Mons.
Zenildo Lima da Silva foi nomeado pelo Papa Francisco bispo auxiliar da
Arquidiocese de Manaus no dia 27 de setembro de 2023. Uma nomeação que situa na
perspectiva do Congresso Missionário Nacional, em cujo encerramento receberá a
ordenação episcopal. Ele vê seu ministério “muito vinculado com a identidade
dessa Igreja de Manaus”, onde ele tem vivido sempre sua fé.
Uma nomeação
fruto da “maturação de nossa identidade eclesial”, uma Igreja ministerial que
de diferentes modos assume a missão na Amazônia. Isso numa Igreja que está
vivendo um grande processo sinodal, mas onde “a
indicação e o processo de escolha dos bispos na Igreja ainda não é um processo
que acontece dentro da sinodalidade que a gente esperava”. Uma sinodalidade
que acontece “a medida que o ministério possa ser exercido abraçando a dinâmica
de participação que é próprio dessa identidade sinodal”.
Um
ministério episcopal com o qual ele quer “oferecer aquilo que pode, mas sempre
de um modo novo, de uma existência batismal retomada a partir do ministério,
exercer o que sempre faz, mas com uma autoridade, quer dizer uma qualificação
do serviço”. Um novo serviço na Igreja de Manaus que “agora é uma abrangência a
uma totalidade da Igreja”, insistindo em que essa Igreja de Manaus pode esperar
dele “a totalidade da minha disponibilidade”.
Nascido em
Manaus, padre de Manaus, e agora a Igreja universal, pensando na Igreja de
Manaus lhe encomenda uma nova missão: ser bispo auxiliar de Manaus. Como está
vivendo isso?
Essa
nomeação chega numa ocasião bastante oportuna para a gente situar esse
acontecimento, que é essa perspectiva do Congresso Missionário Nacional, da
Igreja local para os confins do mundo. E a gente começa essa reflexão a partir
da compreensão da Igreja local. A sua pergunta insiste nesta localidade,
nascido em Manaus, presbítero de Manaus e escolhido pela Igreja para servir a
Igreja de Manaus.
É o
exercício de um ministério que vai se realizar na existência eclesial da Igreja
que nesse chão de Manaus vive esta experiência no seu ser e no seu agir.
Acredito que o convite para esse ministério está muito vinculado com a
identidade dessa Igreja de Manaus, com a autorrealização dessa Igreja de
Manaus.
Eu experimento,
acolho muito esse momento, como um momento da Igreja, não como um momento
pessoal. Não era algo para o que eu desenhava a minha vida, mas percebo que é
algo que vai formatando o desenho da identidade dessa Igreja. E foi nesse
sentido, que me senti impelido a acolher esse pedido do Papa.
Fala de
missão, o Amazonas é um Estado que já recebeu muitos missionários, onde a
maioria dos bispos até agora foram de outras regiões do Brasil ou do exterior.
O senhor não é o primeiro bispo amazonense, e essas nomeações podem ser
consideradas um amadurecimento das igrejas locais, que aos poucos vai assumindo
mais ministérios, inclusive o ministério episcopal, ¿poderíamos dizer que esse
amadurecimento existe?
Mais uma
vez eu recorro ao que a gente vive circunstancialmente, acabamos de celebrar a
50ª Assembleia do nosso Regional Norte1. Na realização desta assembleia, nós fomos
identificando os marcos que já estão fincados na caminhada desta Igreja e que
lhe permite alargar a sua tenda, como foi a proposta desta assembleia, fazer
memória, se colocando a disposição para a profecia, e sempre vislumbrando a
esperança.
E um dos
elementos que a gente constatou nesta assembleia foi justamente esse da maturação
de nossa identidade eclesial e uma maturação que se vê através dos ministérios,
do resgate do diaconato permanente, ainda que haja muita coisa para ser pensada
e refletida, do ministério presbiteral de autóctones, de pessoas que são
nascidas aqui e convidadas a assumir as causas daqui. E nessa esteira do
ministério presbiteral e do ministério episcopal, com mais um bispo daqui da
região, que de fato é indicativo sim desta maturidade. Mas sobretudo pela
grande corporeidade ministerial da nossa Igreja.
