segunda-feira, 26 de agosto de 2024

Encerrada a Assembleia da CEAMA, desafiada a assumir compromissos para poder continuar sua missão com coragem


A Assembleia da Conferência Eclesial da Amazônia, que reuniu cerca de 70 pessoas em Manaus, de 23 a 26 de agosto, foi encerrada com compromissos que permitam caminhar juntos na presença de Deus. Em uma Igreja amazônica unida a Deus, como destacou o presidente da CEAMA, Cardeal Pedro Barreto, na Eucaristia de encerramento, ele ressaltou que a paz e a esperança devem marcar a vida e a missão, a partir dos compromissos assumidos diante de Deus.

Fortalecendo a caminhada

Diante dos muitos problemas, sofrimentos e preocupações, o Cardeal Barreto ressaltou que “a graça e a paz de Deus nos fortalecem em nossa caminhada”, e conclamou, como expressão do Reino de Deus, a “caminharmos juntos em sua presença, tendo em mente os irmãos e irmãs que vivem na Amazônia”. Seguindo o exemplo dos rios da Amazônia, ele convidou a buscar canais de comunhão, de participação de todos para anunciar a missão de Jesus na Igreja. Para isso, pediu a ajuda de Maria para caminharmos juntos e atitudes de coragem, coerência, compromisso como expressão de parresia nesse Kairos.

Em vista dos compromissos que serão assumidos, a CEAMA foi chamada a ser um sinal de esperança, a partir da escuta e do serviço, para ter confiança em Deus, presente e atuante na Amazônia. Em uma atitude de escuta, de ser uma Igreja que cuida, acompanha e inclui, que discerne e oferece uma espiritualidade que ajuda a viver em sinodalidade, que reconhece a presença das mulheres e medeia a Revelação do rosto de Jesus. Uma Igreja que, a partir da Amazônia, quer ser uma inspiração para outras igrejas.

Daí a necessidade de fortalecer a organização e a estrutura interna da CEAMA e sua comunicação e comunhão com a REPAM, promovendo processos, com um compromisso pessoal e comunitário de conversão, a partir de uma espiritualidade e vocação amazônica, em diálogo com as Conferências Episcopais, as igrejas locais e outras organizações, levando em conta a caminhada da Igreja em cada país, a partir da leitura da realidade, que leva a aprofundar o método da encarnação a partir da vida existente na Amazônia, assumindo o Observatório sócio pastoral, apostando na ecologia integral a partir do conhecimento dos povos amazônicos.



Assumindo a matemática evangélica

Partindo da parábola dos pães e dos peixes, o prefeito do Dicastério para o Desenvolvimento Integral, Cardeal Michael Czerny, analisando a matemática e a gramática, afirmou que “os discípulos pensavam que, para alimentar as pessoas, tinham que dividir cinco pães e peixes, e isso lhes parecia absurdo. Já a matemática para Jesus era o oposto: eles não dividiam, mas multiplicavam”.

Trazendo isso para a vida da CEAMA, ele disse que achava que “há uma tentação constante de usar a matemática humana da divisão, pensando que há apenas um bolo”, porque “a matemática humana divide”, insistindo que “essa matemática fechada, precisa, científica, não funciona bem em nosso organismo eclesial. Temos que ter a matemática evangélica em nossa cabeça para reconhecer no outro aquilo que se multiplica”, assinalou, "que não me tira nada". Na matemática evangélica “há outra lógica”, onde 100 mais 100 não são 200, mas 250 ou 300, porque “muitas vezes na Igreja caímos na tentação de planejar à luz da ciência humana e não da graça de Deus”.

A graça da matemática evangélica foi descoberta pelo cardeal “na lógica do caminho sinodal”, onde “cada vocação se soma e precisa das outras vocações”. A missão não é um bolo a ser dividido e distribuído entre as várias vocações; pelo contrário, é quando cada vocação é realizada ao máximo que a missão prospera.

A importância da gramática

Falando de gramática, ele destacou que, durante a assembleia, “as palavras mais importantes são os verbos. Eles indicam o que está sendo feito e o que precisa ser feito”, enfatizando que "temos que prestar atenção aos verbos". Esses verbos usados pela CEAMA “têm dois sujeitos, dois nominativos, o que é um pouco perigoso. Há o risco de usá-los em demasia”. Um deles, que é usado com muita frequência, é o sujeito “Ceama”. Uma conferência, seja eclesial ou episcopal, não deve ser o sujeito de tantos verbos, ou seja, não deve cair no que chamamos de autorreferencialidade.

