No dia
em que a Igreja faz memória de São José Operário, a paróquia Nossa Senhora
Aparecida e SSantos Mártires de Presidente Figueiredo acolheu a ordenação diaconal do
seminarista Hugo Barbosa Alves. Uma celebração que contou com a presença de seus amigos
e familiares, dentre eles seu pai, diácono permanente na Arquidiocese de
Manaus, seminaristas, diáconos, presbíteros, Vida Religiosa, do arcebispo de
Manaus, cardeal Leonardo Steiner, e dos bispos auxiliares, dom Tadeu Canavarros
e dom Zenildo Lima, que foi o bispo ordenante.
Dom
Zenildo iniciou sua homilia citando o texto do Evangelho de Mateus: “O maior
dentre vós, deve ser aquele que vos serve!”, escolhido como lema da
ordenação por Hugo Barbosa. Ele destacou que “esta afirmação constitui um
desfecho, ao menos nesta perícope, do discurso áspero que Jesus profere diante
do empobrecimento da dinâmica do serviço, desgastada por um discurso revestido
de legalidade, mais que isso, de legalismos, porém, sem a força de envolver
qualquer que seja o interlocutor em uma adesão que sinalize o reencontro com a
Aliança”.
Segundo
o bispo auxiliar, “o fracasso dos fariseus, aos quais Jesus se refere neste contexto,
consiste na incapacidade de infundir no povo a esperança na fidelidade de Deus.
Fora da dinâmica do serviço o agir humano parece um fardo injusto proposto por
pessoas descomprometidas que se escondem atrás de discursos, imagens,
estereótipos, formalismos legais e religiosos, mas sem a capacidade de se
apresentarem como referências, como guias ou mestres. Não
pode ser chamado de mestre e guia quem não possui a eloquência do serviço”.
Lembrando
àquele que ia ser ordenado a frase do evangelho, dom Zenildo Lima disse ver
nela um elemento “para construir tua compreensão e comprometimento com este
ministério que a Igreja te confia”, destacando o papel da Igreja de Manaus como
Igreja servidora, afirmando que “teu ministério será tanto mais perpassado
por esta dinâmica do serviço quanto mais for inserido na identidade desta
Igreja Local, Igreja servidora. Podemos chamar isto de incardinação, que
não é só um processo canônico, ritual, jurídico, mas encarnatório”.
Nas
palavras de Jesus, o bispo auxiliar destacou a crítica aos “líderes religiosos
que foram como que se constituindo em uma casta que arroga para si a autoridade
de ensino”, mas também as palavras “aos seus discípulos que saboreiam a alegria
do serviço, testemunhada na vida amorosa de Jesus”. Igualmente, ele ressaltou
que “são recomendações aos cristãos de todos os tempos”, fazendo um apelo a se
deixar “deleitar com a alegria do serviço” a imagem de Jesus, “servo por
excelência”.
O bispo
ordenante ressaltou alguns elementos da primeira leitura, que apresenta “o serviço
da morada de Deus”, destacando o papel dos levitas como aqueles que “em tempos
de cativeiro ajudaram o povo a não esquecer suas histórias”, como aqueles que fizeram
que “o serviço ao templo, o serviço à morada de Deus, se fez sobretudo um
serviço à memória”. Ele fez um chamado ao novo diácono a ao “zelo pela
memória do agir de Deus que nunca abandona o seu povo”.
Por
isso lhe pediu ser “um diácono atencioso para com todo sinal que remete ao povo
a fidelidade de Deus”, evitando “os estereótipos das faixas largas e longas
franjas como tem sido a tentação de visibilidade nestes tempos de força de
imagens”, e sendo “muito atento com o espaço sagrado”, e ajudar nosso povo a
“não perder de vista a experiência da morada de Deus, ou ainda, que Deus mora
no meio de nós”. Uma morada de Deus que se concretiza nos pobres, que faz
com que “toda vez que este serviço se dirige a um dos pequeninos é o próprio
Deus que é servido”.
“O
diaconato não é um ministério de gavetas desconexas, mas um agir dimensionado
perpassado pelo serviço”, destacou o bispo auxiliar, que lembrou a vida do novo
diácono, oferecida por seus pais, seu Francisco e dona Antonieta. Falando do
celibato, dom Zenildo o definiu como algo que “sinaliza a totalidade de uma
entrega; trata-se da escolha de um modo mais intenso de vivência dos afetos
que transcendem a necessidade das correspondências interpessoais e se
manifesta numa experiência que quanto mais aponta para a totalidade da entrega,
mas se revela realizadora de nossa humanidade. Vida celibatária e serviço estão
fecundamente interligados”, insistindo na necessidade de ser realizado no amor.