A nomeação
de um bispo nascido na própria região, ela é tão significativa quanto o
ministério de tantos cristãos leigos e leigas que são nascidos aqui, que
assumem a evangelização. Essa maturação eclesial não é porque se galgou um
ministério mais raro, mas porque expressa que são os batizados que vivem a
eclesialidad aqui, que assumem ministerialmente os serviços da Igreja e do povo
aqui.
Uma
nomeação que foi dada a conhecer poucos dias antes do início da primeira sessão
da assembleia sinodal do Sínodo da Sinodalidade. O Sínodo é um processo, o
senhor participou do Sínodo para a Amazônia como auditor, que pode se esperar
de um bispo neste tempo de sinodalidade?
Sempre são
os acontecimentos de Igreja que vão norteando a compreensão dessa nomeação e
desse convite do Papa para esse ministério. A indicação e o processo de escolha
dos bispos na Igreja ainda não é um processo que acontece dentro da
sinodalidade que a gente esperava. A nomeação da minha pessoa, embora possa ser
acolhida por muitos como um resultado desse processo sinodal de amadurecimento
de Igreja com rosto amazônico, mas ele ainda obedeceu, ainda seguiu aqueles
padrões bastante rígidos que a Igreja tem enquanto a esse processo.
Mas não
obstante isso,de fato nós podemos falar de sinodalidade a medida que o
ministério possa ser exercido abraçando a dinâmica de participação que é
próprio dessa identidade sinodal. A minha pessoa, o meu nome, a minha história e
a história do meu ministério, do serviço pastoral, está muito ligado com a vida
da Igreja de Manaus e a vida das igrejas do nosso Regional, com a aproximação
do trabalho dos cristãos leigos e leigas, com as pastorais específicas das
nossas igrejas, das nossas dioceses.
Há uma
concorrência, no sentido que as coisas concorrem, as realidades, as
experiências pastorais concorrem para a nomeação de um nome daqui que seja
vinculado a este processo participativo que caracteriza a nossa Igreja.
O senhor
fala da Igreja de Manaus, evidentemente conhece muito bem a Igreja de Manaus, é
muito conhecido na Igreja de Manaus, o que lhe pede ao povo de Deus que caminha
em Manaus e que lhe oferece em seu novo ministério a essa Igreja que lhe viu
crescer e que o senhor já manifestou tantas vezes que a ama?
Quando eu
tive a oportunidade de fazer um mestrado e depois me deram a proposta de um
doutorado, que não realizei, a minha perspectiva seria escrever algo sobre a
Igreja de Manaus. A minha realização batismal, eclesial, ministerial, se dá na
Igreja de Manaus. Quando eu recebi a comunicação para a possibilidade desse
ministério episcopal, eu me perguntava o que eu vou fazer mais pela Igreja de
Manaus, o que ainda tenho para oferecer para a Igreja de Manaus. Quase
insistia, diante da comunicação, me deixa assim mesmo, já estou oferecendo
aquilo que eu posso pela nossa Igreja.
E me foi
advertido, oferecer aquilo que pode, mas sempre de um modo novo, de uma
existência batismal retomada a partir do ministério, exercer o que sempre faz,
mas com uma autoridade, quer dizer uma qualificação do serviço.
O que posso
oferecer a Igreja de Manaus depois de tantos serviços que já realizei com muito
gosto nessa Arquidiocese, nas paróquias, nas pastorais específicas, na animação
vocacional, na pastoral presbiteral, no seminário, no Instituto de Teologia, no
secretariado do Regional. Essa nomeação, ela equilibra uma abrangência, a gente
sempre tem dedicações à Igreja local a partir de recortes de responsabilidades
que nos são conferidas. Agora é uma abrangência a uma totalidade da Igreja. A
minha vida, ela agora está sendo exigida na sua totalidade para o serviço da
totalidade da Igreja de Manaus. Que que a Igreja de
Manaus pode esperar da minha pessoa? A totalidade da minha disponibilidade.
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