No Terceiro Domingo da Quaresma, o cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando que “ouvimos e vimos o zelo de Jesus pela Casa de Deus, pelo templo. O zelo e cuidado o leva a expulsar os vendiam dentro do templo. O zelo que deseja a purificação do espaço da sacralidade, do encontro, das preces, das oferendas. O espaço de peregrinação, de culto, das festas litúrgicas, onde se ofereciam os sacrifícios de animais em louvor a Deus, se resgatavam os primogênitos, se ouviam os ensinamentos. Era a expressão do centro da fé do povo de Israel”.
O arcebispo de
Manaus recordou que “no início, nos primeiros tempos das celebrações, das
peregrinações, os locais de compra e venda das oferendas e os animais para os
sacrifícios, ficavam distantes do templo. Como o passar dos anos, os negócios,
a compra e venda, a troca do dinheiro, começaram a acontecer no próprio templo.
E o templo tornou-se lugar de negócio, uma espécie de mercado. Poderíamos
imaginar que no tempo de Jesus o templo, além do lugar da expressão da fé,
tinha se transformado num conjunto de ‘lojas’ ou dependências ‘comerciais’ para
atender os fiéis peregrinos que desejavam fazer suas oferendas e sacrifícios”.
“O lugar do
encontro, das oferendas, da peregrinação, da oração, das promessas, da palavra,
da escuta, transformado em negócio”, destacou Dom Leonardo. Segundo ele, “lá onde deveria haver oferendas, ofertas, se negociava,
se trocava, se fez uma casa de negócios”, recordando que “um místico
medieval nos diz que a expulsão dos vendilhões do templo, ou a purificação do
templo é próprio de quem deseja deixar a casa livre para Deus habitar. Livre
para que as relações entre Deus e os peregrinos, sejam sem trocas e viva
somente da beleza do amor gratuito. As oferendas e os sacrifícios poderiam ser
expressão da gratidão, da ação de graças. Uma relação livre e benévola”.
Segundo o místico,
“o templo é a imagem de quem somos. Somos o templo, a morada de Deus. Jesus
indica que deseja o templo de cada pessoa desocupado, livre para comunicar os
seus dons e conceder gratuitamente a suas graças. Uma disponibilidade ao
encontro. Encontro que acontece no templo que somos nós!” Como nos diz um
místico, recordou o cardeal: “Deus quer ter esse templo vazio, a ponto de ali
não haver nada mais do que Ele só. Esta é a razão por que Ele se sente tão bem
aconchegado nesse templo, sempre que nele só Ele se encontra.”, citando os Sermões
alemães.
“Somos o templo, e
Deus a arde em desejo de habitar em nós, nos plenificar. Mas nós muitas vezes
imaginamos que na fé devemos negociar com Deus”, disse o cardeal Steiner. Ele
destacou que “rezamos, jejuamos, damos esmolas para que Deus nos ajude ser
melhores. Fazemos como que uma troca, um negócio”. Frente a isso, “Deus na sua
bondade está sempre a nos oferecer todas as bênçãos e graças. O jejum, a
esmola, a oração que nos pede o tempo da Quaresma, deveria ser sinal da nossa
disponibilidade e receptividade. Não é troca, não é negócio, não é petição, e
como Jesus nos ensina: é purificação, libertação”.
“Somos convidados a uma fé de relação amável, afetiva, livre”ressaltou
Dom Leonardo. “Por isso, expulsar as trocas, as negociações, a compra e venda.
O Evangelho não é negócio; não se vende e nem se compra. É um modo de vida,
onde Deus é tudo para nós, pois nos cumula de bênçãos e graças. Mesmo quando
nos encontramos em situação de aflição, pobreza, injustiça Ele está conosco.
Esse movimento de corresponder a Deus é expressão de nosso desejo de nosso de
purificação, de uma espécie de esvaziamento para que o Ressuscitado more em nós”,
insistiu.
O arcebispo de
Manaus questionou: “Se somos templos onde Deus deseja estar, morar para nos
plenificar, onde chegamos com nossa mentalidade de negócio e de mercado?” Diante
disso, “as pessoas viraram mercado, negócio. Não importa a pessoa, importa o
ganho, o lucro mesmo que seja à custa dos pobres”. Uma realidade que lhe levou
a destacar, “como é consolador e motivo de ânimo e de bondade ver irmãos e
irmãs sempre atentos às realidades sofridas e saem ao encontro dos mais pobres,
não para oferecer esmola do que sobra, mas para oferece justiça, dignidade e
também o pão. Tudo na liberdade de quem crê”.
