domingo, 2 de março de 2025

Cardeal Steiner: “Ser como o mestre! Ser como Jesus que vive no cuidado de todos, especialmente dos mais necessitados”


Na homilia do oitavo domingo do Tempo Comum, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner iniciou lembrando que “o Evangelho de hoje continua o sermão da planície que iniciamos a dois domingos em nossa liturgia dominical. Quantos direcionamentos, quantas elucidações, quantas direções, quantas iluminações, quantas implicações, quantos horizontes nos sugere o Evangelho oitavo domingo do tempo comum! Quantas dinâmicas a nos oferecer e desafiar! Ficamos admirados com o caminho que Jesus nos oferece neste na liturgia deste domingo.”

Citando texto: “Um discípulo não é maior que o mestre; todo discípulo bem formado será como o mestre”, ele disse que “Jesus nosso mestre e Senhor e nele somos todos discípulos, discípulas! Somos seguidores e seguidoras de Jesus, somos seus discípulos missionários e discípulas missionárias, e, por isso, suas testemunhas. Ele o verdadeiro e único mestre que recebemos, a quem ouvimos, seguimos e anunciamos. Não nos tornamos mestres para os outros. Com Ele mestre, caminhamos juntos, nos ensinamos mutuamente, apreendendo uns com os outros. Ele, caminho, verdade e vida! Só Ele o nosso caminho, a nossa verdade e a razão do viver. Ele a nos ensinar, guiar, transformar, conduzir, despertar para a razão de nosso viver, amar! Ele a guiar, a conduzir, a frutificar.”

Seguindo com o texto: “Todo discípulo bem formado será como o mestre!”, ele fez um chamado a Ser como o mestre! Ser como Jesus que vive no cuidado de todos, especialmente dos mais necessitados no corpo e no espírito. Ele caminhando ao encontro dos enfermos, dos sem olhos, sem língua, manchados no corpo e na alma, excluídos da sociedade e da religião. O mestre da vida e da salvação! Mestre que desperta para a vida, a intimidade, os amores; desperta para o outro, nos conduz pelas sendas da paz. Desperta em nós a esperança que não decepciona. Como nos ensina Papa Francisco: “a partir da intimidade de cada coração, o amor cria vínculos e amplia a existência, quando arranca a pessoa de si mesma para o outro. Feitos para o amor, existe em cada um de nós uma espécie de lei de êxtase: sair de si mesmo para encontrar nos outros um acrescimento do ser. Por isso, o homem deve conseguir um dia partir de si mesmo, deixar de procurar apoio em si mesmo, deixar-se levar”, citando Fratelli tutti 88.

Atraídos, iniciados e guiados por Jesus, nos desviamos de caminhos difíceis, dos abismos existenciais, das violências, das mortes. Ele a nos guiar, somos salvos, redimidos, percorremos veredas verdejantes, mesmo no deserto, pois bem guiados pelos olhos que Jesus nos concede com o dom de sua vida”, enfatizou o arcebispo de Manaus.



Sengo ele, “A quem não é dado ver, não despertado para ver da alma, pode levar a outra pessoa para o abismo, seguir caminhos indesejados. Os olhos impedidos do sensorial veem com outra sensibilidade que vê veredas, obstáculos, belezas, grandezas, desvios, encantos. O sentido do ver passa por outros sentidos que possibilitam ver o invisível. O ver invisível que conduz para paisagem sempre mais livres, admiráveis, encantadoras, pois despertados pela graça da fé que faz ver sem ver.”

“A cegueira no Evangelho proclamado a nos falar do caminho a percorrer. Mas também de quem está na disponibilidade de ajudar no caminhar”, disse o cardeal, que lembrou as palavras de Papa Francisco no Angelus de 3 de março de 2019: Com a pergunta: “Um cego pode guiar outro cego?” (Lc 6,39), nos indicar sabedoria para conduzir pelos caminhos da salvação, da misericórdia, da esperança, caso contrário corre-se o risco de causar danos às pessoas que a Ele se confiam. Jesus a nos dizer da responsabilidade da nossa presença na vida dos irmãos e irmãs, dos filhos: os pastores de almas, as autoridades públicas, os legisladores, os mestres, os pais. Somos todos alertados do papel delicado de despertar vidas e ajudá-las no caminho da maturação e a discernir sempre o caminho certo pelo qual conduzir as pessoas, nos diz Papa Francisco.

O presidente do Regional Norte 1 da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil refletiu sobre “como ir ao encontro do próximo, como participar do ministério do seu ensinar”, lembrando a pergunta do texto evangélico: “Por que vês tu o cisco no olho do teu irmão, e não percebes a trave que há no teu próprio olho?” Segundo ele, “ver é mais que ver com os olhos. Ver é uma abertura própria do humano que possibilita abrir mundos e perceber realidades, belezas, encantos, mas também as decadências, as deficiências, as restruturações do viver e conviver. Essa possibilidade humana que nos leva a percepção da vida verdadeira, da comunhão com Deus, da vida em santidade. Um ver que pode ter sua opacidade, o ver que distorce a verdade, as virtudes, o bem-querer. No Evangelho vem denominado de trave, isto é um empecilho significativo, impeditivo. O que impede inclusive de libertar os olhos de ciscos que em determinadas ocasiões fazem lagrimejar e impedir de ver a beleza e a grandeza. É pouco, mas ofusca no lagrimejar; um incomodo. Mas os olhos que foram limpos e, com Ele a nos guiar, até vemos sem ver; olhos de salvíficos, de benditos. Com ele sempre vermos, mesmo sem a retina dos olhos.”

