segunda-feira, 16 de outubro de 2023

Ir. Patrícia Murray: "Estamos escutando o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes"


A Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade retomou seus trabalhos nesta segunda-feira, após a pausa do fim de semana. Desde a última sexta-feira, está sendo trabalhado o terceiro módulo do Instrumentum Laboris, que tem como tema a corresponsabilidade na missão, elemento fundamental em uma Igreja que quer ser sinodal. Nesta segunda-feira, o trabalho está sendo realizado na congregação geral, presidida pela segunda vez por uma mulher, a japonesa Momoko Nishimura, com a participação do Papa Francisco na primeira parte, que foi agradecido com um grande aplauso pela publicação de sua última exortação apostólica: "C'est la confiance".

Um teólogo, um bispo e uma religiosa

A coletiva de imprensa do dia contou com a presença de Vimal Tirimanna, redentorista do Sri Lanka, assessor teológico do Sínodo e professor de teologia moral na Universidade Alfonsiana de Roma, Dom Zdeněk Wasserbauer, bispo auxiliar de Praga (República Tcheca), e Ir. Patrícia Murray, do Instituto da Bem-Aventurada Virgem Maria, que está participando do Sínodo como secretária da União das Superioras Gerais.

Nos trabalhos das últimas horas, foi enfatizado o significado da sinodalidade, que é um processo de aprendizado contínuo, destacando a importância e a riqueza da diversidade, que deve ser preservada. O papel dos leigos na missão, a evangelização na era digital, sabendo que nos países mais pobres o acesso ao mundo digital é mais difícil, a formação permanente, a inclusão e o reconhecimento das mulheres, com a questão do diaconato para as mulheres sendo abordada, foram temas enfatizados.



Processo sinodal vivido de forma clara

Um Sínodo que está despertando otimismo no Pe. Tirimanna, que antes da assembleia tinha dúvidas, que diz ter superado após duas semanas de trabalho, sobre o equilíbrio entre a prática e a teoria, insistindo que a sinodalidade está sendo vivida, porque "é algo que se vê quando se desenvolve". A atmosfera de oração constante que complementa o método de conversação no espírito contribuiu para isso, segundo o redentorista, que não hesita em afirmar que "o processo sinodal é algo que estamos vivendo claramente".

Como teólogo, ele enfatizou a eclesiologia da Lumen Gentium presente em um processo que ele vê como uma continuação do Concílio Vaticano II, cuja teologia está sendo revivida a partir de dois polos: o Povo de Deus e o Batismo. Nesse sentido, ele deu como exemplo a presença de muitas mulheres ao lado dos cardeais, afirmando que na Sala Sinodal está sendo oferecida a sinodalidade, razão pela qual ele insistiu que esse espírito deve ser levado para fora da Assembleia Sinodal.

Criando espaços para a escuta e o acompanhamento

Uma sinodalidade que, de acordo com a Ir. Pat Murray, tem sido vivida por mais de 20 anos nas decisões de muitas congregações religiosas. Expressando o desejo de que isso seja vivido na missão da Igreja, ela enfatizou a necessidade de criar espaços de escuta e acompanhamento, de assumir o método do discernimento comunitário como método eclesial, destacando a importância de ter duas sessões da assembleia e o trabalho entre elas, porque "estamos escutando o sopro da vontade de Deus entre diferentes vozes".

No trabalho sinodal, a religiosa destacou a lógica circular empregada "que nos ajuda a aprofundar as questões", além da profunda reflexão que os membros do Sínodo realizam antes de suas intervenções. Também ressaltou a necessidade de compreender "a amplitude do que estamos tratando, por causa das diferentes culturas, dos diferentes contextos, das diferentes perspectivas, das diferentes opiniões, das diferentes eclesiologias".

Por sua vez, o bispo auxiliar de Praga destacou a importância da exortação apostólica publicada neste domingo sobre a santa padroeira das missões, desejando relacioná-la com a Assembleia Sinodal, onde há "mais de 400 pessoas que querem o bem dos outros". Com relação ao papel da missão, disse que "é a vontade de levar a salvação aos outros", refletindo sobre um elemento presente na exortação, o ateísmo, algo que ele disse ter experimentado em seu país, que passou por um regime comunista. Nesse sentido, ressaltou que o Sínodo quer ser uma luz na escuridão do Terceiro Milênio.



Primeira mulher na Comissão de Síntese

Ir. Patrícia Murray é a primeira mulher a ser membro da Comissão de Síntese do Sínodo, algo que ela vê como uma honra e uma surpresa. Para ela, "essas nomeações são simbólicas, é uma indicação clara do fato de que as mulheres estão participando do nível de tomada de decisões". Ela revelou que "o documento não deve ser muito longo, vamos dividi-lo em seções claras e teremos áreas em que serão feitas propostas, mas, ao mesmo tempo, muitas áreas para uma reflexão mais profunda, para um estudo mais profundo, para revisar os pontos mais candentes".

Como uma mulher que é membro da Assembleia Sinodal, ela destacou a capacidade das mulheres de ocupar seu espaço de maneira apropriada, tendo espaço apropriado para suas intervenções, observando também que muitos membros masculinos da Assembleia Sinodal estão falando sobre a importância do papel das mulheres na Igreja, que estão participando muito da Assembleia.

Lidando com as feridas como Igreja

Em relação à população LGBTQI, a religiosa insistiu que em muitas das mesas foi abordada a questão das feridas em nível individual e coletivo, "são questões tangenciais e ardentes", chamando a enfrentar essas feridas como Igreja, "nossas formas pastorais e litúrgicas podem ser símbolos que ajudam a perdoar nessa direção", destacou. Nesse sentido, ela disse que "há uma forte consciência da dor que foi causada, e isso não é esquecido".

De fato, "esta é uma questão candente em todo o mundo", disse o padre Vimal Tirimanna, para quem no processo sinodal "todos estão incluídos". O processo sinodal é “um esforço para garantir que ninguém seja excluído, Jesus quis incluir todos", e é importante que o processo não se concentre apenas em um tema, mas que seja aberto em um Sínodo que tem como objetivo claro "criar uma cultura de encontro por meio da sinodalidade", que assume todos os temas e pessoas, "trata-se de uma conversão radical no âmbito da Igreja, queremos uma cultura de escuta, de sinodalidade e de inclusão".

Espaço para todos no âmbito da Igreja

Um Sínodo que segundo Dom Zdeněk Wasserbauer, é muito equilibrado, “tenta enfrentar todas as dores que podem ser vistas na Igreja de hoje de uma forma muito equilibrada", pedindo um coração aberto para todas as dores, todos os grupos, todos os problemas. Algo que se realiza na conversa com espírito, já que, segundo Paolo Ruffini, "tudo o que nos une é a consciência de que somos todos filhos e filhas de Deus", insistindo que há espaço para todos dentro da Igreja.

Uma Assembleia Sinodal na qual, com base na Revelação e na Tradição, "estamos aprendendo a ser uma Igreja sinodal", de acordo com Ir. Murray. De acordo com a religiosa, "isso leva tempo, é como entrar em uma escola de formação, eles estão nos ensinando a ser sinodais", porque essa é uma prática. Ela vê como fundamental aprender a ser livre, deixar de lado a individualidade para entrar no espírito sinodal em prol da abertura e para que Deus nos dê a luz para oferecer apoio como uma comunhão de pessoas.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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