domingo, 29 de dezembro de 2024

Cardeal Steiner: “Assumamos o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu”


Iniciamos o Ano Santo Jubilar na Solenidade da Sagrada Família”, disse o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, na catedral da Imaculada Conceição, na homilia da celebração com que deu início o Jubileu da Esperança, que começo na Igreja de Nossa Senhora dos Remédios.

Celebramos a peregrinação da Família de Nazaré a Jerusalém, a experiência de Jesus, Maria e José, unidos por um amor imenso e animados por uma grande confiança em Deus. Peregrinam para a cidade santa, participam da festa da Páscoa e Jesus permanece no templo a dialogar e discutir com os mestres da Lei. No regresso da peregrinação, os pais dão-se conta de que o filho de doze anos não está na caravana. Depois de três dias de busca e de temor, o encontram no templo, sentado no meio dos doutores, escutando e fazendo perguntas. Ao ver Jesus, Maria e José ‘ficaram admirados’ e a Mãe manifestou a sua apreensão dizendo: ‘Teu pai e eu estávamos, aflitos, à tua procura’”, afirmou o arcebispo.

“Na peregrinação a Jerusalém, a aflição e a admiração! Nossa Senhora e José passaram pela aflição; a aflição os levou à procura e ao encontro.  A ‘aflição’ pela perda, pelo desencontro, aflição, pois pai e mãe. Maria e José tinham acolhido aquele Filho, dele cuidavam e viam crescer em estatura, sabedoria e graça no meio deles. A maternidade e a paternidade, fez crescer o afeto, o amor em relação a Jesus. Ele era o filho amado. A família de Nazaré fez-se sagrada, pois voltada, centrada em Jesus. Dessa relação amorosa nasce a aflição: onde está, com quem está, vivo está?”, refletiu o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1).

Segundo o cardeal Steiner, “a aflição pode advir de uma perda, de uma desorientação, de não encontrar a quem se ama. Vivemos num tempo de situações dramáticas que causam tanta aflição: as guerras, a violência, a fome, a orfandade, os abusos, a desilusão da migração. Tantas situações de aflição por que passam as famílias. Quantas procuras sem encontrar o templo como lugar do reencontro. Mas sempre na esperança!”



Ele disse que “aquela aflição que eles sentiam nos três dias em que perderam Jesus, deveria ser também a nossa aflição quando estamos distantes de Jesus. Deveríamos sentir aflição quando esquecemos a Deus por mais de três dias, sem rezar, sem ler a Sagrada Escritura, sem sentir a necessidade de ser sua presença e da sua amizade consoladora. Deveríamos sentir aflição no distanciamento de Deus e dos irmãos.”

“É a admiração a provocar, o despertar para a esperança”, ressaltou o arcebispo. Segundo ele, “na família de Nazaré havia ‘admiração’; nem mesmo a perda de Jesus, deixou de causar admiração. Admiração: ‘todos os que ouviam o menino estavam maravilhados com sua inteligência e suas respostas’”. O cardeal Steiner lembrou as palavras de Papa Francisco na festa da Sagrada Família de 2018, onde também pergunta e responde: “Mas que significa admiração, que significa ficar maravilhado? Ficar admirado e maravilhar-se é o contrário de dar tudo por certo, é o contrário de interpretar a realidade que nos circunda e os acontecimentos da história apenas conforme os nossos critérios. E quem faz isto não sabe o que significa maravilhar-se, o que significa ficar admirado. Admiração é elevação, alegria, receptividade. Admirar-se significa abrir-se aos outros, compreender as razões dos outros. A admiração cura dos prejulgamentos, dos pré-juízos. É indispensável para curar as feridas abertas no âmbito familiar e comunitário. A admiração se dá conta da bondade, das qualidades, dos afetos e acolhida.”

“A sagrada família, as nossas famílias! Como são animadoras as palavras da Carta aos Colossenses: somos amados por Deus, somos os seus eleitos. Somos, insistentemente, convidados a revestir-nos de misericórdia, bondade, humildade, mansidão e paciência, sendo suporte uns para com os outros. Amar-nos uns aos outros; viver na paz, na gratidão, ajudar-nos na benevolência da sabedoria. Tudo para que as relações familiares sejam fecundas e frutuosas, cheios de liberdade e sabedoria. Como é admirável e desafiador a vida em família, pois é ali que crescemos na nossa humanidade e na nossa divindade”, sublinhou.