“O templo que
somos nós depois da morte e morte de cruz e da ressurreição de Jesus, adquiriu
uma dignidade tal que exige a superação do ser vilipendiado, destruído, agredido,
espancado, violentado, ignorado, descartado. É um sofrimento ver e dizer: tudo
porque não produzem, não dão lucro, não ajudam no mercado. É inaceitável que os
nossos idosos sirvam apenas dar lucro porque necessitam de medicamentos, que são
uma despesa através das políticas públicas, que os pobres são um estorvo. Jesus
no Evangelho de hoje nos ensina que eles são o caminho da libertação, da
purificação do templo que somos nós, quando somos na gratuidade”, enfatizou.
Segundo o cardeal
Steiner, “somos templo, morada de Deus! Ao meditarmos a nossa dignidade de casa
de Deus, recordamos que a sexualidade que faz parte do templo onde Deus habita.
Ela está a implorar dignidade, cuidado, afeto, superando da violência, da
animalidade das relações, a sua exacerbação. Quanta propaganda, quanto lucro,
quanto despudor em relação à sacralidade da sexualidade. Não se trata de
moralismos, de achaques ou arroubos de tradicionalismo. É a necessidade de
cuidado e recato com o que temos de íntimo, de relações de intimidade, de vida.
Quanto temos que purificar o templo da nossa humanidade quanto à sexualidade!
Quanto trabalho em nossa humanidade para que participemos da liberdade que
Jesus nos oferece com sua morte e ressurreição. Não precisamos negociar com
Deus. Coloquemo-nos diante dele como filhas, filhos com o desejo de sermos por
Ele amados e cuidados”.
Comentando a segunda
leitura ele destacou “o segredo da cruz, do Crucificado; o
anúncio do Crucificado!”. Segundo Dom Leonardo, “a cruz é
gratuidade! Jesus nada trocou no alto da cruz. Tudo entregou, livre e
gratuitamente. Naquele ‘nas tuas mãos eu entrego o meu espírito’, está a
liberdade de quem se joga sem saber se o outro o vai amparar. Nada mais solto,
livre e gratuito que o Crucificado. Ali a verdadeira transformação, ali a
ressurreição! Nada mais de si tudo ao Pai. Na cruz deu tudo, na cruz tudo
recebemos. A Cruz é o extasiamento da bondade de Deus, a gratuidade de uma
relação. Paulo reconhece “escândalo para os judeus e insensatez
para os pagãos. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, esse
Cristo é poder de Deus e sabedoria de Deus”. A fraqueza da bondade e da
gratuidade do amor do Crucificado é a fraqueza de Deus, e a nossa libertação! Deus
não sabe ser diferente, não pode ser diferente; não seria Deus! Com Deus não
necessitamos negociar, trocar, comprar e vender. Nele tudo é gratuito, pois
ofertado na Cruz. O que temos que não recebemos?”
“O tempo da Quaresma sempre está a nos lembrar a conversão, a mudança de
vida, a purificação, a liberdade da vida segundo o Evangelho. Tudo para que
estejamos prontos a receber a vida nova que Jesus nos oferece com sua morte e
ressurreição. Na caminhada de purificação e libertação somos despertados para a
necessidade de reconciliação entre nós, nas famílias, comunidades, na
sociedade. Expulsar, na expressão do Evangelho, as afrontas, as desditas, as
maledicências, a violência, a indiferença, os abusos, para recuperarmos o espaço
do amor-liberdade e haja o reencontro de uma vida de cuidado, de afeto,
respeito e justiça”, destacou o arcebispo de Manaus.
Ele lembrou as palavras de Papa Francisco em sua mensagem para a
Campanha da Fraternidade 2024, onde diz que: “somos
convidados a construir uma verdadeira fraternidade universal que favoreça a
nossa vida em sociedade e a nossa sobrevivência sobre a Terra, nossa Casa
Comum, sem jamais perdermos de vista o Céu, onde o Pai nos acolherá a todos
como seus filhos e filhas. (…) A Campanha da Fraternidade, auxilie às pessoas e
comunidades no seu processo de conversão, superando toda divisão, indiferença,
ódio e violência”.
Comentando a Primeira leitura, que diz “Eu sou o Senhor teu Deus”,
o cardeal Steiner disse que “Deus é tudo para o Povo de Israel, como é tudo
para nós. Não apenas porque não tem outros deuses, mas porque Deus estabeleceu
uma relação de intimidade e história com seu povo. É o Deus de Abraão, Isaac e
Jacó, Deus de nossos pais; todos nos sentimos descendentes dos patriarcas, dos
pais na fé, e, por isso, Ele continua a ser tudo e todo. Mandamentos são mais
que preceitos; são cuidados, purificações de nossas ações diárias para que Ele
seja o Senhor nosso Deus. Permanecer na presença do Senhor e confessar sempre
de novo que Deus é senhor nosso Deus”.
Finalmente, fez um
chamado a que “façamos o jejum, a oração, a esmola de modo que a mão direita
não saiba o que faz a esquerda. Tudo apenas como admiração de como Deus é o
nosso Deus e como Ele reconstrói o templo com a ressurreição”.
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