domingo, 9 de março de 2025

Cardeal Steiner: “A tentação pode ser motivo de amadurecer na fé, aprofundar o desejo da missão”


Recordando que “Quarta-feira passada, com o rito penitencial das cinzas, começamos nosso caminho pascal”, iniciou sua homilia do Primeiro Domingo da Quaresma o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner. Ele explicou que “o caminho pascal se caracteriza pela quaresma, tempo de conversão pelos exercícios da oração, do jejum e da esmola.”

No primeiro domingo da quaresma, o cardeal lembrou que “a Palavra de Deus a nos indicar como vivermos frutuosamente os quarenta dias que precedem a celebração da Páscoa. É o caminho percorrido por Jesus, que antes de começar o anúncio do Reino de Deus. Jesus voltou do Jordão cheio do Espírito Santo, que repousara sobre Ele e tendo ouvido que Ele era o Filho amado, foi guiado ao deserto.  É o mesmo Espírito que o conduz ao deserto, onde no jejum e prece de quarenta dias é tentado. Ali, Ele enfrenta, luta, contra o diabo.”


Segundo o arcebispo de Manaus, “deserto o lugar da surpresa, da intimidade, que leva, conduz! O conduz, para a solidão, para o silêncio, para o inóspito, para o confronto da aridez, para o caminho da secura e do desverdor, para o estar a sós com o Mistério; lugar para medir-se e deixar-se medir, tomar, pela presença de Deus. O deserto não só é o lugar da solidão e da desolação, da experiência de ser posto à prova, da tentação, no confronto com o mal, do nada negativo e do destrutivo, mas, também o lugar do encontro solitário, limpo, único com Deus; o lugar do aprendizado de sofrer Deus”.





Continuando sua reflexão, o cardeal Steiner disse que “o deserto é o lugar onde Deus fala ao coração do homem, e onde brota a resposta da oração. Na solidão, o coração desapegado das coisas e sozinho, nesta solidão, se abre à Palavra de Deus. Mas é também o lugar da provação e da tentação. No deserto, na solidão, no estar a sós com o todo, Jesus recebe a visita do diabo; Ele é tentado. O inimigo, o adversário, tenta a Jesus, desejando arrancá-lo da missão de anunciar o Reino da verdade e da graça. O espírito mau, o inimigo do homem, tenta a Jesus para levá-lo para longe dos planos do Pai. Deseja frustrar os planos de Deus, desviá-lo da harmonia originária da vida.”


Ele recordou que “o Evangelho indicava como em cada tentação Jesus vai, com a Palavra de Deus, aclarando a sua missão: diante da tentação de transformar a pedra em pão e saciar a fome responde: ‘A Escritura diz: Não só de pão vive o homem’; diante da tentação do poder e da glória responde; ‘A Escritura diz: Adorarás o Senhor teu Deus, e só a ele servirás’; diante da tentação de exigir o cuidado de Deus no precipitar-se da morte, responde: ‘A Escritura diz: não tentarás o Senhor teu Deus’. Na fragilidade e necessidades humanas, o diabo insinua a sua voz mentirosa, alternativa à de Deus, uma voz alternativa que mostra outro caminho, um caminho de engano. Jesus na força do Espírito, guiado pela Palavra, após as tentações anuncia o Reino do consolo, do serviço, da vontade do Pai.”


O arcebispo de Manaus enfatizou que “Jesus foi tentado, nós somos tentados. Como compreender a tentação?” Ele respondeu com as palavras de Orígenes, que no século II afirmava: “Para algo a tentação serve”. Nesse sentido, disse que “para Jesus foi um medir-se com a Palavra de Deus e ser confirmado na missão de Reino. Para nós a tentação pode ser motivo de amadurecer na fé, aprofundar o desejo da missão”. Ele citou Santo Agostinho, que nos ensina no Comentário aos Salmos que “nossa vida é uma peregrinação. E, como tal, cheia de tentações. Porém, nossa maturidade se forja nas tentações. Ninguém conhece a si mesmo se não é tentado; nem pode ser coroado se não vence, se não luta”, e junto com isso, nos ensina também: “Se rejeitas a tentação, rejeitas também o crescimento. Coloca-te nas mãos do Artífice, sem restrições. Ele te corrige, te lustra e te limpa. Para isso, serve-se de vários instrumentos: são as tentações do mundo. Não fujas das mãos do Artífice e não temas: Deus permite as tentações, não para te arruinar, mas para fazer-te mais forte”.





Ao meditarmos as nossas tentações, segundo o cardeal Steiner, “vamos percebendo onde se encontram as nossas fraquezas e, por isso, a Palavra nos pode orientar, e nos afastar do mal. A tentação nos oportuniza conhecer as nossas próprias limitações e fraquezas, mas ao mesmo tempo, nos oferece a oportunidade de caminharmos segundo a vida do Evangelho. Os desafios postos no nos podem levar a grandes percepções que geram a libertação e integração da nossa condição humana.” 


