quarta-feira, 5 de março de 2025

Cardeal Steiner: “Uma conversão não é aparência, mas transforma, revigora, matura a nosso existir”


No início da quaresma, o arcebispo de Manaus, cardeal Leonardo Ulrich Steiner, disse em sua homilia na Antífona da missa das Cinzas somos lembrados: “Ó Deus, vós tendes compaixão de todos e não rejeitais nada que criastes”. Na invocação da benção das cinzas rezaremos: Ó Deus, que não quereis a morte do pecador, mas a sua conversão, escutai com bondade as nossas preces e dignai-vos abençoar estas cinzas que vamos colocar sobre as nossas cabeças... consigamos, pela observância da Quaresma, obter o perdão dos pecados e viver uma vida nova, à semelhança do vosso Filho ressuscitado” (Benção das cinzas).

Segundo ele, estamos diante de “um caminho que a Igreja nos propõe da confiança, e por isso, da conversão: sermos transformados pela cruz e ressurreição de Jesus”, ressaltando que “Papa Francisco na sua Mensagem para a quaresma, chama o caminho da esperança.” O arcebispo de Manaus recordou que “como seguidores e seguidoras de Jesus percorrermos juntos os passos da conversão, alimentados e fortificados pela vida nova que nos é oferecido por Jesus Crucificado e ressuscitado. Juntos, como comunidade como família percorrermos as sendas da conversão, da mudança de vida, atraídos pela esperança que nos atrai e não decepciona.”

É tempo de voltarmos para Deus como nos ensinava a primeira leitura: ‘Voltai para mim com todo o vosso coração, com jejuns, lágrimas e gemidos. Voltai para o Senhor, vosso Deus; ele é benigno e compassivo, paciente e cheio de misericórdia inclinado a perdoar o castigo’ (cf. Joel 2,12-13). Percebermos a bondade, a compassividade e a misericórdia de Deus. Converter-nos, tocados pela compaixão e a misericórdia de Deus. Como que encantados pelo cuidado compassivo e a dedicação misericordiosa de Deus, nos voltarmos para ele de todo o coração. Conversão: nos voltarmos para o Deus de nossos pais”, afirmou o cardeal Steiner.



Na segunda leitura, ele destacou que “nos lembrava que podemos experimentar o momento favorável, o dia da salvação (cf. 2Cor 6,2). O caminho quaresmal como possibilidade de sermos sempre tomados pela salvação; nos sentirmos salvos e libertos, porque sempre mais seguidores, seguidoras de Jesus que deu sua vida por nós.”

“Uma conversão que toque a profundeza de nossa alma, transforme nosso coração, abra o horizonte da presença de Deus. Uma conversão não é aparência, mas transforma, revigora, matura a nosso existir. Os exercícios quaresmais da esmola, da oração e do jejum que nos são indicados podem, segundo o Evangelho, permanecer na aparência, sem despertar para uma vida nova, uma profundidade da fé, da experiência do Evangelho”, enfatizou. Ele lembrou que “na proclamação, por três vezes escutávamos: ‘O teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa’. Ao dar a esmola, ao jejuar, ao rezar, Jesus pede que o façamos na simplicidade, sem ostentação, de coração sincero e puro. Talvez, esteja a indicar a transparência do jejuar, do rezar e dar a esmola, isto é, sem interesses, na gratuidade. Jesus a nos dizer que a esmola, o jejum, a oração, não são trocas, nem mesmo para sermos melhores, apenas disposição e disponibilidade para a ação de Deus. “O teu Pai, que vê o que está escondido, te dará a recompensa”. Tudo na singeleza de quem se dispõe à graça da Cruz e ressurreição. Sim, queridos irmãos e irmãs, tudo na gratuidade, na admiração de quem se coloca a caminho para ser atingido pela ação amorosa redentora de Jesus.”

O arcebispo de Manaus recordou que “hoje cedo abrimos a Campanha da Fraternidade com uma caminhada. Ao celebrarmos 10 anos da Encíclica Laudato Sì e os 800 anos do Cântico das Criaturas, a Igreja no Brasil retoma como realidade a ser meditada e rezada no tempo da quaresma a Ecologia. ‘Fraternidade e Ecologia Integral’, guiados pelo texto do Gênesis: ‘Deus viu que tudo era muito bom’.” Nessa perspectiva, ele sublinhou que “Papa Francisco de modo insistente chama a atenção de toda a humanidade para a urgência de uma necessária mudança de atitude em nossas relações com o meio ambiente, recordando que a atual ‘crise ecológica é um apelo a uma profunda conversão interior’ (cf. Laudato Sì, 217). Conversão interior que é também uma conversão ecológica, para sermos sempre mais fiéis ao Evangelho”, citando as palavras de Papa Francisco na mensagem para a Campanha da Fraternidade de 22025:  “Que todos nós possamos, com o especial auxílio da graça de Deus neste tempo jubilar, mudar nossas convicções e práticas para deixar que a natureza descanse das nossas explorações gananciosas”, e afirmando que “somos convocados ao cuidado da Casa Comum.”



