domingo, 3 de novembro de 2024

Cardeal Steiner: Memória de mulheres e homens que deixaram-se iluminar pela alegria da vida nova anunciada


A celebração de hoje une, de modo especial, a terra e o céu, céu e a terra: celebramos a todos os Santos”, afirmou o cardeal Leonardo Steiner na homilia da Solenidade de Todos os Santos. “Mulheres e homens que no seguimento de Jesus deixaram-se fecundar e transformar e agora participam do Reino definitivo. Mulheres e homens que estiveram a caminho e deixaram-se iluminar pela grandeza, pela alegria da vida nova anunciada, crucificada e ressurreta de Jesus Cristo”, segundo o arcebispo de Manaus. Segundo o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), “com a celebração de hoje somos animados a perseverar, a nos aproximar sempre mais da vida e graça do Jesus”.

Comentando a primeira leitura, ele destacou que “o livro do Apocalipse nos despertava para a admiração”. O cardeal Steiner sublinhou: “marcados, pois bem-aventurados, felizes! Nas vicissitudes, injustiças, destruições da história, eles caminharam, permaneceram de pé, ‘combateram o bom combate’, passaram pela ‘grande tribulação’. E, nesse passar, permanecer na fidelidade, receberam o sopro do Espírito que purifica, pacifica, sacia, consola, alegra e eleva na perseguição. No marchar, caminhar foi-lhes dada a graça da comunhão na pureza do ser de Deus; abraçados e acarinhados, alcançaram a limpidez do ser no seu sentido ontológico. A multidão sem fim dos bem-aventurados, dos felizes no Reio do Céu”.

O arcebispo de Manaus lembrou que “a Igreja celebra, memora, os irmãos e as irmãs que receberam a graça do caminho de seguir o Mestre Jesus. Celebramos e memoramos todos os discípulos e discípulas de Jesus que foram declarados santos e santas, mas igualmente memoramos e admiramos todos os que seguindo Jesus nos tormentos, no esquecimento, na humildade, no serviço, na misericórdia, foram fiéis até o fim. Fazemos memória das irmãs e dos irmãos que testemunharam a Jesus e o seu Evangelho numa vida humilde e escondida, acolhedora e recnciliadora e que, por isso, foram vistos e reconhecidos como santos e santas. Celebramos a realidade, realíssima da Comunhão dos Santos!”



Bem-aventurados!, Felizes (hebraico ashrei)! Somos convidados a ser bem-aventurados, a ser felizes! Jesus no Evangelho, nos ensinando o caminho da felicidade. Somos bem-aventurados, felizes, quando percorremos o caminho, quando perseveramos no caminho. O olhar sempre voltado para o Reino de Deus. Percorrer o caminho do Reino. Andar (Ashar), conduzir por uma vida de bondade, de retidão. Santas e santos, os irmãos e a irmãos que percorreram, perseveraram na dinâmica da salvação recebida, sempre mais alimentados pelo Espírito do Reino de Deus”, segundo o cardeal Steiner.

Citando o texto do Evangelho do dia: “Bem-aventurados os pobres em espírito, porque deles é o Reino dos Céus”, o cardeal Steiner lembrou que “um poeta hebreu nos diz que pobres de espírito, deveria ser compreendido como humilhados do sopro. Os humilhados (o termo hebraico ani, próximo de anav), os humildes, aqueles que na consciência pacificada de sua miséria e de seu nada herdam a mais eminente das graças divinas, o sopro sagrado, o Espírito Santo; o sopro presente na pessoa, na casa ou no templo em que mora Deus. Estes humildes e estes humilhados são as vítimas da convivência desastrada onde são rejeitados, injustiçados e vivem escondidos, mas vivem, não deixam de viver e sempre mais desejosos do sopro vivificador. São teimosamente viventes!”

“À margem da sociedade reinante, eles são vocacionados para herdar o sopro sagrado, o que faz deles membros da comunhão escatológica anunciadora e obreira do mundo vindouro. Os humilhados, são teimosamente viventes, porque na sua finitude, na humanidade finita, justamente na fraqueza, continuam a confiar em Deus e a buscar a misericórdia benfazeja. Todos a caminho, de pé, iluminados pelo Reino vindouro, porque já presente e sopro do novo reino. O Reino anunciado por Jesus e nele plenificado. É caminho a percorrer, que os humilhados trilham, pois teimosamente caminham, estão de pé. E porque humilhados e desprezados, percebem que vivem do sopro do Espírito. Aquela, aquele, que se faz bem-aventurado, deixa-se, na maior humilhação, fecundar pelo sopro do Espírito. Bem-aventurado, feliz, advém do perseverar e caminhar na força e graça do Espírito”, lembrou o arcebispo inspirado nas palavras de André Chouraqui.



