sexta-feira, 10 de junho de 2022

Documento de Santarém 2022: “Fazer nossos os sonhos do Papa Francisco”


Gratidão e profecia são as atitudes que norteiam o Documento do IV Encontro da Igreja católica na Amazônia Legal (Ver aqui), realizado no Seminário São Pio X de Santarém de 6 a 9 de junho de 2022, fazendo memória do acontecido no mesmo local 50 anos atrás, que proporcionou “frutos de fecundidade profética na evangelização junto aos povos desta imensa Amazônia”.

Um caminho que foi atualizado na Igreja local, mas que também inspirou “a Igreja de Francisco”. 50 anos depois, os participantes do Encontro de Santarém 2022 ratificaram as diretrizes e prioridades assumidas há 50 anos, atualizando-as à luz do recente Sínodo da Amazônia, reafirmando a importância das duas grandes diretrizes de 1972: encarnação na realidade e evangelização libertadora.

Encarnação da realidade “que exige da Igreja um total entrosamento com a realidade”, enculturação e interculturalidade, que nos diz o Sínodo para a Amazônia. Evangelização libertadora, que faz com que “a Igreja esteja implicada em tudo aquilo que atinge a dignidade e a liberdade da pessoa humana e da família”.



Com a Querida Amazônia, que busca “uma relação de cuidado diante das ameaças sempre crescentes”, o Documento adverte sobre os erros dos últimos 50 anos, desafiando à Igreja “a promover uma trégua diante destas agressões e proporcionar uma pacificação nos territórios”. Uma Igreja com rostos amazónicos, com uma identidade eclesial construída ao longo do tempo e concretizada nos sonhos nascidos da Querida Amazônia, que desenha uma Igreja Discípula Missionária e sinodal (sonho eclesial); Igreja servidora, profética e defensora da vida (sonho social); Igreja testemunha do diálogo (sonho cultural); Igreja irmã e cuidadora da criação (sonho ecológico); Igreja de mártires.

Como aconteceu em 1972, o Documento de 2022 propõe novos caminho de evangelização, linhas prioritárias, querendo com elas levar a cumprimento as propostas delineadas e fazer nossos os sonhos do Papa Francisco”. A primeira linha prioritária é o fortalecimento das comunidades eclesiais de base, salientando a ministerialidade (ordenação presbiteral dos diáconos permanentes, leigos testemunhas qualificadas do matrimonio, envolvimento dos presbíteros que deixaram o ministério, implementar o ministério do catequista, ministério para o cuidado da Casa Comum) e a participação das mulheres (garantir sua dignidade e igualdade e viabilizar sua ordenação diaconal).

Em relação com a formação dos discípulos missionários na Amazônia, o Documento insiste em sua integralidade e na articulação do laicato, buscando “fortalecer e ampliar os espaços de participação do laicato”. Uma formação que em relação com os presbíteros deve ser instrumento para superar “a emergência de um clericalismo que destoa da identidade de nossas Igrejas”, sendo refletido o papel dos Institutos de Pastoral e da educação.



Seguindo o Documento de 1972, a defesa dos povos da Amazônia continua sendo prioritária, insistindo na demarcação dos territórios, na consulta prévia, livre e informada, na atenção aos Povos Indígenas Isolados e de Recente Contato, no reconhecimento aos direitos da natureza, na proteção das lideranças ameaçadas. Também aparece no texto a necessária atenção à questão da migração, mineração e megaprojetos, insistindo em que “não podemos persistir no modelo de desenvolvimento atual”, um modelo etnocida e ecocida. Diante disso, aparecem propostas alternativas para cada uma das realidades.

O Documento aborda a questão da evangelização das juventudes, de diferentes rostos e realidades, para quem “a Igreja é chamada a ser uma presença profética” de proximidade, acompanhamento e apoio. Também são abordados caminhos de partilha, dado que “a sustentação das ações de evangelização na Amazônia sempre excede a capacidade dos recursos das pobres Igrejas Particulares na Amazônia”. Junto com isso, a comunicação, dizendo querer “promover uma cultura comunicativa que favoreça o diálogo, a cultura do encontro e o cuidado da Casa Comum”.

Tudo isso é colocado sob a intercessão de “Maria, Mãe de Jesus, nossa Mãe, Mãe da Amazônia”, pedindo “que este IV Encontro da Igreja Católica na Amazônia venha a produzir muitos frutos, tornando-nos cada vez mais uma Igreja com rosto amazônico, em saída missionária, servidora, solidária, cuidadora da vida e defensora da natureza, nossa casa comum”.



Luis Miguel Modino, assessor de comunicação CNBB Norte1

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