Refletindo sobre a pressa de Maria na passagem
do Evangelho da Solenidade da Assunção de Nossa Senhora começou o cardeal
Leonardo Steiner sua homilia. Segundo o arcebispo de Manaus, “a pressa de Maria
é cheia de serviço e de anúncio. Ao visitar a sua
prima Isabel que
era uma mulher estéril e de idade
avançada, ela se faz anúncio e
serviço”.
“A
pressa de Maria é sem
pressa, sem
o peso do tempo, sem
a angústia do término, sem
a pressão de um encontro
qualquer, sem a pressa
e a preocupação do desencontro”,
disse dom Leonardo. Ele insistiu em que “dirigindo-se apressadamente
indica um modo
todo próprio
de quem carrega Deus.
Deus que se fez humanidade, humildade, pequenez no ventre de Maria. A presença generosa, pequena,
grandiosa e humilde
de Deus em
nossa humanidade,
no ventre da mulher.
A pressa a indicar a sensibilidade de
Maria em relação
à presença escondida, velada e delicada
no seu ventre.
Dessa percepção vem a pressa, a agilidade de Maria. Então,
sim, os passos se tornam ágeis, suaves, firmes e não
existe mais cansaço
em subir as
regiões montanhas da Judéia, na buscar a casa de
Zacarias, no encontro com Isabel”.
Na
pressa, o cardeal vê que “a alegria, a admiração,
a satisfação, o cuidado
com a presença
do fruto do ventre
a conduzem ao encontro daquela que gesta em si o fruto da esterilidade, o fruto
da espera, do anúncio
da salvação, da compaixão de Deus. A pressa
se torna, então,
leveza, singeleza,
pobreza, liberdade,
pois de tudo apenas, anúncio e serviço pelo fruto de seu ventre. Ele é a única riqueza, o único ser,
a razão agora
de seu viver e servir, a razão de ser mulher e mãe. A pressa que é um anúncio”.
Analisando
o texto de Lucas, o cardeal diz que ressalta a saudação
de Maria: “logo que
tua saudação chegou aos meus
ouvidos, a criança
pulou de alegria no meu
ventre”. E continua com Isabel
dizendo: “Como posso merecer que
a mãe do meu
Senhor venha me
visitar? Ao ressoar a tua saudação aos meus ouvidos
o menino saltou de alegria no meu ventre”. Dom Leonardo ressaltou que “Maria
que carrega o Filho de Deus, proclama que Deus finalmente veio libertar o seu
povo, que se fez um de nós, como nós. Ela
é gestadora, portadora de Deus, carregadora
de Deus, que se faz proclamação, anúncio de uma nova presença: Deus humanado. A
alegria do encontro
entre Maria e Isabel, é a fala da presença do Filho de Deus, percebida por
aquele que
ainda está em geração no ventre materno”.
“Maria
que sobe apressadamente às montanhas e
entra na casa de Zacarias, vai para
servir. Servir àquela que era estéril e na velhice concebe”, segundo dom
Leonardo. Ele destacou que “serve, cuida, se faz proximidade, assume os
afazeres cotidianos. Tudo para que a prima Isabel possa gerar o preparador dos
caminhos, o endireitador das estradas, o aplainador das colinas, para anunciar a
presença do Cordeiro que tira o pecado do mundo!”, mostrando “que graça foi
para Isabel receber a presença de Maria, e nela a presença do Filho de Deus”.
Ele
mostrou que “felizes somos nós quando
carregamos, trazemos, gestamos em nós o Filho de Deus, como
Maria. Bendito é o fruto
de nosso ventre,
de nosso coração.
Nós não
somos só filhos
e filhas de Deus, mas
carregamos em nós
a sua imagem,
a sua semelhança,
como também
o temos sempre em
nós na Palavra
e no Pão. Somos ação, geração de Deus!”. Diante disso, “como não
nos dirigirmos apressadamente,
agilmente, de modo disponível,
como não
nos dirigirmos livremente,
pobremente, humildemente,
somente com o
fruto de nosso
ventre, Jesus, para
as regiões montanhosas do nosso dia-a-dia?
Como não
saudar com a nossa voz a presença do Filho de Deus que
tentamos gestar em
nós? Como
não nos
dirigirmos livremente, pobremente à casa
dos irmãos e irmãs com a saudação da presença
do Filho de Deus
que trazemos em
nós e fazer saltar de alegria o menino que
dorme dentro de cada
ser humano? Como não
levarmos apressadamente a Jesus para dentro das casas, das famílias e deixar
que cada
casa, cada família, se torne a casa do encontro,
a morada de Deus?
Cada ser humano
recupere a alegria, quase
infantil e ingênua
de viver, porque
segura e certa
da presença singela
e humilde e livre
de Deus em
nós e no nosso
meio?”, questionou o cardeal.
Dom
Leonardo convidou a “como Maria sermos anúncio e serviço! Serviço na visitação
que fazemos ao irmos ao encontro dos irmãos e irmãs em necessidade. Servir para
cuidar que Deus seja gerados no coração das mulheres e dos homens sem lugar,
sem sentido, sem horizonte. Servir na cotidianidade para que a justiça e a
verdade sejam acessíveis a todos as pessoas, especialmente aos pobres. Servir
para que o Filho de Deus, seja gestado nos corações”.
