quarta-feira, 25 de outubro de 2023

Nora Kofognotera Nonterah: "Uma Igreja sinodal deve estar preparada para sentar-se com as leigas do Sul do mundo"


Em meio a dois cardeais e um bispo, a força profética do briefing de 25 de outubro veio da voz de uma mulher leiga, Nora Kofognotera Nonterah, uma das duas leigas africanas presentes na Assembleia Sinodal e uma das poucas teólogas leigas africanas. Isso em um dia em que a Assembleia Sinodal recebeu a Carta ao Povo de Deus, que relata a experiência vivida, e o Documento Síntese, um texto de 40 páginas, que será estudado e debatido pessoalmente e em círculos menores nos próximos dias, antes de ser votado no próximo sábado.

Um encontro de diversidade

A teóloga leiga africana, que vê no atual Sínodo "uma grande fonte de inspiração", um espaço de "encontro da diversidade, um momento de relacionamento com as pessoas, culturas, tradições diferentes, um encontro com o Espírito Santo", enfatizando que "conversas muito profundas podem ser mantidas com pessoas que têm experiências diferentes", destacando o fato de que pessoas diferentes "sentam-se ao redor da mesma mesa porque querem falar sobre questões que são importantes para todos".

A teóloga enfatizou que "me senti muito ouvida como leiga, como mulher e como africana". Isso em uma Igreja que "infelizmente não soube como transmitir a voz única do sopro de Deus, que não soube como se enriquecer com a sabedoria que vem dos leigos, dos religiosos da África". Em sua primeira participação em um Sínodo, ela disse que havia chegado com esperança, alegria, queixas que haviam chegado a ela em seu país, "mas também com resiliência, com a resiliência das mulheres africanas, dos leigos e de toda a Igreja como um todo", denunciando que "em alguns casos a Igreja não consegue se sentar à mesa onde questões muito importantes são discutidas com base em experiências existenciais".



Mulheres que ensinam a Igreja a ser uma mãe para todos

Diante disso, ela insistiu que "uma Igreja sinodal deve estar preparada para sentar-se com as mulheres, especialmente com as mulheres leigas que vêm do Sul do mundo, para aprender a renovar o pensamento da Igreja, um pensamento orientado para o Espírito Santo, que nos dá uma abundância de vida para todos". Em suas palavras, inspiradas no papel maternal de Maria, ela disse que "as mulheres africanas podem ensinar à Igreja como ser mãe de todos".

A partir daí, ela definiu a sinodalidade como "a melhor maneira de viver a Igreja e pode fornecer um testemunho autêntico do Evangelho". Para isso, enfatizou a importância da conversa no Espírito que "sempre nos convida a celebrar nossas diferenças, não a escondê-las, é importante reconhecê-las". Ele também pediu a promoção da participação dos leigos nas diferentes áreas da teologia, uma prática em uma Igreja sinodal, que ajuda a construir uma Igreja melhor baseada no Batismo e, assim, criar uma consciência de corresponsabilidade, que ele considera ser a base da sinodalidade.

Permitir que as mulheres contribuam para os processos de tomada de decisão

Com relação às mulheres na África, ela enfatizou que são elas que são as construtoras, que constituem o ponto de força da missão da Igreja por meio das muitas atividades que realizam em todos os níveis da Igreja, afirmando que "quando as mulheres participarem mais dos processos de tomada de decisão dentro da Igreja, será possível enriquecer a Igreja com suas contribuições", algo iniciado pelo Papa Francisco.

A partir daí, ela disse estar esperançosa de que "a sinodalidade pode nos ajudar a descobrir a necessidade do papel das mulheres na governança e nas estruturas de tomada de decisão na Igreja em todos os níveis". Ele também enfatizou a necessidade de priorizar a educação de mulheres e jovens no continente africano, insistindo na importância de reconhecer a importância das mulheres.

Uma Igreja sinodal é um dos métodos mais eficazes para ajudar na prevenção de abusos, já que, diante do medo das crianças de falar, a sinodalidade pode ajudar as famílias a praticar a escuta, para que as crianças percebam a importância de falar livremente em família, sem medo, nas igrejas domésticas sinodais.



Entendendo a vontade do sopro do Espírito

O Cardeal Prevost, prefeito do Dicastério dos Bispos, destacou a contribuição de Santo Agostinho, contando elementos presentes no pensamento agostiniano em relação à sinodalidade. Uma experiência de sinodalidade que ele viveu como bispo em Chiclayo, com assembleias com espírito sinodal para promover a vida da Igreja que ele vê muito presente na América Latina. No processo sinodal, ele enfatizou a importância de ouvir a todos, da conversa espiritual, que ajuda a "descobrir com mais profundidade o que somos chamados a fazer, a entender a vontade do sopro do Espírito", que nos ensina a confiar mais em Deus, a trabalhar juntos, a buscar soluções para responder às necessidades do mundo de hoje.

Uma sinodalidade que está cada vez mais presente na eleição dos bispos, com as religiosas e os leigos sendo ouvidos nas consultas, com a presença de religiosas e uma leiga entre os membros do Dicastério Episcopal, destacou o prefeito. Uma Assembleia Sinodal na qual há opiniões diferentes, mas não divisões, há perspectivas diferentes que lançam luz sobre a comunidade, não houve divisões, algo importante dada a grande diversidade.

Necessidade de maior participação

Na África Central, um país marcado pela guerra, o Cardeal Dieudonn Nzapalainga enfatizou a importância de todos terem se unido na busca pela paz. Ele descreveu o Sínodo como "um momento importante em que criamos um silêncio dentro de nós mesmos e ouvimos os outros para que o Espírito possa nos falar. Um momento para captar o belo, para descobrir a riqueza, a beleza do outro. Nestes dias, colhemos muita beleza em prol de um sonho, a Igreja de amanhã, que não é concebida por um só".

Dom Timothy Broglio, presidente da Conferência Episcopal dos Estados Unidos, onde o Papa Francisco e a sinodalidade não encontram muitos aliados, disse que havia aprendido com a Assembleia Sinodal as formas como a fé é vivida em todo o mundo, as diversas experiências da Igreja, colocando a escuta como a chave, a ponto de dizer que "se ouvíssemos mais, poderíamos ter um mundo mais respeitoso". O arcebispo militar refletiu sobre o fato de que menos de um por cento dos católicos em todo o mundo participaram do processo de escuta, observando a importância de incentivar uma maior participação no período que antecede a segunda sessão, a fim de crescer como Igreja, insistindo que os sacerdotes devem ser ouvidos.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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