e interagem”. Isso nos desafia a pensar no mundo em um mundo complexo, cada vez mais complexo. Diante disso a Igreja na Amazônia está motivada por uma mística de quem não arreda o pé, uma mística madalena, inspirada em mulheres que caminhando juntas puderam construir a possibilidade de hoje falar de uma Igreja que hoje constrói a possibilidade de novos vínculos, de novas alianças.



Analisando a realidade, Moema Miranda disse que no tempo atual, “estamos passando a viver em uma terra que não conhecemos, um planeta cada vez mais complexo e com mais dificuldade”. Um mundo onde tudo está interligado pela lógica do capital, uma das imensas ameaças para a Amazônia brasileira, denunciando que 80% do desmatamento da Amazônia brasileira deve-se ao avanço da pecuária, algo que vai unido à ameaça crescente do avanço da mineração.

A leiga franciscana definiu a floresta como “essa comunidade ecumênica da vida à qual nós podemos mudar o nosso olhar e aprender dela a conviver”. Uma floresta onde aqueles que a defendem são vítimas da perseguição, da violência e da morte. Situações que são provocadas pelo sistema capitalista, que se apresenta em diferentes modos e realidades, apresentando o novo conceito de “hidra capitalista”, em uma sociedade onde tem acontecido uma institucionalização do delito.

Diante dessa realidade, ela fez a proposta de alternativas, que levem a descobrir que “a selva não é ameaça, a selva salva”, colocando como exemplo disso as quatro crianças perdidas na floresta amazônica na Colômbia durante 40 dias, que sobreviveram porque elas estiveram em sintonia com a natureza, com uma selva que em cada centímetro tem sua espiritualidade.



A Igreja na Amazônia hoje habita um mundo muito diferente ao mundo de 1972, uma data de grande importância. Diante disso sua proposta é um caminho de volta para casa, que não é só uma casa, um tempo de reconstruir caminhos e reconfigurar nosso lugar. Nessa Igreja da Amazônia, Moema refletiu sobre a figura da Ir. Dorothy, que foi para a Amazônia porque se sentiu chamada pela floresta. Ela lembrou o testemunho de quem conviveu com ela, que vê seu sangue como “um sangue que fertilizou a terra”, e afirma que “ela foi plantada e continua a crescer, ela foi convertida em encantado, ela foi sendo ressignificada como vida e ela continua presente na caminhada, viva, criando novas formas de vida, de resistência, de barrar o fim do mundo”.

A Ir. Dorothy é considerada por Moema Miranda como exemplo de uma espiritualidade encarnada, “o espírito dela continua presente”, vendo a religiosa como mártir e santa do povo da floresta, “ela foi chamada pela floresta e se fez uma com muitos outros”.

É por isso que se faz necessária uma conversão à cosmofilia, a amar o cosmos. Uma atitude presente nos povos indígenas, destacando o trabalho realizado pelo Conselho Indigenista Missionário (CIMI), que ajudou a recriar as identidades dos povos indígenas e a tomar consciência de seu ser indígenas, de povos diferentes, mas unidos. Ela também destacou um outro exemplo do trabalho da Igreja com os povos indígenas, o realizado pelas irmãzinhas de Foucauld com os Tapirapés, um povo condenado a desaparecer que ressurgiu com sua presença samaritana.

Finalmente, Moema Mirando insistiu em que “uma releitura apocalíptica hoje nos coloca em disputa contra o império capitalista, que não tem a última palavra”. Diante disso, ela enfatizou que “Cristo aponta para a Amazônia, onde Ela já habitava antes da chegada daqueles que vieram destruir”, desafiando a estar dispostos a acreditar nos espíritos da floresta, se colocar na escuta daqueles que hoje ainda escutam as árvores. E fazê-lo como uma Igreja madalena, acolhedora, que não tem medo porque ama.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

3 comentários:

  1. Igreja Madalena que insiste na realidade do Amor entrega biodiverso, creditado por Ir Doroty, defendido po Dom Claudio Hummes, que há de ser reconstruído por maos femininas, Franciscanas como as de Moema. Paz e Bemo por Ir.

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  2. Obrigada pela matéria. Essa conferência foi maravilhosa.

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  3. Molto interessante. Urge cambiare angolazione nei confronti della natura. Ci vuole più rispetto. 🙏.

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