terça-feira, 24 de dezembro de 2024

Cardeal Steiner: "Deus abaixou-se para que dele pudéssemos nos aproximar"


Depois de citar o texto do Evangelho que diz: “Enquanto estavam em Belém, completaram-se os dias para o parto, e Maria deu à luz o seu filho primogênito. Ela o enfaixou e o colocou na manjedoura, pois não havia lugar para eles na hospedaria” (Lc 2,4-8), o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner iniciou sua homilia lembrando que “aos domingos depois da missa, crianças vem para receber a benção. Quando me abaixo e fico à altura de olhos nos olhos, elas se aproximam, normalmente sorriem. É o que celebramos nesta vigília de Natal. Deus abaixou-se para que dele pudéssemos nos aproximar. Abaixou-se, colocou-se olhos nos olhos, para que o pudéssemos ver, sentir o seu perfume, perceber a suavidade de seu respiro.”

O arcebispo incidiu e que “aproximou-se! Deixou-se envolver com faixas, panos e reclinado na manjedoura. Aproximou-se: nasceu pobre, peregrino, na simplicidade, no quase abandono! Nasceu escondido, no meio da noite, fora da cidade, sem casa, aos cuidados de Maria e José, em meio de animais. Aproximou-se, recebendo como berço, como lugar para repouso e acolhimento a manjedoura dos animais. Aproximou-se na fragilidade, na nossa humanidade, revelando o seu rosto. No nosso rosto, Deus veio mostrar-se, tornou-se visível. Veio ao nosso encontro na fraqueza, na ternura de uma criança, na singeleza e inocência e fraqueza da nossa humanidade; Deus feito menino, proximidade!”

Segundo o cardeal Steiner: “O ‘Deus próximo’ fala-nos de humildade. Não é um ‘grande Deus’ distante... não. Está próximo. É de casa. Aproximou-se iluminando os que viviam à margem, os esquecidos, os pastores. Naquela noite, Aquele que não tinha um lugar para nascer é anunciado àqueles que não tinham lugar nas mesas e nas ruas da cidade. Os pastores foram os primeiros a receber a Boa Notícia da proximidade de Deus.”

Recordando as palavras de Papa Francisco na Vigília do Natal de 2017, ele disse: “Pelo seu trabalho, eram homens e mulheres que tinham de viver à margem da sociedade. As suas condições de vida, os lugares onde eram obrigados a permanecer, impediam-lhes de observar todas as prescrições rituais de purificação religiosa e, por isso, eram considerados impuros. Traía-os a sua pele, as suas roupas, o seu odor, o modo de falar, a origem. Neles tudo gerava desconfiança. Homens e mulheres de quem era preciso estar distante, recear; eram considerados pagãos entre os crentes, pecadores entre os justos e estrangeiros entre os cidadãos. A eles – pagãos, pecadores e estrangeiros – disse o anjo aproximou-se deu a bela notícia: “Não temais, pois anuncio-vos uma grande alegria, que o será para todo o povo: ‘Hoje, na cidade de David, nasceu-vos um Salvador, que é o Messias Senhor’ (Lc 2, 10-11).”



“Abaixou-se como ‘recém-nascido envolvido em faixas e deitado numa manjedoura’ (Lc 2,12). E os que se aproximaram na possibilidade do abaixamento de Deus, ficaram maravilhados a ponto de Lucas afirmar: ‘os pastores voltaram louvando e glorificando a Deus por tudo o que tinham ouvido e visto (Lc 2,20). Ouviram anjos, mas viram Deus menino: pobreza, singeleza, silêncio, respiro, suspiro. No meio da noite pelo abaixamento, viram que havia uma semelhança entre Deus e eles. No abaixamento de Deus, não eram mais marginalizados, empobrecidos, indignos, desfavorecidos. Agora não mais sós a cuidar dos rebanhos. Eram filhos e filhas amados de Deus. Deus se fez filho como nos anunciava profeta: “um filho nos foi dado”, refletiu o cardeal.

Ele afirmou: “O esperado das nações, o implorado por gerações, hoje celebrado nas palavras do profeta como o nascido menino, o filho que nos foi dado (Is 9,5). Deus se abaixou a tal ponto que se fez nosso filho, na sua filiação somos todos filhas e filhas de Deus. Deus gerado em nossa humanidade. A humanidade, por desejo e ação de Deus, foi capaz de gerar Deus. Agora não mais distante, mas proximidade, carne da nossa carne, para dizer o quanto ama, pois sinal de bondade e de misericórdia.”

Agora Ele mesmo no meio de nós, como um de nós, não outro de nós. Um de nós, como nós, pequeno, necessitado, dependente, necessitado de amor materno, paterno. Custa-nos crer que Deus seja tão próximo de nós, que se tenha abaixado a tal ponto que o podemos tomar nos braços, abrigá-lo, acariciá-lo, sentir o seu perfume. Às vezes nos é penoso confessar que Deus seja apenas uma criança, tenha o nosso corpo, que participa das nossas necessidades, da finitude humana”, destacou o presidente do Regional Norte1 da CNBB.

