domingo, 1 de dezembro de 2024

Cardeal Steiner: “O Advento é tempo para verificar o nosso desejo de Deus”


Com a celebração de hoje iniciamos um novo Ano Litúrgico. Nos colocamos a caminho de Belém, com o primeiro domingo do advento”, disse o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Steiner no início de sua homilia. Segundo o presidente do Regional Norte1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB Norte1), “o Evangelho anuncia do tempo novo que estamos por iniciar: ‘Levantai-vos e erguei a cabeça, porque a vossa libertação está próxima.’ Ao iniciarmos o caminho até Belém somos iluminados pela palavra da libertação. A libertação se aproxima, pois está por nascer o Filho que nos será dado, o Emanuel.”

O cardeal lembrou as palavras de Papa Francisco: “O Advento é o tempo que nos é concedido para acolher o Senhor que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e nos preparar ao regresso de Cristo. Ele voltará a nós na festa do Natal, quando fizermos memória da sua vinda histórica na humildade da condição humana; mas vem dentro de nós todas as vezes que estamos dispostos a recebê-lo, e virá de novo no fim dos tempos para ‘julgar os vivos e os mortos’. Por isso, devemos estar vigilantes e esperar o Senhor com a expetativa de o encontrar.”

O arcebispo de Manaus vê o Advento como: “espera, expectativa, vinda! Ele virá, está por vir! Somos convidados a nos prepararmos para a Vinda do Senhor! Com o Advento, abrimos o ano litúrgico para celebrarmos a presença do Filho de Deus entre nós! Por isso, ‘haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. Na terra, as nações ficarão angustiadas, com pavor do barulho do mar e das ondas. Os homens vão desmaiar de medo, só de pensar no que vai acontecer ao mundo, porque as forças do céu serão abaladas.’ A Palavra de Jesus a nos despertar para o tempo novo que está por chegar!”

“O Evangelho a nos indicar a vinda do Filho do Homem ‘com grande poder e glória’ (Lc 21,27) convidando-nos a retomar o ânimo e a levantar a cabeça porque ‘a libertação está próxima’ (Lc 21,28). A palavra ‘libertação’ (“apolytrôsis”) é o ‘resgate de um cativo’. O resgate, a libertação que a Criança de Belém nos aponta. A salvação-libertação da humanidade, concretizado nas palavras e nos gestos de Jesus, é apresentado como libertação do egoísmo, do pecado, da morte. É a libertação de tudo o que nos escraviza, domina, e nos impede de viver na dignidade de filhos e filhas de Deus”, sublinhou o cardeal Steiner.



O presidente do Regional Norte1 disse que “Ele chega sem aviso, sem alarde! Sua chegada silenciosa e cândida pede acolhimento, vigilância e atenção. Assim, nos encontrará de pé, vigilantes, prontos, disponíveis para acolhê-lo! E contemplaremos o Filho de Deus reclinado na manjedoura de Belém revestido de nossa fragilidade e humanidade. Tocados pela pobreza e singeleza de Deus, nos inclinamos, como os pastores, para admirá-lo, adorá-lo e servi-lo (Lc 12,35-48). A Criança-Deus, que transforma nossa humanidade, nos envia ao encontro dos mais necessitados (Lc 14,15-24).”

Citando o texto bíblico: “Levanta-vos, erguei a cabeça, vigiai e orai”, ele lembrou que “as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias dos homens de hoje, sobretudo dos pobres e de todos aqueles que sofrem, são também as alegrias e as esperanças, as tristezas e as angústias que os discípulos da Criança de Belém experimentam; e não há realidade alguma verdadeiramente humana que não encontre eco no seu coração. Porque a sua comunidade é formada por homens, que, reunidos em Cristo, são guiados pelo Espírito Santo na sua peregrinação em demanda do reino do Pai, e receberam a mensagem da salvação para a comunicar a todos. Por este motivo, a Igreja sente-se real e intimamente ligada ao género humano e à sua história”, segundo diz Gaudium et Spes.

