A primeira
sessão da Assembleia Sinodal do Sínodo da Sinodalidade está entrando em sua
última semana, na qual a redação da Mensagem ao Povo de Deus e, sobretudo, do
Documento de Síntese serão o foco dos trabalhos, que começaram com uma
Eucaristia na Basílica de São Pedro e um momento de reflexão na Sala Paulo VI.
Encarnando um caminho sinodal de fé
A missa foi
presidida pelo Cardeal Charles Bo, Arcebispo de Rangoon, Mianmar, e Presidente
da Federação das Conferências Episcopais da Ásia (FABC). Em sua homilia, ele
começou refletindo sobre a busca espiritual da humanidade desde que Adão e Eva
escolheram "um caminho envolto em trevas", insistindo que "Deus
nunca abandona seu povo".
Na vida,
"somos chamados a nos aventurar no desconhecido, guiados por nossa fé inabalável",
disse o Cardeal Bo, que vê Deus como "nosso guia, nosso roteiro e nosso
companheiro", e a Igreja, seguindo o exemplo de Abraão, como aquela que
"é chamada a ser justa, a encarnar uma jornada sinodal de fé com a
convicção de que Deus nunca erra", pedindo inspiração em Moisés e para
entender que "mesmo que não cheguemos ao destino pretendido, participar da
jornada já é uma bênção". Isso porque "essa jornada sinodal é
intergeracional" e, pessoalmente e como Igreja, somos desafiados a nos
alinhar com a vontade de Deus.
Relembrando
o chamado do Papa Francisco à reconciliação com Deus (Evangelii Gaudium), com a
natureza (Laudato Si') e uns com os outros (Fratelli Tutti), ele afirmou que
"nosso caminho sinodal é sobre curar e reconciliar o mundo em justiça e
paz", definindo a sinodalidade global como a única maneira de salvar a
humanidade e criar um mundo de esperança, paz e justiça. De acordo com o
cardeal, "neste Sínodo, uma de nossas grandes preocupações é o legado que
deixaremos para a próxima geração", refletindo sobre a realidade da Ásia e
suas consequências para o futuro.
Preparando-se para o momento mais fértil do Sínodo
O padre
Timothy Radcliffe descreveu os onze meses entre as duas sessões do Sínodo como
o período mais fértil do Sínodo, o período de germinação. Na primeira sessão,
as palavras proferidas são vistas pelo dominicano como "as sementes que
são semeadas no solo da Igreja", que "quando chegar a hora, darão
frutos", afirmando que "se nossas palavras forem amorosas, elas
brotarão na vida de pessoas que não conhecemos".
Onze meses
que ele comparou a uma gravidez, "um tempo de espera ativa",
conclamando, com as palavras de Simone Weil, a não buscar os dons mais
preciosos, mas a esperar por eles, algo que ele definiu como profundamente
contracultural, em uma cultura "muitas vezes polarizada, agressiva e
desdenhosa das opiniões dos outros", de onde ele fez um apelo para não
pensar de forma partidária, o que "não é o caminho sinodal".
Para que a
semente germine, ele considera necessário que "mantenhamos nossas mentes e
corações abertos para as pessoas que encontramos aqui, vulneráveis às suas
esperanças e medos", o que produzirá "uma colheita abundante, uma
verdade mais plena. Então a Igreja será renovada. Para isso, será necessário falar,
nesses onze meses, palavras que sejam férteis e cheias de esperança, e não
palavras que sejam destrutivas e cínicas, palavras que sejam nutritivas e não
venenosas.
O pequeno como marca do estilo de Jesus
Por sua
vez, Ir. Maria Grazia Angelini refletiu sobre a necessidade de "narrar
parábolas em vez de lançar proclamações". Para isso, fez uma pergunta:
"Como podemos falar hoje do Mistério do Reino, do crescimento
surpreendente e dramático, narrando estes dias do caminho sinodal, com palavras
de carne? Na semente lançada, que podemos dizer que o Sínodo lançará com o
Documento Síntese, a monja beneditina vê "um mistério de geração, de
aliança gratuita", uma oportunidade para discernir os sinais do Reino a
exemplo de Jesus.
Para captar
e dar espaço ao dinamismo da Palavra em si mesmo e na Igreja, a religiosa vê a
necessidade do silêncio e da verdadeira humildade, insistindo que "o
surpreendente sentido do pequeno como portador do futuro marca o estilo de
Jesus". A primeira sessão da Assembleia Sinodal, que ela definiu como um
mês de semeadura, é vista por ela como "um ato profundamente subversivo e
revolucionário", a fim de "abrir um caminho para a reforma - uma nova
forma - que a vida exige", e para isso, como algo do Espírito,
"captar e narrar semelhanças sem precedentes entre o Reino de Deus e as
realidades mais simples, mínimas, frágeis e vitais da terra, semelhanças que
abrem o futuro".
A religiosa
fez um chamado a ver Deus "no que há de mais baixo" e, assim,
"criar e alimentar narrativas concretas disso". É um trabalho que
"deve amadurecer a partir da formação da consciência", exigindo
"um distanciamento decisivo do cuidado pastoral de qualquer perspectiva
estatística, eficiente, processual e sistêmica". Por fim, disse que rezava
"para que este Sínodo receba a arte de novas narrativas, a humildade
radical de quem aprende a reconhecer a semelhança do Reino nos dinamismos mais
verdadeiros e vitais do humano, dos vínculos primários, da vida que bate
misteriosamente em todos os mundos e esferas da existência humana, em uma
admirável harmonia oculta. Com tanta paciência. A capacidade de olhar para a
noite". Isso para relatar "novas parábolas, que dão alimento para o
pensamento, para o crescimento, para a esperança, para caminhar - juntos".
Discernimento entre oportunidades e armadilhas
Refletindo
sobre a tradição, Ormond Rush, Professor Associado de Religião e Teologia do
Instituto de Religião e Investigação Crítica da Universidade Católica
Australiana, disse que o Concílio Vaticano II pode "conter algumas lições
para este sínodo, já que agora eles realizam a síntese de seu discernimento
sobre o futuro da igreja".
Para
iluminar as discussões presentes no Concílio, ele se baseou nas palavras do perito
do Concílio, Joseph Ratzinger, que observou que a fonte de tensão eram duas
abordagens à tradição: uma compreensão "estática" da tradição,
legalista, proposicional e a-histórica, relevante para todos os tempos e
lugares, tendendo a se concentrar no passado, e uma compreensão
"dinâmica", personalista, sacramental e enraizada na história,
realizada no presente, mas aberta a um futuro ainda a ser revelado.
Segundo o
professor australiano, "a tradição não deve ser vista apenas de forma
afirmativa, mas também de forma crítica", vendo a revelação não apenas
como "uma comunicação de verdades sobre Deus e a vida humana, articuladas
nas Escrituras e em declarações doutrinárias", mas como "uma
comunicação do amor de Deus, um encontro com Deus Pai em Cristo por meio do
Espírito Santo".
Uma
revelação que na Dei Verbum, que é importante para entender a sinodalidade e o
próprio propósito deste Sínodo, é apresentada "como um encontro contínuo
no presente, e não apenas como algo que aconteceu no passado", como um
diálogo. Daí o desafio a todo o povo de Deus de "discernir a diferença
entre oportunidades e armadilhas".
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