O cardeal Steiner refletiu sobre as práticas quaresmais, recordando que “na abertura da quaresma o Evangelho nos indicava o jejum, a esmola e a oração o jejum, para uma verdadeira conversão. No caminho quaresmal ajudados pela Ecologia Integral, somos convidados ao jejum para superar a lógica do consumismo sem ética, sem sentido social e ambiental. Esse modo de esvaziamento para deixar evidente o significado de cada criatura e por isso, da ecologia integral.”

O arcebispo destacou “o exercício da esmola, como partilha, como crescimento da vida em fraternidade. Nos pertencemos! No pertencimento o cuidado com todos os seres. Esmola que é cuidado para com o outro, mas também com as outras criaturas, com o mundo que nos rodeia. Darmos o cuidado e o cultivo para que a nossa mãe terra não seja destruída, e acabemos destruindo a Casa Comum. A esmola do cuidado, possa suscitar a fraternidade com a criação inteira para vivermos de maneira harmoniosa, integral.”

Ele refletiu sobre “a oração: contemplação! Contemplar as criaturas, reconhecendo os laços com que o Pai nos uniu a todos os seres. Deixar brotar um Cântico onde ressoe a fraternidade: irmão sol, irmã luz, irmãs água, terra mãe! Como lembra a Carta aos romanos: oferecer a Deus um sacrifício vivo, santo e agradável (12,1).”

Voltando em sua reflexão aos exercícios quaresmais, o cardeal Steiner disse que “talvez, nos exercícios quaresmais do jejum, da esmola e da oração, como caminho de conversão, possa brotar a gratidão e gratuidade. Gratidão e gratuidade que nascem do reconhecimento de que Deus criou o mundo, inscrevendo nele uma ordem e um dinamismo que o ser humano não tem o direito de ignorar. Gratidão porque cada uma das criaturas reflete algo de Deus e tem uma mensagem para transmitir. Com sua morte e ressurreição Jesus Cristo assumiu em si mesmo este mundo material. Ressuscitado, habita no íntimo de cada ser, envolvendo-o com o seu carinho e penetrando-o com a sua luz (cf. LS, 221). A gratidão e a gratuidade, levam à conversão interior, à conversão ecológica.”



Na Mensagem para o tempo da Quaresma de Papa Francisco, o arcebispo ressaltou que “nos indicou o a comunidade, o Reino de Deus como lugar da conversão. Nesta Quaresma, escreveu, Deus nos pede que verifiquemos se nas nossas vidas e famílias, nos locais onde trabalhamos, nas comunidades paroquiais ou religiosas, somos capazes de caminhar com os outros, de ouvir, de vencer a tentação de nos entrincheirarmos na nossa autorreferencialidade e de olharmos apenas para as nossas próprias necessidades. Perguntemo-nos diante do Senhor se somos capazes de trabalhar juntos ao serviço do Reino de Deus, como bispos, sacerdotes, pessoas consagradas e leigos; se, com gestos concretos, temos uma atitude acolhedora em relação àqueles que se aproximam de nós e a quantos se encontram distantes; se fazemos com que as pessoas se sintam parte da comunidade ou se as mantemos à margem.”

A quaresma nos oferece a graça de aprofundarmos a nossa fé em Jesus Cristo Crucificado-ressuscitado, que se fez plenitude do Reino de Deus em nossa humanidade. É tempo de graça, benção, transformação, de mudança de vida. É caminho que nos concede o dom de darmos a razão da fé e da esperança (cf. 1Pd 3,15). As razões da fé e da esperança que, no tempo da quaresma deste ano, passam pela conversão à ecologia integral”, enfatizou o arcebispo de Manaus.

Finalmente, o arcebispo citou as palavras de Papa Francisco para a Campanha da Fraternidade de 2025: “desejo que esse itinerário quaresmal dê muitos frutos e nos encha a todos de Esperança, da qual somos peregrinos neste Jubileu. Faço votos que a Campanha da Fraternidade seja novamente um poderoso auxílio para as pessoas e comunidades desse amado País no seu processo de conversão ao Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo e de compromisso concreto com a Ecologia Integral. Confiando estes votos aos cuidados de Nossa Senhora Aparecida, concedo de bom grado a Bênção Apostólica a todos os filhos e filhas da querida nação brasileira, de modo especial àqueles que se empenham no cuidado com a Casa Comum, pedindo que continuem a rezar por mim.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

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