Com a mesma citação: “Levantai-vos, erguei a cabeça, vigiai e orai”, afirmou que “o Evangelho a nos acordar para uma sensibilidade própria, única, capaz de despertar para a presença de Jesus-Menino que deseja nos encontrar. Deixarmo-nos encontrar por uma sensibilidade vença a nossa insensibilidade.” Ele lembrou as palavras de Papa Francisco em Evangelii Gaudium: “A situação atual do mundo ‘gera um sentido de precariedade e insegurança, que, por sua vez, favorece formas de egoísmo coletivo’. Quando as pessoas se tornam autorreferenciais e se isolam na própria consciência, aumentam a sua voracidade: quanto mais vazio está o coração da pessoa, tanto mais necessita de objetos para comprar, possuir e consumir. Em tal contexto, parece não ser possível, para uma pessoa, aceitar que a realidade lhe assinale limites; neste horizonte, não existe sequer um verdadeiro bem comum. Se este é o tipo de sujeito que tende a predominar numa sociedade, as normas serão respeitadas apenas na medida em que não contradigam as necessidades próprias. Por isso, não pensemos só na possibilidade de terríveis fenómenos climáticos ou de grandes desastres naturais, mas também nas catástrofes resultantes de crises sociais, porque a obsessão por um estilo de vida consumista, sobretudo quando poucos têm possibilidades de o manter, só poderá provocar violência e destruição recíproca.

Talvez, o advento nos possa acordar e percebermos que “nem tudo está perdido, porque nós somos capazes de tocar o fundo da degradação, também de superar-se, voltar a escolher o bem e regenerar-se, para além de qualquer condicionalismo psicológico e social que lhes seja imposto. São capazes de se olhar a si mesmos com honestidade, externar o próprio pesar e encetar caminhos novos rumo à verdadeira liberdade. Não há sistemas que anulem, por completo, a abertura ao bem, à verdade e à beleza, nem a capacidade de reagir que Deus continua a animar no mais fundo dos nossos corações. A cada pessoa deste mundo, peço para não esquecer esta sua dignidade que ninguém tem o direito de lhe tirar”, disse, citando novamente Evangelii Gaudium.



“O Advento a nos recordar as três visitas do Deus à humanidade: ‘A primeira visita foi a Encarnação, o nascimento de Jesus na gruta de Belém; a segunda acontece no presente: o Senhor visita-nos continuamente, todos os dias, caminha ao nosso lado e é uma presença de consolação; por fim, teremos a terceira, a última visita’, o encontro com Cristo conforme o Evangelho de Mateus: ‘Tive fome e me destes de comer; tive sede e me destes de beber; era peregrino e me acolhestes; nu e me vestistes; enfermo e me visitastes; estava na prisão e viestes a mim’ (Mt 25)”, disse o arcebispo de Manaus.

Segundo o cardeal, “o convite de Jesus no Tempo do Advento é para estarmos atentos e vigilantes, para não desperdiçar as ocasiões de amor que nos doa”, lembrando as palavras de Papa Francisco no primeiro domingo de Advento de 2017: “A pessoa atenta é a que, em meio ao barulho do mundo, não se deixa tomar pela distração ou pela superficialidade, mas vive de maneira plena e consciente, com uma preocupação voltada antes de tudo aos outros. Com esta atitude percebemos as lágrimas e as necessidades do próximo e podemos dar-nos conta também das suas capacidades e qualidades humanas e espirituais.”

Com as palavras da primeira leitura do dia, o cardeal ressaltou que “o profeta a nos ensinar, animar e esperançar”, afirmando que “o Advento nos faz caminhar ao encontro de tempo novo, nova luz, pois Deus em meio à nossa fragilidade”, o que também está presente na segunda leitura.

“A caminhada adventícia que iniciamos é o tempo que nos é concedido para acolher Deus que vem ao nosso encontro, também para verificar o nosso desejo de Deus, para olhar em frente e nos preparar ao regresso de Cristo. Ele voltará a nós na festa do Natal, quando fizermos memória da sua vinda histórica na humildade da condição humana; mas vem dentro de nós todas as vezes que estamos dispostos a recebê-lo, e virá de novo no fim dos tempos para ‘julgar os vivos e os mortos’. Por isso, devemos estar vigilantes e esperar o Senhor com a expetativa de o encontrar”, disse o arcebispo de Manaus.

Ele disse que “o Advento é o tempo da presença e da espera: ‘Ficai atentos e orai a todo momento a fim de terdes força para escapar de tudo o que deve acontecer e para ficardes em pé diante do Filho do Homem.’ Uma espera que é um caminho. O caminho até Belém para vermos o que Deus foi capaz de realizar por nós. A espera, é um caminho, caminho de preparação, pois Ele está por vir. Caminho que conversão, pois desejamos que Ele nos encontre preparados, vigilantes, atentos, prontos para receber quando chegar.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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