Segundo ele, “Nesta noite vemos e apalpamos a proximidade de Deus, o abaixamento de Deus; como está próximo, pede-nos que estejamos próximos uns dos outros, que não nos afastemos uns dos outros. Deus se fez homem, próximo dos pastores, dos Magos, dos pobres, dos necessitados e foi para todos, sinal de consolo, cura e salvação.” Lembrando novamente as palavras de Papa Francisco, o cardeal disse: “Estar próximo aos últimos, curvar-se diante de suas feridas, cuidar de suas necessidades, é lançar uma boa base na construção de comunidades unidas e sólidas, para um mundo melhor e um futuro de paz. É o próprio Cristo que vem ao nosso encontro nos pobres, para nos mostrar o caminho para o Reino dos Céus, Ele que se fez pobre para nos enriquecer com sua pobreza.”



Recordando que “desejávamos chegar a Belém, porque Ele nos esperava. Agora ao contemplarmos o abaixamento de Deus, dobremos reverentes e contentes os joelhos: um Filho nos foi dado!”, o arcebispo de Manaus pediu: “dobremos os joelhos e reverentes e contemplantes acolhamos a Criança envolta em panos e deitada entre animais, pastores e anjos. Dobremos os joelhos diante de Deus indefeso, Deus gemido: Tu, colocado numa manjedoura, és a Vida, vida da nossa vida. Necessitamos da terna fragrância do teu amor, a fim de tornar-nos, esperança e paz para no mundo. Toma-nos sobre os teus ombros frágeis de menino: amados por Ti, também nós amaremos as irmãs e os irmãos. Então será Natal,quando pudermos confessar: ‘Senhor, Tu sabes tudo; Tu sabes que eu te amo!’ (Jo 21,17), amando os irmãos.”

“Nesta noite, maravilhados com a presença do Deus-criança, voltamos para as nossas casas, nossas famílias, admirados com abaixamento de Deus. Com Ele na nossa humanidade, o levamos a todos para que possam, por Deus ser tão próximo de nós, viver da admiração. Diante da singeleza, da pobreza, da nadificação de Deus: proximidade, admiração, disponibilidade, prostração, delicadeza, receptividade, adoração, gratuidade. Ao mostrarmos a Jesus, digamos como os anjos aos pastores: ‘Não temais! Nasceu para vós o Salvador’, o recém-nascido, nú, envolto em faixas e deitado numa manjedoura”, sublinhou o cardeal Steiner.

Comentando a segunda leitura da celebração, ele destacou “como foram alentadoras as palavras de Paulo a Tito na segunda leitura”, citando o texto: “Ele se entregou por nós, para nos resgatar de toda a maldade e purificar para si um povo que lhe pertença e se dedique a praticar o bem” (11,14). Ao respeito, ele destacou que “No seu abaixamento nos elevou, nos dignificou, nos deificou. Chegou nossa esperança e podemos manifestar a glória da grandeza de Deus na fragilidade infantil de Belém.”



Igualmente, ele  chamou a recordar a vibração de Santo Agostinho diante do abaixamento de Deus: “Saltem de júbilo os homens, saltem de júbilo as mulheres; Cristo nasceu varão e nasceu de mulher, e ambos os sexos são honrados n’Ele. Pulai de prazer, santos meninos, que escolhestes principalmente a Cristo para imitar no caminho da pureza; brincai de alegria, virgens santas; a Virgem deu à luz para vós para desposar-vos com Ele sem corrupção. Dai mostras de júbilo, justos, porque é o natalício do Justificador. Fazei festas vós os fracos e enfermos, porque é o nascimento do Salvador. Alegrai-vos, cativos; nasceu vosso redentor. Alvoroçai-vos, servos, porque nasceu o Senhor. Alegrai-vos, livres, porque é o nascimento do Libertador. Alegrem-se os cristãos, porque nasceu Cristo.”

No meio da noite a nossa humanidade se faz Luz, chegou nossa esperança. Na noite resplandece a luz! O nascer de Deus veio iluminar nossas fragilidades, acender nossa esperança, acalentar nosso amor, refazer nossas relações, ofertar perdões, aproximar vidas deserdadas, desérticas”, disse o cardeal.

Finalmente, ele pediu que “Deus nos conceda a graça de contemplarmos a glória e o esplendor de Deus no recém-nascido envolto em nossos panos, panos de nossa humanidade. A Ele toda honra, todo louvor, toda a ação de graças, todo afeto; nossas carícias e afetos”, e lembrou as palavras de Isaías: “Senhor, te invocaram e esperam gerações. Fizeste crescer a alegria e aumentaste a felicidade. Nos regozijamos com tua presença. Vieste como um filho, Conselheiro Admirável, Deus forte, Pai dos tempos futuros, príncipe da paz.” 



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1


Nenhum comentário:

Postar um comentário