“A tentação pode levar ao pecado, mas pode levar à graça de despertar sempre mais para vida graciosa com Deus, no seguimento do Evangelho. A tentação pode nos abrir sempre mais para o horizonte de uma vida bendita, santa. É uma luta!”, disse, recordando com Santo Agostinho que “Ninguém vence sem lutar. Por isso não pedimos a Deus que nos livre das tentações, mas que nos preserve do mal”. Segundo ele, “no Pai nosso somos sempre suplicantes: não nos deixeis cair em tentação, mas livra-nos do mal!” 


Nesta Quaresma, o arcebispo de Manaus fez um convite para que “deixemos que o Espírito Santo também nos exorte a entrar no deserto. Não se trata de um lugar físico, mas de uma dimensão existencial permanecendo em silêncio para escutar a Palavra de Deus, para progredirmos no conhecimento do mistério de Cristo e corresponder-lhe por uma vida santa”, recordando a Oração Coleta do 1º Domingo da Quaresma do Ano B. É por isso que “não tenhamos medo do deserto, procuremos mais momentos de oração, de silêncio, para entrarmos em nós mesmos. Não receemos. Somos chamados a caminhar pelas veredas de Deus, renovando as promessas do nosso batismo: renunciar a Satanás, a todas as suas obras e a todas as suas seduções”, disse, inspirado nas palavras de Papa Francisco, no Angelus de 21 de fevereiro de 2021.

Igualmente, o cardeal Steiner recordou que “iniciamos a reflexão, meditação e oração da Campanha da Fraternidade neste tempo quaresmal: ‘Fraternidade e Ecologia Integral’, tendo como lema ‘Deus viu que tudo era muito bom’ (Gn 1,31)”. Ele lembrou que “a realidade a ser refletida, discutida e rezada, nesta quaresma é a Ecologia integral. A integralidade da obra criada que desperta para a fraternidade. Uma fraternidade que seja universal, pois Deus viu que tudo era bom! Na desarmonia e tensão, o “viu que tudo era bom”, indica o caminho da conversão pela reflexão e oração.”



“A crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior. Vivermos a vocação de guardiões da obra de Deus não é algo de opcional nem um aspecto secundário da experiência cristã, mas parte essencial duma existência segundo o Evangelho (LS, 217). A Ecologia Integral pede uma conversão ecológica que, por um lado é individual e por outro comunitária. As exigências do cuidado com a obra criada são tão grandes, que as possibilidades das iniciativas individuais e a cooperação dos particulares, formados de maneira individualista, não são capazes de dar uma resposta adequada. É necessária uma união de forças e uma unidade de contribuições. A conversão ecológica que requer um dinamismo de mudança duradoura, é também uma conversão comunitária”, disse inspirado em Romano Guardini. 

“Preparando-nos para as celebrações fundamentais de nossa vida de seguidoras e seguidores de Jesus, vamos nos reunir nas famílias, em grupos, nas comunidades para refletir, rezar a Campanha da Fraternidade”, pediu o arcebispo. Diante disso, “talvez também nós cheguemos à admiração: ‘Deus viu que tudo era muito bom’ (Gn 1,31). Percorrendo o caminho quaresmal, a morte e ressurreição de Jesus iluminará a vida das nossas comunidades, das nossas famílias.”

Segundo o cardeal Steiner, “a vida nova, a conversão, nos conduz por caminhos novos: o da Fraternidade, pois alimenta a esperança de um tempo e mundo novo. Tempo da paz, da justiça, da abundância, da felicidade, da fraternidade, o tempo do ‘reinado de Deus’. Somos no primeiro domingo da quaresma levados pelo Espírito ao deserto e ali aprendermos a graça da pertença ao Reino da vida, da verdade e do amor e da graça. Deserto é abertura, disponibilidade, escuta, talvez a quaresma nos desperte para superarmos as tentações da destruição da nossa Casa Comum e voltarmos contemplar: Deus viu que tudo era muito bom!”


Finalmente, ele recordou que “o Espírito levou Jesus para o deserto, para o lugar do encontro, lhe concedeu discernimento, lucidez, purificação. O Espírito que levou Jesus ao deserto, o guiou, iluminou, falou ao coração, e o devolve cheio de força e vigor para anunciar o novo Reino. Concedeu-lhe o vigor, a essencialidade para realizar o plano do Pai”, pedindo que “façamos o nosso peregrinar de conversão, guiados pelo Espírito e anunciar o reino de Deus, a vida nova.”




Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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