A Praça de São
Pedro perdeu o anjo que indicava o caminho no mês de agosto. Assim era
conhecido José Carlos de Sousa, o morador de rua brasileiro que foi sepultado
em Roma nesta terça-feira, 15 de outubro, depois de não ter sido localizados seus
familiares e respeitar os trâmites burocráticos que exigem dois messes de
espera. Aos voluntários que lhe atendiam, ele só pedia cadernos para escrever poemas,
sua grande paixão. Outro sonho era visitar Jerusalém, mas como disse na Sala
Stampa o prefeito do Dicastério para a Comunicação, ele já está disfrutando da
Jerusalém celestial.
Os moradores de rua presentes
O funeral,
celebrado na Igreja de Santa Mónica, ao lado da Praça de São Pedro, onde ele
viveu durante anos, foi presidido pelo esmoleiro pontifício, o cardeal
Krajewski, e pelo arcebispo de Manaus, o cardeal Steiner, que quando ficou
sabendo pelo cardeal polonês sobre o funeral do brasileiro, ele pediu para
poder acompanhá-lo, ainda mais depois dele conhecer como o brasileiro falecido
vivia. O cardeal Steiner definiu o funeral como “um momento muito privilegiado,
mesmo porque eu percebi que na celebração estavam os companheiros e as
companheiras dele”.
O arcebispo
de Manaus disse que “quando o caixão foi colocado no carro fúnebre, cada um
deles colocou junto uma flor. Nós não colocamos, mas os companheiros colocaram.
Isso nos emociona, nos toca”. Diante disso, o cardeal Steiner disse que “na
pobreza, no quase nada, existe uma fraternidade profundamente evangélica”, reafirmando
o privilégio de poder participar desse momento profundamente celebrativo, “porque
foi um sinal de que o Reino de Deus, a vida de Deus está presente onde muitas
vezes nós achamos que não está”.
A vida de Deus floresce também na morte
“A vida de
Deus floresce também na morte. Quem acabou tendo mais vida fomos nós que lá
estávamos”, disse o cardeal. Ele lembrou que “em Manaus, nós também gostamos
muito de estar quando nós enterramos um dos nossos irmãos e irmãs que vivem nas
nossas ruas. Nós não só gostamos, queremos estar juntos nesse momento”,
destacando que os que estão na rua também estão juntos.
“Na rua, em
todos os lugares, eu não falo, eu só olho, escuto, lembro, escrevo, porque não
quero estar sozinho no mundo”, são palavras de uma das poesias de José Carlos,
lidas no final da coletiva de imprensa deste 15 de outubro pela vice-diretora
da Sala Stampa vaticana, Cristiane Murray. Algo que sem dúvida nos leva a
pensar.
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