quinta-feira, 22 de fevereiro de 2024

Amizade social para superar guetos e seitas


A temática da Campanha da Fraternidade 2024 tem muitos elementos que nos levam a refletir. Não podemos esquecer que estamos diante de um tema que tem a ver com a vida do dia a dia, com nosso jeito de nos relacionarmos com os outros. Mas será que ter um bom relacionamento com todos é uma preocupação em nossa vida?

O individualismo, que nos distância e nos enfrenta com os outros, é um elemento cada vez mais presente na vida das pessoas. Inclusive podemos dizer que esse individualismo faz com que os outros se tornem aos poucos inimigos, sendo vistos como uma ameaça para nossa vida. O individualismo coloca em nossa mente que não precisamos de ninguém, que não precisamos de amigos, que a amizade social é algo completamente desnecessário.

Isso atinge nosso relacionamento com os vizinhos, com nossos colegas de trabalho, de estudo, mas também na família. Vivemos cada vez mais afastados dos outros, aumentamos intencionalmente as distâncias, nos interessamos exclusivamente por aquilo que está relacionado com nosso próprio mundo, cada vez menor, mais reduzido, com menos coisas a nos ensinar, com menos elementos que nos ajudam a crescer.




A amizade, quando existe, se fecha em grupos onde não há possibilidade de divergências. Entramos a fazer parte de pequenas seitas fechadas, com um pensamento uniforme, onde são alimentadas ideias que com o decorrer do tempo podem aumentar nossas neuroses e nos afastam cada vez mais daqueles que podem ter opiniões divergentes, mesmo sendo divergências pequenas.

Confundimos amizade com uniformidade, com pensamento único, com guetos, cada vez mais isolados e distanciados da realidade social, que ignoramos, construindo mundos alternativos. Isso provoca conflitos cada vez maiores, enfrentamentos que tem difícil solução, uma realidade que é incentivada através das redes sociais e dos aplicativos de mensagens, que vão modelando nossa personalidade de acordo com interesses que muitas vezes não controlamos mais.

Como buscar propostas alternativas a partir da Palavra de Deus, do Magistério da Igreja, em vista de uma sociedade onde ser irmãos e irmãs dos outros, onde ser amigos e amigas é visto como uma necessidade? A amizade é uma necessidade, uma urgência, uma utopia? Queremos que a amizade social, uma atitude presente na história da humanidade ao longo dos séculos, seja presente na sociedade atual?

Criar amizade social, aberta a todos, sem guetos, sem grupos fechados e isolados. Promover atitudes que nos aproximam de todos, gerar uma sociedade onde ser irmãos e irmãs seja assumido como necessidade por cada um e cada uma de nós. Sabemos que o caminho é longo, mas também sabemos que na medida em que a gente desiste da necessidade de avançar nessa direção a vida da nossa sociedade, a vida da gente será cada vez pior.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1 - Editorial Rádio Rio Mar

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