O Conselho
Indigenista do Brasil (Cimi) tem sido uma voz profética da Igreja católica em
defesa dos povos originários há mais de 50 anos. Um caminho que contou com a
colaboração de muitos missionários e missionárias e de vários bispos que
assumiram a presidência do organismo, um serviço que atualmente presta o
arcebispo de Manaus (AM), cardeal Leonardo Steiner, que iniciou sua
apresentação dos trabalhos do CIMI aos participantes da 61ª Assembleia Geral da
CNBB, agradecendo o trabalhos dos dois últimos presidentes: o arcebispo de
Porto Velho (RO), dom Roque Paloschi, o e bispo emérito do Xingú, dom Erwin
Kräutler.
O
presidente do Cimi mostrou como foi recebida na comunidade Maturuca, na Terra
Indígena Raposa Serra do Sol (RR), a catequista indígena Deolinda Melchior da
Silva, após receber no dia 13 de abril o Ministério de catequista no Santuário
Nacional de Aparecida, durante a assembleia da CNBB. Ele lembrou que em 1974,
cinquenta anos atrás, um grupo de seis bispos e de outros seis padres e freis,
publicaram o documento “Y-Juca-Pirama: o índio, aquele que deve morrer.
Documento de urgência de bispos e missionários”.
O texto “denunciava,
profeticamente, os ‘decretos de extermínio’ que pairavam sobre a vida dos povos
indígenas e anunciava, com esperança destemida, os ‘caminhos de esperança’ na
luta por direitos dos povos indígenas”. Nesse tempo, o Cimi como Igreja,
insistindo nesse ser Igreja, “atuou na defesa da vida, dos direitos e do
protagonismo dos povos indígenas, cuja existência é boa notícia para o mundo e
que hoje representam um sujeito coletivo com participação expressiva na vida do
país”, enfatizou dom Leonardo.
Igualmente,
ele destacou que nos últimos seis anos, em que o Brasil viveu um período
extremamente conturbado, os povos indígenas não deixaram de mobilizar-se,
destacando, com palavras do Papa Francisco, a importância do território, e da defesa
da Ecologia Integral e do Cuidado de Criação, de nossa Casa Comum. No atual
governo, os passos dados ainda não são suficientes, com episódios dramáticos,
como aconteceu em janeiro de 2023 com o Povo Yanomami e Ye´kuana.
Outra
situação que demanda grande atenção é o “marco temporal”, que dom Leonardo
definiu como algo que “constitui uma imoralidade e uma injustiça, porque
significa uma declaração de impunidade contra todas as atrocidades cometidas
contra os povos indígenas antes de 1988, com o permanente extermínio, despejo e
desapropriação de seus territórios”. Diante dessa situação relatou o empenho do
Cimi para conseguir derrubar essa tese no âmbito do Poder Judiciário.
Diante do sofrimento
dos povos indígenas, relatando diversos exemplos disso, o presidente do Cimi
lembrou das palavras de Marçal de Souza Tupã’i ao Papa João Paulo II em 1980,
denunciando situações de sofrimento ainda presentes na vida dos povos indígenas.
Ele destacou os caminhos de esperança e resistência dos 305 povos que resistem
no Brasil, com sua diversidade e espiritualidades, que “nos ajudam a todos a
acreditar que é possível um mundo mais justo e sustentável, rico na diversidade”.
Segundo seu
presidente, “o Cimi, após 52 anos de vida e de missão, quer continuar sendo
fiel às intuições pastorais e proféticas que o geraram”, dizendo caminhar com
esperança diante dos desafios, apoiando a mobilização dos povos indígenas.
Finalmente lembrou a orientação do Papa Francisco a ouvir os povos indígenas, e
agradeceu em nome dos missionários e missionárias do Cimi o apoio nas dioceses e
da CNBB, especialmente no que se refere ao Marco Temporal.
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