Refletiu também sobre o “nós”, referindo-se aos participantes da Assembleia, dizendo que “os sujeitos dos verbos deveriam ser as Igrejas locais, os povos, a Amazônia, à frente das frases”. Isso por uma razão eclesiológica e comunicativa, porque “eclesiologicamente, suponho que vocês reconheçam que o ‘nós’ não é, que a Ceama não é o nominativo, mas as pessoas, as instituições, os processos, o que precisa ser feito” para novos caminhos de evangelização e ecologia integral na Amazônia. Em termos de comunicação, “as pessoas querem ouvir que ‘elas’ são os sujeitos, o nominativo, os atores, os protagonistas”. Daí o apelo que ele fez para reduzir a palavra CEAMA, ou nós, para deixar mais espaço para a palavra você.

Comunicação para unir o que está dividido

Da comunicação vaticana, o prefeito do Dicastério para a Comunicação, Paolo Ruffini, em mensagem enviada à assembleia, disse que recordava o Sínodo para a Amazônia com emoção e gratidão, afirmando que “esta Assembleia da CEAMA nos diz que o caminho continua em frente, é importante estar juntos, caminhar juntos, traçar juntos o caminho de comunhão que nos une”. Em suas palavras, seguindo o pensamento do Papa Francisco, ele refletiu sobre a importância da comunicação que vem de um coração não endurecido, e sobre a necessidade de que a comunicação sirva para unir o que está dividido, porque a comunhão é um dom recíproco, que entrelaça nossas diferenças, que nos permite reconhecer e apreciar o outro.

Daí a importância de encontros como essa assembleia “para a construção de um mundo melhor e de uma comunicação alternativa, um trabalho que estamos fazendo juntos”, ressaltou Ruffini, que pediu para “tecer uma narrativa diferente”, para realizar “um sistema de comunicação baseado na humanidade, e não na tecnologia das máquinas ou no cálculo de algoritmos”. Para isso, insistiu na urgência de recuperar bem viver dos povos amazônicos, “de uma visão pura capaz de trazer de volta à unidade o que dividimos por egoísmo”.



CEAMA, fruto de missionários que deram suas vidas na Amazônia

Não se deve esquecer que “a CEAMA é fruto de muitos missionários que deram suas vidas na Amazônia”, segundo a Ir. Laurita, Marlene Cachipuerto, ressaltando que “é lá que a Igreja está dando respostas através daqueles que deram suas vidas”. Diante da dificuldade de entender o que é a CEAMA, ela fez um apelo para que outros possam se contagiar para caminhar juntos, considerando a CEAMA como um guarda-chuva que pode ser uma voz profética na Igreja, assumindo o grito do povo e a necessidade de caminhar com ele, conhecendo seus planos e não querendo “implantar nossos planos”. Para isso, ela vê a necessidade de ter a mente aberta, correr riscos, não fugir e ter coragem para continuar a missão.

Tornando as pessoas sujeitos

Nessa caminhada conjunta entre a CEAMA e a REPAM, o presidente da Rede Eclesial Pan-Amazônica e bispo de Puyo, Dom Rafael Cob, que lembrou que foi em Puyo, na Amazônia equatoriana, onde a semente da REPAM foi plantada, apresentou seu objetivo e identidade, seu serviço à Igreja e levantar sua voz como aliada dos povos originários. O bispo lembrou as palavras do Cardeal Claudio Hummes, o primeiro presidente da REPAM, que disse que “enquanto os povos originários não forem os sujeitos de seu destino, não teremos alcançado nosso objetivo”.

Daí o desafio lançado pelo bispo Cob de não sermos surdos, nem cegos, nem mudos, de alimentar a espiritualidade que sustenta o trabalho como Igreja, de continuar trabalhando em comunhão, em um espírito sinodal. Para isso, é necessário levar em conta a voz dos povos indígenas, que, como foi compartilhado na Assembleia, advertem que caminhar juntos implica entender a origem de cada povo, entender o que é ser indígena e sua relação com o meio ambiente, o que está na compreensão espiritual que leva a entender as razões dos povos originários para permanecer no território e cuidar da casa comum.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1


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