“Então,
Jesus em nós,
nos faz subir
todas as regiões montanhosas da nossa vida nascida
das tensões e desatenções
em que
vivemos cotidianamente. Ele sempre em nós, nos faz sair de nosso pequeno mundo e
subir, subir sempre, livremente,
pobremente, não
nos deixando sucumbir
pelas contradições e incompreensões da convivência. Ele
em nós,
nos faz entrar
na casa que
não é nossa,
e, ali, nos
faz cantar: ‘a minha alma
engrandece ao Senhor e meu
espírito exulta em
Deus meu salvador,
porque olhou para
a humildade de sua
serva’. Ele
em nós
é o nosso tempo,
o não-tempo, e que faz de nosso tempo a eternidade. Nesse tempo
de eternidade saltar
de alegria o menino,
a inocência, que
habita em nós”
afirmou o cardeal.
Recordando as palavras do Papa Francisco, disse que o “Evangelho
nos apresenta o cântico do Magnificat, na qual Nossa
Senhora profetiza. Profetiza no servir, que não prevalecem o poder, o
sucesso e o dinheiro, mas sim o serviço, a humildade e o amor. E, olhando para
Ela na glória, compreendemos que o verdadeiro poder é o serviço e reinar
significa amar”.
Lembrando
o Mês Vocacional, dom Leonardo disse que “na Solenidade da Assunção de Nossa
Senhora, recordamos e rezamos pelas irmãs e irmãos chamados à vocação de
consagração, à vida religiosa. Irmãs e Irmãos que pela consagração anunciam a alegria da
presença de Deus na terra. Receberam o chamado para sair, encontrar os
irmãos e irmãs e oferecer ‘o que ouvimos, o que vimos com os nossos olhos, o
que contemplamos e as nossas mãos apalparam do Verbo da Vida’”, lembrando o
texto da Primeira Carta de João. É por isso que “tomados e enebriados pelo
Verbo da Vida
anunciam para que a alegria seja completa; a vida seja plenificada!”,
insistiu.
“São
presença anúncio do Deus humanado. São anúncio pelo serviço, sendo próximos
como o bom samaritano, imitando a Jesus Cristo que veio para servir e não para
ser servido. Receberam a vocação à liberdade e ao serviço.
Chamados a viver a alegria do Evangelho sob a inspiração e vigor do Espírito
Santo, escutando e cuidando daqueles que ninguém quer”, afirmou com palavres de
Teresa de Calcutá. “A vida consagrada, a vida religiosa,
como palpabilidade da liberdade, da vida plena que Jesus oferece a todos os que
o seguem”, disse dom Leonardo.
“Papa Francisco
nos lembra que Maria, a Mãe que cuidou de Jesus, agora cuida com carinho e
preocupação materna desse mundo ferido. Assim como chorou com o coração
trespassado a morte de Jesus, assim também agora se compadece do sofrimento dos
pobres crucificados e das criaturas desse mundo exterminadas pelo poder humano.
Ela vive, com Jesus, completamente transfigurada, e todas as criaturas cantam
sua beleza”, afirmou o arcebispo de Manaus. É, seguindo Apocalipse, a Mulher “vestida
de sol, com a lua debaixo dos pés e com uma coroa de doze estrelas na cabeça”. Em
palavras do cardeal, “elevada ao céu, é Mãe e Rainha de toda a criação. No seu
corpo glorificado, juntamente com Cristo ressuscitado, parte da criação
alcançou toda a plenitude da sua beleza. Maria não só conserva no seu coração
toda a vida de Jesus, que ‘guardava’ cuidadosamente, mas agora compreende
também o sentido de todas as coisas. Por isso, podemos pedir-lhe que nos ajude
a contemplar esse mundo com um olhar mais sapiente”, segundo diz Laudato Si.
“O Magnificat nos leva a cantar as maravilhas de Deus, a
confiança de servas e servos. Mãe, contigo engrandecemos e nos alegramos no Salvador
Jesus, porque fomos olhados e encontrados”, segundo dom Leonardo. Se dirigindo
a Maria, ele disse: “contigo cantamos que a misericórdia se estende, de geração
em geração. Tu pequena e humilde,
foste exaltada e levada à glória do Céu, enquanto os poderosos do mundo
permanecem de mãos vazias. Confiamos que Deus dispersa os ensoberbecidos de
coração e eleva os humildes, que Ele sacia de bens os famintos e despede os ricos de
mão vazias. Ele sempre socorre as suas servas e servos, pois a misericórdia
perpassa todas as gerações. Magnificamos a Deus nosso Salvador!”
Finalmente, ele convidou a pedir “a
graça de nos
dirigirmos apressadamente, livremente, disponivelmente ao encontro dos todas as
pessoas para anunciarmos a presença do Filho de Deus, nossa esperança, e servirmos com alegria aos que necessitam
no corpo e no espírito. A exemplo de Maria, cantemos sempre
as maravilhas que
Deus opera continuamente entre nós”.
Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1
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