No terceiro domingo da quaresma, o arcebispo de Manaus,
cardeal Leonardo Ulrich Steiner, iniciou sua homilia dizendo que “na caminhada
quaresmal o Evangelho a indicar uma vida cheia frutos, uma vida frutuosa;
evitar a esterilidade, a inutilidade de existir. É o movimento de conversão que
leva à libertação, à salvação. A transformação da escravidão do egoísmo e do
pecado, em mulheres e homens novos, livres para que em nós se manifeste a vida
em plenitude, a vida do Reino de Deus. O convite a uma transformação da
existência, a uma mudança de mentalidade, viver a graça do Evangelho, a Boa
Nova. O caminho da vida e não da morte, o caminho da conversão, da
frutificação. No tempo da quaresma, quando meditamos fraternidade e ecologia
integral, a conversão ecológica.”
Ele lembrou que “o
assassinato de alguns judeus no templo por Pilatos e a queda de uma torre perto
da piscina de Siloé, é o início do ensinamento de Jesus neste terceiro domingo
da quaresma. Jesus a dizer que aqueles que morreram nestes desastres não eram
piores do que os que sobreviveram. Afasta o ensinamento de que a pessoa atingida
por alguma desgraça, era consequência por pecado grave cometido. O justo, a
pessoa justa, estava livre morte violenta.”
“Após cada uma das
mencionadas circunstâncias de morte, Jesus a ensinar”, disse o cardeal, citando
o texto evangélico: “se vós não vos converterdes, ireis morrer todos do
mesmo modo”.
Segundo ele, “nos leva compreender que todos estamos necessitados de conversão,
de mudança de vida. Sim, ‘se não vos arrependerdes perecereis todos do mesmo
modo’. Perecer, não chegar à plenitude da vida, à realização plena, permanecer
no caminho que conduz à morte. Jesus a convidar redirecionar os nossos passos
no caminho da salvação. A mudança de vida, a conversão que conduz à existência
maturada e plenificada. Permanecer no caminho do descuido, conduz à morte.”
“Diante de tantas situações dramáticas que atingem o ser humano, somos convidados a uma maior vigilância sobre nós mesmos. Meditarmos, confrontarmos a nossa condição humana que um dia chegará ao fim, mas que, naturalmente, busca a plenitude. Sondar, descobrir a nossa fragilidade, despertar-nos e voltar para Aquele que concede sentido à nossa própria fragilidade e infertilidade. Não se trata de procurar culpas, pecados, mas de abrir todo o nosso ser à graça da cruz e da ressurreição de Jesus. Ele a nos indicar o caminho da conversão como uma vida aberta, liberta, pascoal. Ele a suscitar em nós o desejo da vida, não a morte. Deseja a frutificação não a esterilidade”, afirmou o arcebispo de Manaus.
“Tão como o Evangelho
nos ensinar como pode acontecer a mudança de vida, a conversão”, disse o
cardeal Steiner. Citando o texto: “Disse ao vinhateiro: Já faz três
anos que venho procurando figos nesta figueira e nada encontro. Corta-a! Por
que está ela inutilizando a terra? Ele, porém, respondeu: Senhor, deixa a
figueira ainda este ano. Vou cavar em volta dela e colocar adubo. Pode ser que
venha a dar fruto. Se não der, então tu a cortarás”, ele deduz que “somos
gerados, destinados a frutificar, a dar frutos! Uma vida frutífera, cheia de
frutos! A esterilidade de uma vida, conduz à morte.”
Uma realidade que o leva a dizer que “a conversão como percepção de que a fraqueza pode transformar-se em frutos quando houver cuidado, disponibilidade, receptividade à vida que tem sua fonte na cruz e ressurreição.” Ele lembrou as palavras de Santo Agostinho falando da fraqueza como tristeza e que a tristeza pode tornar-se motivo de alegria: “Por isso, diz o Apóstolo: quem mais me dará alegria se não aquele que por mim é entristecido? E em outra passagem: a tristeza que é segundo Deus produz um arrependimento salutar incapaz de voltar atrás. A pessoa que se entristece segundo Deus se entristece dos seus pecados com a penitência, por causa da tristeza causada da própria culpa que produz a justificação. Então te arrependes de ser o que és, para ser o que ainda não és.” (Santo Agostinho, Sermão 254, 2-3)
“Quaresma
a pedir conversão, cavar e adubar nossos dias com a esmola, o jejum e a oração,
para frutificar, superar a inutilidade de viver. Quaresma tempo de floração,
despertação dos frutos que podem surgir da cruz e da ressurreição do Senhor.
