Diácono Francisco Andrade de Lima
Secretário Executivo do Regional Norte 1 da CNBB
Quando analisamos a realidade, tudo parece estar perdido, nada faz sentido, os desafios, as dificuldades parecem nos vencer, a impressão que dá é que estamos literalmente no “fundo do poço”. Os grandes meios de comunicação divulgam notícias de morte, violências de todo tipo: contra migrantes, mulheres, jovens, crianças, idosos... a Amazônia literalmente ardendo em chamas, estamos vivendo uma guerra? No seio da Igreja tudo, não é diferente, cada vez mais difícil encontrar consensos, o Papa lança documentos, encíclicas, convoca a Igreja para Sínodos: família, juventude, Amazônia, mas ainda assim muitas divisões, críticas, disputas... será que estamos prestes a um cisma, uma divisão? A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil segue a mesma direção do Papa, lança documentos: Iniciação a Vida Cristã, Ministros da Palavra, Diretrizes para a Ação Evangelizadora... Junto com outras organizações, realizou a assembleia do Povo de Deus, anualmente propõe reflexões através de campanhas: Fraternidade, Missionária, Evangelização, mas ainda assim, parece que estamos sem rumo. O que está acontecendo com o mundo? Com a Igreja? Com as lideranças?
Quando olhamos ao nosso redor, começamos a ver que não, não estamos tão perdidos assim, mesmo com as más notícias veiculadas nos grandes meios de comunicação, com toda esta conjuntura que nos cerca, encontramos sinais de esperança, de resistência. Muitas ações pelo mundo a favor da vida, lideranças religiosas colocando suas vidas a serviço da vida ainda que sejam martirizadas, presas; pastorais, organismos movimentos, lutam e defendem a vida. Com todos os desafios e críticas, os Sínodos da Juventude e da Família aconteceram, muitos frutos estão sendo colhidos.
O processo do Sínodo para a Amazônia aos poucos vai sendo entendido, e vamos vivendo e fazendo um caminho sinodal, um caminhar juntos. A CNBB com suas novas Diretrizes para a Ação Evangelizadora, traz a preocupação com a evangelização do mundo urbano, sem esquecer as comunidades do mundo rural, todos rumo a uma Igreja cada vez mais missionária, acolhedora e em saída.
Mas quando saímos deste ambiente mais acadêmico, midiático, de organização das instâncias maiores, e adentramos lá onde a vida acontece, nas comunidades, aí vamos encontrar concretamente estes sinais de esperança sonhados nos documentos, nas grandes instâncias, às vezes sem ao menos saber da existência destas reflexões. No mês de julho fiz a experiência de participar de um encontro das Comunidades da Prelazia de Tefé, na Paróquia de São José, Município de Jutaí, com mais de 1000 pessoas envolvidas, muitos jovens presentes e protagonizando aquele encontro, ali pude testemunhar a sinodalidade da Igreja: Bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, missionários, missionárias, leigos e leigas todos juntos, fazendo a experiência de uma Igreja circular que caminha junto.
A Prelazia de Borba, ainda no mês de julho reúne 300 jovens em um Congresso na cidade de Novo Aripuanã, um sinal de que estas Comunidades não estão acabando, tem continuidade. No final do mês de julho novamente os jovens protagonizam um grande encontro na Prelazia de Itacoatiara, vindos das dioceses e prelazias: Manaus, Alto Solimões, São Gabriel da Cachoeira, Roraima, Parintins, Coari, Borba, Tefé, Itacoatiara, refletindo a vida e a missão nesta região. A Pastoral Familiar do Regional se reuniu na Diocese de Coari, a luz do Sínodo para a Amazônia, fizeram uma reflexão da missão e dos desafios das famílias nesta grande região. A Cáritas de todos os Regionais da Amazônia se reúnem em Boa Vista na Diocese de Roraima, para refletir a missão e seus desafios, levando em conta toda esta realidade dos Migrantes, sobretudo, Venezuelanos nesta região.
Seguindo estes sinais, testemunhei uma outra atividade importante na Região, o II Congresso das Comunidades Cristãs da Diocese de Cametá, celebrando 50 anos de caminhada, bispos, padres, diáconos, religiosos, religiosas, seminaristas, leigos e leigas, participando, mas de 1000 mil pessoas envolvidas. Encerrando o mês de agosto os Bispos e representantes dos Regionais da Amazônia Legal, se reuniram em Belém, para aprofundar o Instrumentum Laboris do Sínodo Para a Amazônia, sempre na busca de novos caminhos. Estes são apenas alguns dos sinais de esperanças que pude vivenciar e testemunhar, mas muitos outros aconteceram neste mesmo período.
Desde os primeiros tempos, Jesus insiste que é importante não estar sozinhos, seu grande ensinamento foi o amor a outra pessoa, formou a comunidade dos apóstolos, dos discípulos e discípulas, foram perseverantes, viveram a fé, podemos encontrar todos estes sinais e ensinamentos da Palavra de Deus, nos tempos atuais. Esta história continuou e está presente nos nossos dias. Muitas comunidades, com muitos nomes: cristãs, eclesiais de base, missionárias... com tantas inspirações, espiritualidades, mas todas buscando o mesmo objetivo: caminhar, testemunhar, partilhar, se encontrar, comprometer-se.
Portanto, não podemos nos desanimar diante de tão grandes desafios que parecem nos esmagar, nos apagar, neutralizar, procuremos nos alegrar, nos animar, com estes pequenos sinais de esperança que vamos encontrando ao longo do caminho, sejamos como Maria, que “guardava tudo em seu coração”, mas que quando começar a faltar o vinho, estejamos decididos quanto ela e digamos, “façam o que ele vos disser”. E ainda, precisamos ser como as mulheres que chegaram ao Túmulo e ao entrarem e encontraram vazio, “saíram e anunciaram”. Anunciemos estas pequenas, mas boas notícias, assim vamos alimentando a esperança e transformando a realidade sempre a partir de perto de nós, assim como a Boa Notícia de Jesus, que começa com um pequeno grupo de pastores e chega até nós hoje.
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