A Vida em
Primeiro Lugar é o pedido que o Grito dos Excluídos faz cada ano, palavras que
gritou o cardeal Leonardo Steiner junto ao povo presente no início da celebração
eucarística com que foi aberto o 29º Grito dos Excluídos na Arquidiocese de
Manaus. O arcebispo de Manaus lembrou que essa é “a vida que vem de Deus, que recebemos
de Deus, a vida de cada irmão, cada irmã, a vida que é a Criação, a vida que
nos rodeia, a vida que somos cada um de nós, dom de Deus, por isso a vida em
primeiro lugar”.
A
celebração contou com a presença do bispo auxiliar, dom Tadeu Canavarros,
representantes do clero, da Vida Religiosa e das pastorais e movimentos, que em
palavras do cardeal se reuniram para “elevar o grito para que a vida seja
cuidada, preservada, e que tantos irmãos que vivem à margem, excluídos, possam
ser integrados, viver em fraternidade”.
O arcebispo
de Manaus, lembrando as palavras do evangelho do dia, disse que Jesus sabia que
a vida estava em primeiro lugar, afirmando que “é por isso que foi ao encontro,
entrou na barca vazia, do trabalho vazio de uma noite, porque queria, desejava,
demostrar aos discípulos que a vida estava em primeiro lugar”. Segundo o
presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil
(CNBB), Jesus “ensina a partir do trabalho, a partir da decepção, a partir do
lucro não conseguido, a partir da pesca não realizada”, e diz que
a vida em primeiro lugar, o que levou os discípulos a lançar de novo as redes e
pegar uma abundância enorme de peixes.
Segundo o
cardeal Steiner, “chegamos ao 29º Gritos dos Excluídos e temos às vezes a impressão
de que o barco continua vazio. Tantas manifestações no Brasil inteiro, tantos
gritos erguidos, tantos gritos ressoados, e temos às vezes a impressão que permanecemos
no vazio do trabalho, no vazio do grito”, insistindo em que assim não é. O
arcebispo ressaltou que “todas as nossas manifestações, seguindo a Jesus, nós
sempre de novo erguendo a voz, nós sempre de novo recordando, nós sempre de
novo sendo enviados ao lugar das nossas dificuldades e problemas, nós vamos
como que despertando, nós vamos devagarinho tendo políticas públicas que ajudam
na superação dos nossos gritos de aflição, de dor, mas também os nossos gritos
de pecado da nossa sociedade”.
Dom
Leonardo lembrou que neste ano recordamos a fome, denunciando que “é grande
também na nossa cidade de Manaus”, destacando a generosidade das comunidades,
de pessoas, empresários, uma ajuda que sem ela, “nós estaríamos necessitados e estaríamos
ainda com os barcos vazios”. Uma ajuda e generosidade que tem ajudado a
diminuir a fome, “porque não conseguimos ainda superá-la em nossa cidade,
devido ao grande desemprego e à vinda contínua de pessoas para nossa sociedade”.
O cardeal
Steiner insistiu em que “existem outras fomes que ainda não conseguimos superar,
e é preciso recordar, é preciso gritar”, lembrando a fome da saúde, a fome de
lazer e de espaços de encontro, a fome de cultura diante da riqueza de
culturas, destacando a cultura é expressão da vida, dos anseios, dos sonhos,
das relações. O arcebispo afirmou que “nós aqui estamos não para protestar, mas
para dizer, elucidar, iluminar, gritar as necessidades, para que a escuridão se
faça luz”, lembrando as palavras da primeira leitura do dia.
“Todo Grito
dos Excluídos é uma iluminação, todo Grito dos Excluídos é uma tentativa de
compreendermos melhor que na nossa sociedade os irmãos e irmãs tenham chance de
conviver, tenham chance de lazer, tenham chance de cultura, tenham chance de
educação, tenham chance de saúde”, segundo o presidente do Regional Norte1. “Se
a vida está em primeiro lugar, o que é feito das nossas matas? O que é feito
dos nossos igarapés que fedem?”, questionou o cardeal, denunciando que os
dejetos estão sendo jogados nos rios da Amazônia.
Por isso,
ele reclamou “a vida em primeiro lugar também com o meio ambiente, também com
as nossas águas, também com as nossas matas”, denunciando que “as nossas matas
estão sendo destruídas, os nossos rios estão sendo tomados pelo mercúrio”. Se
perguntando o que estamos fazendo, pediu que “ao menos elevemos o grito para
que a vida esteja em primeiro lugar”. Ele disse que algumas comunidades
ribeirinhas correm perigo de vida devido ao mercúrio que ingerem a través dos
peixes e das águas.
Dom
Leonardo pediu que “este 29º Grito nos ajude a sermos o Reino da Luz, e sigamos
a Jesus, não tenhamos medo da decepção, não tenhamos medo da contrariedade, não
tenhamos medo dos não frutos, sigamos a Jesus, lancemos as redes, façamos o nosso
grito, para que devagar se estabeleça o Reino da Verdade e da Graça, o Reino da
Justiça, do amor e da Paz”, insistindo em que “nós estamos necessitados de paz
porque estamos necessitados de justiça”.
O Grito,
que percorreu as ruas da cidade de Manaus encabeçado pelo cardeal Steiner, quer
mostrar, segundo o padre Alcimar Araújo, vice-presidente da Caritas Arquidiocesana,
“a grande importância da resistência, persistência e acreditar numa sociedade
mais justa, fraterna e solidária”. Ele lembrou que “nesses tempos que nós
passamos, com uma democracia sendo vilipendiada, desrespeitada e destruída, a
gente se manter nas ruas e ter garantido pelo voto e pela resistência a
manutenção da democracia é muito importante”.
O padre
Alcimar refletiu que “esse povo que está aqui é uma resistência dentro de uma
dinâmica da fé que se está resumindo aos cultos, à liturgia, às devoções”. Ele
afirmou que “tudo isso é importante, mas não pode estar afastado da vida, das
necessidades, da dignidade do povo”. Lembrando o tema do Grito, ele insistiu em
“toda a vida da Igreja, tudo o que fazemos tem a vida como objetivo
fundamental, quer valorizar a dignidade da vida, dar espaço, oportunidade para
a vida das pessoas”.
Destacando a
importância de estar no Grito, ele insistiu em que “como Arquidiocese de Manaus,
nós queremos nos alimentar dessa mística da profecia, da libertação, de
construir relações mais fraternas, e também sensibilizar tanto o povo como as
autoridades para que a gente possa fazer uma sociedade melhor”. Por isso, o
padre fez ver que “se as autoridades entendessem que a política tem a ver com a
vida, tem a ver com justiça, tem a ver com transparência, tem a ver com
participação, tem a ver com direitos, tem a ver com saúde e moradia digna para
todos, tem a ver com verdade, tem a ver com participação. Se eles entendessem e
representassem realmente o povo que os colocou lá, é possível que a gente vivesse
um país melhor”.
O
vice-presidente da Caritas denunciou que eles representam aqueles que tem
dinheiro, mas não as necessidades do povo, o que faz com que “estar aqui na rua
é muito importante, é sinal de resistência, é sinal de profecia, mas também de
ternura e de acreditar na dignidade da vida e na justiça”.
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