Quaresma tempo de graça e maturação na fé. Tempo para sondar a dimensão da dor
e do sofrimento, da própria morte, como caminho de vida nova, com frutos
abundantes. Quaresma convite à conversão, a mudar mentalidade, de tal modo que
a vida encontre a sua verdade e beleza mais em dar que possuir, mais em semear
o bem e partilhar que o acumular. Esse tempo pleno de graça quando deixamos
fecundar e transformar a nossa fraqueza em vida pascal”, destacou o arcebispo
de Manaus.
Ele recordou o ensinamento de São João Crisóstomo: “Cristo deixou-nos na terra a fim de que nos tornássemos faróis que iluminam, doutores que ensinam; a fim de que cumpríssemos o nosso dever de fermento; a fim de que nos comportássemos como anjos, como anunciadores entre os homens; a fim de que fôssemos adultos entre os menores, homens espirituais entre os carnais a fim de os ganharmos; a fim de que fôssemos semente e déssemos frutos numerosos. Nem sequer seria necessário expor a doutrina, se a nossa vida fosse irradiante a esse ponto; não seria necessário recorrer às palavras, se as nossas obras dessem um tal testemunho. Não haveria mais nenhum pagão, se nos comportássemos como verdadeiros cristãos” (Sermão 10, in 1Tm.). Isso porque “uma vida fecunda, frutuosa, cheia de frutos; graciosa a espargir bondade e semear o bem. Aqueles frutos que nascem da graça e do amor da cruz e da ressurreição.”
O
cardeal recordou que a Campanha da Fraternidade, ‘Deus viu que tudo era muito
bom’, “nos envia para a conversão ecológica, na busca de uma fraternidade
também com as criaturas. A ecologia integral ensina que a casa em que habitamos
não pode ser compreendida de maneira fragmentada, compartimentada. Ela nos
indica o caminho da contemplação para uma relação de cuidado e de cultivo. A
Ecologia integral indica essa relação de cuidado e cultivo que Deus propôs ao
criar o mundo. Recebemos o que é tudo bom, para entrarmos numa relação que
cuide da Casa Comum.”
Nessa
perspectiva, ele disse que “mas, o meio ambiente vem sofrendo progressivamente
com a redução das áreas geográficas, tanto pelos desmatamentos e queimadas,
como pela expansão em grande escala do modelo de agricultura e pecuária
predatórias. O número de espécies de animais e plantas vulneráveis e ameaçadas
de extinção cresce a cada ano, mesmo com os aletas das ciências, a mobilização
da sociedade e os clamores contínuos de Papa Francisco”, inspirado no Texto
Base da Campanha da Fraternidade 2025.
Assim,
“durante a Quaresma, somos chamados a responder ao dom de Deus, acolhendo a sua
Palavra “viva e eficaz” (Heb 4,12). A escuta assídua da Palavra de Deus
faz maturar uma pronta docilidade à sua ação (cf. Tg 1,19.21), que
torna fecunda a nossa vida. E se isto já é motivo para nos alegrarmos, maior
motivo ainda nos vem da chamada para sermos “cooperadores de Deus”
(1Cor 3,9), aproveitando o tempo presente (cf. Ef 5,16) para
semearmos, também nós, praticando o bem. Semear o bem deve ser, não como um
peso, mas como uma graça pela qual o Deus nos quer ativamente unidos à sua
fecunda magnanimidade” que contemplamos na natureza, disse citando as palavras
de Papa Francisco na quaresma de 2022.
Isso
porque “Conversão, frutos! Conversão é fonte de vida, pois nos devolve a Deus,
que deseja a vida e não morte. O homem é
como a figueira plantada no meio de uma vinha: pode ser que, durante anos, não
dê fruto, mas Deus, como bom vinhateiro, paciente e cuidadosamente cuida de
cada um de nós, esperando figos saborosos. Jesus não apela somente à conversão,
mas propõe o caminho do amor como modo de frutificação, vencendo a
esterilidade. Deus é solicito e amoroso, deseja a plenitude, a vida plena!”
Finalmente, ele rezou com a Oração da Campanha
da Fraternidade 2025:
“Ó Deus, nosso Pai, ao contemplar
o trabalho de tuas mãos, viste que tudo era muito bom! O nosso pecado,
porém, feriu a beleza de tua obra, e hoje experimentamos suas consequências. Por Jesus, teu
Filho e nosso irmão, humildemente te pedimos: dá-nos,
nesta Quaresma, a graça do sincero arrependimento e da conversão de nossas
atitudes. Que o teu Espírito Santo reacenda em nós a consciência
da missão que de ti recebemos: cultivar e guardar a Criação, no
cuidado e no respeito à vida.Faz de nós, ó Deus, promotores da
solidariedade e da justiça. Enquanto peregrinos, habitamos e construímos
nossa Casa Comum, na esperança de um dia sermos acolhidos na Casa que
preparaste para nós no Céu. Amém!”
Nenhum comentário:
Postar um comentário