O novo
diácono foi advertido sobre o perigo do descompasso entre o discurso e a
práxis, que “esvazia a força da Palavra”, um elemento importante, pois “o
ministério diaconal se realiza como ministério de Palavra, da Palavra, da Palavra
encarnada, da Palavra feita vida, e vida doada até o fim. Da palavra que se fez
carne e fazendo-se carne, fez-se também serviço”. Lembrando que “a palavra em
Jesus contrasta absurdamente com a palavra dos mestres da Lei”, que “Jesus fala
como quem tem autoridade!”, citou as palavras de Papa Francisco com relação à
autoridade como ajuda.
Daí a importância de servir como quem tem autoridade, algo
que tem a ver com o testemunho. “Os discursos parecem estar em constantes
batalhas; há uma disputa de narrativas; carecemos de seguranças e corremos o
risco de nos atracar no porto do que poderia parecer a segurança da palavra
apresentada em forma de ideias, conceitos, doutrinas. Mas estas por sua vez
tem sofrido o confronto e a exigência de uma humanidade distanciada da Aliança”,
disse dom Zenildo Lima, comentando o texto de Romanos 10,14-16, destacando que “a
pregação é acompanhada de um peregrinar! Na raiz de todo serviço da Palavra
está um testemunho missionário”.
“Seja
convincente em seu testemunho”, ressaltou o bispo ordenante àquele que ía ser ordenado
diácono. Lembrando a exortação de Paulo a Timóteo, dom Zenildo destacou alguns
elementos: cuida do teu exemplo na palavra, na conduta, na caridade, na fé, na
pureza. Dedica-te à leitura, ao estudo, ao aprofundamento, ao
discernimento, à exortação, ao ensino. Lembra-te que este ministério que te é
dado pela imposição das mãos o é também por indicação da profecia. Cuida de ti
mesmo e daquilo que ensinas. Mostra-te perseverante!”. Igualmente lembrou que “o
rito da Ordenação Diaconal te pede de acreditar no que lês, ensinar o que
acreditas e viver o que ensinas – a eloquência do serviço”.
Dom
Zenildo Lima descreveu o serviço diaconal como um serviço que reconstrói laços.
Frente à atitude dos fariseus, ele destacou que “o resgate da fraternidade
apresenta-se como a mais urgente tarefa diaconal para os nossos tempos. Poderíamos
falar de uma diaconia da fraternidade”. Frente aos pesados fardos da lei e da
religião chamou a oferecer a leveza de seu convívio para apresentar a pessoa de
Jesus. “A leveza tão necessária para quem suporta o peso da dor, da pobreza,
do descarte, do abandono, da discriminação, da guerra, da solidão, do medo, da
depressão”, disse dom Zenildo.
“Aqui está o que se pede de
ti Hugo”, enfatizou o bispo auxiliar, “o que é pedido a cada um de nós também: o
diaconato da sagrada morada de Deus e as realidades nela implicadas, o
diaconato da Palavra cuja eloquência se manifesta no alegre testemunho, no diaconato
da fraternidade que socorre os pobres à medida em que reconstrói fraternidade”.
Ele lhe convidou a deixar ressoar o convite vocacional, lhe lembrando que como
parte do clero da Arquidiocese de Manaus, “teu ministério estará ligado ao teu
bispo que preside um corpo ministerial que por sua vez só tem razão de existir
para o serviço do povo de Deus”.
O novo diácono foi convidado
a assumir seu ministério “sem medo e sem preguiça”, lembrando que “o serviço é
laborioso”, e que o dia da “memória do carpinteiro de Nazaré e na memória da resistência
das lutas de tantos homens e mulheres pela dignidade do trabalho nos recorda
que o serviço não é um hobby, um passatempo, uma filantropia..., mas um
envolvimento amoroso, laborioso, empenhado, comprometido com o Reino de Deus”.
Finalmente o convite “para
que nos abaixemos junto dos que estão caídos, para ajudá-los a levantar”,
recordando que “o rito da Ordenação te pede de prostrar-se por terra, até o
humus. Deixa-te humilhar e prostra-te até o humano desfigurado. Não tenha medo
Hugo, pois quem se exalta será humilhado, mas aquele que se humilha será
exaltado”.
Uma celebração que foi
oportunidade para o novo diácono, que reconheceu que “tudo em minha vida é providência
divina”, agradecer a todos aqueles que lhe acompanharam em sua vida e em sua
caminhada vocacional.
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