domingo, 23 de março de 2025

Dom Edson Damian: "Ou mudamos nossos hábitos destrutivos na relação com a nossa casa comum, ou provocaremos um colapso planetário sem retorno”


Durante a Quaresma, a Comissão para Ecologia Integral e Mineração da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), uma das promotoras da Campanha da Fraternidade 2025, oferece a todos os irmãos e irmãs de caminhada na fé um itinerário espiritual a partir da reflexão do Evangelho do domingo.

No terceiro domingo a reflexão foi por conta de dom Edson Damian, bispo emérito da diocese de São Gabriel da Cachoeira e membro da Comissão Especial para a Ecologia Integral e Mineração da CNBB. Ele iniciou sua fala lembrando que “Jesus nos conta a parábola da figueira estéril. A figueira estéril simboliza o povo de Deus da primeira aliança, principalmente as autoridades, que não acolheram a boa nova de Jesus. Apesar de não oferecer frutos de conversão, a figueira recebe mais uma oportunidade. Deus tem paciência, insiste, mas é preciso mudar, converter-se, antes que seja tarde. Mais tarde, tarde demais.”

O bispo atualizou “este convite à conversão dentro do tema da Campanha da Fraternidade deste ano, dedicada à ecologia integral, ao cuidado de nossa casa comum, que está sofrendo inúmeras agressões que colocam em risco a nossa própria sobrevivência.” Segundo ele, “o modelo capitalista, baseado na exploração insaciável dos recursos naturais, na queima de combustíveis, o consumo de combustíveis fósseis, como os derivados do petróleo, a expansão desenfreada do consumo, está gerando uma série de problemas ambientais: a degradação do solo, a destruição das florestas, os incêndios criminosos, o extrativismo predatório, a escassez da água, a extinção de muitas espécies e as mudanças climáticas.”



Dom Edson Damian sublinhou que “estamos assistindo a cada dia eventos climáticos extremos. Ondas de calor, enchentes e furacões estão se tornando mais frequentes e destrutivos, ceifando vidas, provocando migrações forçadas e empurrando milhões de pessoas para a pobreza.” O bispo emérito de São Gabriel da Cachoeira recordou que “o Papa Francisco, desde 2015, com a encíclica Laudato Si´, sobre o cuidado da casa comum e, em 2023, com a exortação Laudate Deum, afirma, que não estamos reagindo de forma satisfatória diante dos efeitos climáticos. O mundo que nos acolhe está se desfazendo e quase nos aproximando de um ponto de ruptura, isto é, sem volta.”

Portanto, ressaltou o bispo, “estamos num momento decisivo para nós e para o nosso planeta. Ou mudamos nossos hábitos destrutivos na relação com a nossa casa comum, ou provocaremos um colapso planetário sem retorno. Já estamos experimentando seu prenúncio nas grandes catástrofes que assolam o nosso planeta, em todas as regiões. E não existe planeta de reserva, só temos este. E embora a Terra sobreviva sem nós, nós não viveremos sem ela.” Ele insiste em que “ainda é tempo, mas o tempo é agora. Mais tarde, tarde demais.”

“Nessa conversão ecológica, passar da lógica extrativista e predatória, que contempla a terra como um reservatório inesgotável de recursos, para uma lógica do cuidado, através da proteção das florestas e dos rios, combatendo os incêndios, o uso abusivo de venenos e agrotóxicos, o consumismo insaciável”, é o chamado de dom Edson Damian. Diante disso, ele disse que “precisamos aprender a viver com sobriedade, lutando pela justa distribuição dos frutos da terra, para que os bens essenciais à nossa sobrevivência e os alimentos cheguem às mãos de todos e de todas. Vivendo assim, estaremos colaborando com nosso bondoso Pai Criador, que ao contemplar esse planeta tão grande e tão bonito, viu que tudo era muito bom.”



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte 1

2 comentários:

  1. Reflexão muito profunda de Dom Edson, trazendo a riqueza de sua experiência concreta na Amazônia como bispo da diocese de São Gabriel da Cachoeira. Obrigada por sua partilha.

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  2. Parabéns Dom Edson. Que bom ouvir de quem tem tanta vivência e experiência prática uma exortação tão contemporânea e correta. A natureza está, sim, à disposição da humanidade mas,está precisa aprender a usá-la de forma não predatória e si de forma a melhorar sua produtividade. E isto é possível, mesmo sem o uso de tantos pesticidas e se esgotar os recursos existentes.
    Grande abraço.

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