O cardeal Steiner recordou que “iniciamos, hoje, na Arquidiocese o Ano Jubilar da Esperança! O Jubileu será tempo da esperança! ‘A esperança não decepciona’, indica o caminho de seguirmos a Jesus! Nossas comunidades eclesiais, movimentos e comunidades de vida, pastorais, serviços e organismos, vocações e ministérios, todos animados na esperança, pois mantemos os olhos fixos em Jesus. Tendo como horizonte o Reino de Deus, nossa esperança, nos empenhamos pela vida em plenitude para toda realidade criada. A nossa confiança em Jesus, que veio ‘para que tenham vida, e a tenham em abundância’ (Jo, 10,10).”



Explicando o Jubileu, o arcebispo disse que “o Ano da Esperança, convida a redescobrir a alegria do encontro com Jesus, pois somos chamados a uma renovação espiritual e compromete-nos na transformação do mundo, para que este se torne verdadeiramente um tempo jubilar: que seja assim para a nossa mãe Terra, desfigurada pela lógica do lucro; que seja assim para os países mais pobres, sobrecarregados de dívidas injustas; que seja assim para todos aqueles que são prisioneiros de antigas e novas escravidões. A esperança cristã é precisamente o “algo mais” que nos pede para avançarmos e nos deixarmos encontrar por Jesus, o nascido em Belém, e pelos irmãos e irmãs que mais necessitam. Discípulas e discípulos do Senhor, somos convidados a encontrar em Jesus a nossa maior esperança e a levá-la sem demora, como peregrinos de luz nas trevas do mundo”, lembrando as palavras de Papa Francisco na Abertura do Ano Santo 2025.

O Ano Jubileu é uma ocasião privilegiada para a experiência do amor misericordioso de Deus e da mesma forma, nos dá a oportunidade para superarmos as marcas do pecado que enfraquecem nossas relações. Ano da Esperança, tempo de conversão! A Indulgência Jubilar, a experiência da misericórdia sem limites, nos dá a possibilidade de alcançarmos o perdão e evitar que os efeitos do pecado deixem suas marcas na nossa história pessoal e eclesial. Façamos a experiência da compaixão e da misericórdia de Deus para conosco neste ano da Esperança”, disse o cardeal.

Segundo ele, “Jesus é a nossa esperança, Ele a expressão da Misericórdia do Pai, pede que sejamos sinais de esperança. Somos, na solenidade da Sagrada Família, na abertura do ano da Esperança, convidados a gestos humildes e simples de acolhimento e de perdão. O cuidado mútuo e a entrega tornam-se fundamento de uma relação madura, sólida e suave. Uma vida madura, sólida e de sabedoria.”

O presidente do Regional Norte1 pediu que “as nossas comunidade e famílias possam ser o lugar de encontro com Deus, espaço do amor que impulsiona e revigora. Oferecer gestos, palavras e silêncio que são boa notícia, que edificam, transformam, maturam, iluminam esperança. As comunidades e as famílias podem ser lugar da superação dos desertos, da secura, da solidão, pois lugar do aconchego, da acolhida, da oração. Na comunidade, na família se faz a experiência da pertença do Reino de Deus, caminho da terra da promessa, da liberdade, iluminado pela esperança que não decepciona.”



“A Esperança, visibilizada nas obras de misericórdia, visibilizada nas pastorais sociais da Arquidiocese, principalmente no que diz respeito às populações em situação de rua, aos encarcerados, aos migrantes, aos idosos, às pessoas com deficiência e aos povos originários. Esperança visibilizada na inauguração da Casa da Esperança como marco de atenção aos pequenos, vítimas de abusos e outras agressões”, enfatizou o arcebispo.

Ele insistiu em que “assumamos, irmãs e irmãos o dom e o compromisso de levar a esperança onde ela se perdeu: onde a vida está ferida, nas expectativas traídas, nos sonhos desfeitos, nos fracassos que despedaçam o coração; no cansaço de quem já não aguenta mais, na solidão amarga de quem se sente derrotado, no sofrimento que consome a alma; nos dias longos e vazios dos encarcerados, nos aposentos estreitos e frios dos pobres, nos lugares profanados pela guerra e pela violência. Levar esperança nestes lugares, semear esperança nesses locais. Levantar o estandarte da Esperança: Deus nasceu, Jesus vive como ressuscitado no nosso meio”, inspirado nas palavras de Papa Francisco na Abertura do Ano Santo 2025.


Finalmente, o cardeal Steiner fez um chamado para que “rezemos por todas a famílias, especialmente por aquelas nas quais, por vários motivos, falta a paz, a harmonia, chegou a desesperança. Hoje louvamos a Deus pela família Igreja de Manaus que peregrina na esperança. Com a aflição e a admiração da proteção da Sagrada Família de Nazaré celebremos nosso ano jubilar, oferecendo a esperança a todos os irmãos e irmãs necessitadas no corpo e no espírito. Viemos da celebração do nascer da Criança de Belém que se fez nossa esperança. Sabemos que a Esperança não decepciona. Amém!”




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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