Ele lembrou que “Santo Agostinho, nos ajuda na meditação do Evangelho diante da ensinar de Jesus: ‘Irmão, deixa-me tirar o cisco que tens no olho’. Primeiro, diz ele, afasta o ódio para longe de ti; poderás então corrigir aquele a quem amas. E Ele chama ‘hipócrita’ com justiça, porque censurar os vícios deve ser uma atitude própria de homens justos e bondosos; quando tivermos de censurar ou corrigir, façamos com escrupulosa preocupação esta pergunta a nós próprios: e eu, nunca cometi este erro? E fiquei curado? Mesmo que nunca o tenhamos cometido, recordemos que somos humanos e que podíamos tê-lo cometido. Se, por outro lado, o tivermos cometido, recordemos a nossa fragilidade, para que seja a benevolência, e não o ódio, a ditar-nos a reprovação ou a censura. Um homem peca por cólera, e tu vais repreendê-lo com ódio. Ora, entre a cólera e o ódio vai a mesma distância que separa a trave do cisco. Pode acontecer que te encolerizes quando pretendias corrigir, mas não deves nunca te deixar levar pelo ódio. Afasta primeiro o ódio para longe de ti, e poderás depois corrigir aquele que amas.”



Talvez retirar a trave do meu olho esteja a dizer da necessidade de sair do ver de mim mesmo, a partir de mim. Um ver impeditivo, opaco, catarático, a impedir de ver transparece o ser que o outro é. Tirar a trave, deixar-se toma pelo olhar de Jesus que concede transparência e limpidez, pureza e nitidez, pois retira a nossa catarata, a opacidade de nosso cristalino. Isso porque “o ser humano está feito de tal maneira que não se realiza, não se desenvolve, nem pode encontrar a sua plenitude a não ser no sincero dom de si mesmo aos outros. E não chega a reconhecer completamente a sua própria verdade, senão no encontro com os outros: Só comunico realmente comigo mesmo, na medida em que comunico com o outro. Isso explica por que ninguém pode experimentar o valor de viver, sem rostos concretos a quem amar”, disse o cardeal, inspirado em Fratelli tutti 87.

Em palavras do arcebispo de Manaus, “no seguimento de Jesus, como discípulos e discípulas vamos despertando para uma grandeza de que ‘toda árvore é reconhecida pelos seus frutos’, ‘não existe árvore boa que dê frutos ruins’. Nos lembra o ensinar de Jesus; ‘Eu sou a videira, e vós sois os ramos. Aquele que permanece em mim, e como eu nele, esse dará muito fruto’ (Jo 15, 5). Frutos saborosos e abundantes. O vemos e memoramos em tantos irmãos e irmãs de deixaram alimentar por Jesus e sua palavra que transformados e vivificados, os veneramos como santos e santas. Em Jesus e a Ele como Mestre, somos nascidos, gerados para frutificar e dar frutos bons e abundantes. Bons e abundantes de bondade, de misericórdia, de mansidão, de consolo, cordialidade. Frutos bons que alimentam, fortificam e enaltecem o próximo. Recebendo a vida da vida que é Jesus, daremos frutos bons e deliciosos.”

O cardeal Steiner ressaltou que “sempre mais embebidos da vida que é Jesus, cresce em nós uma pérola, um tesouro. Nossa vida torna-se um tesouro; é tomada pela esperança que não decepciona.  Se aconchega em nosso coração um tesouro admirável, pois ‘o homem bom tira coisas boas do tesouro de seu coração’. Mas também as palavras que saem de nossa boca são nascidas da bondade de que o nosso coração está cheio. Se cumprirá o que nos diz São Paulo na segunda leitura de hoje: ‘meus amados irmãos sede firmes e inabaláveis, empenhando-vos cada vez mais na obra do Senhor’, na vida do Evangelho, recebendo desse tesouro a esperança e o amor.”

Finalmente, o arcebispo lembro que “na quarta-feira próxima iniciamos a quaresma com a imposição das cinzas sobre a nossas cabeças. Na quaresma que estamos por iniciar, desejamos caminhar juntos na esperança e evidenciar os apelos à conversão que a misericórdia de Deus dirige a todos nós, enquanto indivíduos e comunidades, como nos pede Papa Francisco para o tempo da quaresma. Com Jesus mestre do amor, faremos a nossa peregrinação quaresmal na disponibilidade de sermos iluminados pela beleza salvífica da cruz e ressurreição”, pedindo que “nos deixarmos atrair por Jesus. Nossa vida será plena, cheia de frutos.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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