“Bem-aventurados os humilhados! Jesus, não tem a crueldade de declarar bem-aventurados, felizes a multidão dos deserdados, dos condenados, torturados, mortos, como genocídio pelas legiões romanas porque se opunham à presença dominadora. O Jesus faz o convite de nos pormos a caminho e participarmos da vida do Reino, na vida ou na morte, na alegria ou na tristeza, na dança ou no sofrimento. Assim experimentamos o Reino que conduz na esperança, é a fraternidade, alargando o horizonte da vida do Reino. A bem-aventurança é Reino de Deus, na realização do reino”, disse o presidente do Regional Norte1.

“Jesus a nos indicar um caminho a ser percorrido, uma disposição de buscar: vida nova. Ele a nos chamar para a transformação radical do Universo. Como um profeta a anunciar um novo céu e uma nova terra onde possa desabrochar, livre de toda a servidão, uma vida nova, a transfiguração da realidade, a completude do reino de Deus. Jesus a nos provocar a uma conversão radical, ao retorno à fonte de nosso ser. A nos provocar a estar a caminho sempre, de pé, na prontidão para eliminar a raiz de tudo o que impede, trava o sopro, o impulso do sopro sagrado, criador e libertador de vida, o Espírito humilhado, o Espírito Santo”, sublinhou.

Na segunda leitura, o cardeal Steiner disse que “São João a nos indicar a força, a beatitude dos daqueles e daquelas que continuam a caminhar, a estar de pé em meio a todas as aflições: ‘Vede que grande presente de amor o Pai nos deu: de sermos chamados de filhos de Deus! [...] E nós já somos filhos de Deus, mas ainda nem sequer se manifestou tudo o que seremos’ (1Jo 1,1-2). Caminhar na esperança de nos encontrarmos face a face com Deus e de sermos transformados Nele, de sermos ‘cristificados’, ‘deificados’. No caminhar, no estar de pé é que nos torna santos, pacientes ou padecentes de sua Paixão em meio à ‘grande tribulação’. Pois, todo aquele que espera Nele purifica-se a si mesmo, como também Ele é puro (1Jo,1,3)”.



“No domingo passado na Basília de São Pedro em Roma com a celebração Eucarística encerramos o Sínodo dos Bispos que refletiu a Igreja sinodal em missão. Recordamos com alegria e disponibilidade que formamos um povo, o Povo santo de Deus, que busca a verdade e serve em santidade" (LG 9). Nós todos, Povo de Deus, a caminho do Reino, alimentando-nos da Palavra e da Eucaristia, e formamos uma comunhão e uma unidade. Toda a Igreja, todos os batizados, vivemos a vocação à santidade”, lembrou o membro da Assembleia Sinodal do Sínodo sobre a Sinodalidade.

Ele disse que “Papa Francisco, na homilia, nos recordava, na imagem do cego Bartimeu, que na Igreja sinodal, Jesus nos chama, nos levanta quando estamos sentados ou caídos, nos concede recuperar uma nova visão, para que, à luz do Evangelho, possamos ver as inquietações e os sofrimentos do mundo; e assim, reerguidos pelo Senhor, experimentamos a alegria de o seguir pelo caminho. Juntos a caminho! A caminho, não seguimos fechados nas nossas comodidades, não nos labirintos das nossas ideias, mas o seguimos a caminho juntos. E lembrava: não caminhar por conta própria ou segundo os critérios do mundo, mas caminhar juntos, pelo caminho, atrás d’Ele e caminhando com Ele. E insistiu: “Irmãos e irmãs: não uma Igreja sentada, mas uma Igreja em pé. Não uma Igreja muda, mas uma Igreja que acolhe o grito da humanidade. Não uma Igreja cega, mas uma Igreja iluminada por Cristo, que leva aos outros a luz do Evangelho. Não uma Igreja estática, mas uma Igreja missionária, que caminha com o Senhor pelas estradas do mundo”.

“Como Igreja sinodal em missão, como comunidades sinodais em missão”, o cardeal Steiener pediu que “olhemos para o rosto daqueles que sofrem, necessitam de consolo, de compreensão, de amor, de paternidade, de maternidade, de perdão! Pois, bem-aventurados os pacificadores, porque serão chamados filhos de Deus. Quantos procuram ocasiões para enganar, para se aproveitar dos outros, são felizes? Quantos semeiam com despudor o joio das notícias falsas: são felizes? Não, não podem ser felizes! Mas são felizes, bem-aventurados, aqueles que todos os dias, com paciência, procuram semear a paz, a reconciliação, fazem nascer e crescer a fraternidade, visibilizam a beleza do amor. São bem-aventurados, porque são verdadeiros filhos e filhas do nosso Pai que está no Céu, o qual semeia sempre e unicamente a paz, envolve todos com seu amor”, lembrando as palavras de Papa Francisco.

Finalmente, o arcebispo de Manaus fez um chamado a que “caminhemos na fé, na esperança, em fraternidade. Deixemo-nos fecundar, transformar pela vida de Deus, que é o Reino, entremos com nossa fraqueza na dinâmica do amor que tudo transforma. Hoje podemos cantar: Alegrai-vos e exultai, porque a marcha, o caminho de Jesus leva aos céus.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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